Capítulo três

Uma semana inteira havia passado desde aquela conversa com Claire. Sete dias em que mergulhei no trabalho como um náufrago que se agarra a qualquer pedaço de madeira para não afundar. Reuniões intermináveis, contratos para revisar, negociações que poderiam ter esperado mas que eu fiz questão de acelerar. Eu tentava preencher cada minuto, cada segundo, com qualquer coisa que não me lembrasse dela. Ainda assim, nas madrugadas em silêncio, quando a cidade dormia e os corredores do meu apartamento se tornavam longos demais, o vazio sempre me alcançava. Naquela sexta-feira, depois de uma semana que parecia ter durado um mês inteiro, eu decidi que não suportava a ideia de voltar direto para casa. O apartamento estava limpo, impecável, mas frio como uma vitrine. Eu precisava de algo diferente, algo que, por uma noite, me arrancasse desse ciclo sufocante.

Acabei indo até um bar discreto em West Village, o mesmo onde já tinha estado algumas vezes com Ethan, mas que agora parecia mais um refúgio do que um ponto de encontro. Era pequeno, iluminado por lâmpadas amareladas que criavam uma atmosfera quase intimista, com música baixa o suficiente para não atrapalhar a conversa. Não era o tipo de lugar onde os holofotes sociais me encontrariam, e talvez fosse justamente por isso que eu gostava dali. Sentei-me no balcão, pedindo um uísque. O bartender tradicional não estava em seu lugar, surgiu uma figura nova. Foi então que a vi pela primeira vez.

Ela surgiu como se o ambiente inteiro tivesse mudado de ritmo. Loira, alta, com uma postura natural que chamava atenção sem esforço. Não usava maquiagem, mas cada traço de seu rosto parecia mais expressivo exatamente por isso. Havia algo de genuíno nela, algo cru, real, que contrastava com a artificialidade que eu estava acostumado a ver em tantas mulheres que orbitavam o meu mundo.

— Boa noite — ela disse, com um sorriso que não parecia ensaiado. A voz era clara, firme, carregada de uma simpatia simples. — Primeira vez por aqui?

Demorei um instante para responder, distraído pela forma como a luz incidia sobre o cabelo dela, criando reflexos dourados.

— Já estive algumas vezes. Mas não lembro de ter visto você antes.

— É porque não estava — respondeu, rindo de leve. — Comecei essa semana. Me chamo Eleonor.

O nome parecia ecoar de um jeito diferente dentro de mim, como se tivesse peso, como se fosse feito para ser lembrado. Eleonor.

— Christopher — falei, estendendo a mão de forma quase automática. Ela a apertou com naturalidade, sem a formalidade excessiva que eu costumava encontrar no meu mundo. Era apenas um aperto de mão firme, confiante, verdadeiro.

Enquanto ela preparava meu drink, percebi que não conseguia desviar os olhos. Não havia nada exagerado nela, nenhuma tentativa de impressionar. O cabelo loiro estava preso de forma simples, algumas mechas soltas caindo sobre os ombros. O uniforme do bar não tinha nada de especial, mas nela parecia ganhar forma, moldando-se à elegância natural de cada movimento. Quando colocou o copo à minha frente, inclinou-se um pouco e disse:

— Espero que seja do jeito que gosta.

— Se for metade tão bom quanto o sorriso que você tem, já está perfeito — respondi, antes mesmo de pensar.

Ela riu, surpresa, e balançou a cabeça. — Isso foi uma cantada ou um elogio sincero?

— Talvez os dois — admiti, bebendo um gole e sentindo o sabor do uísque se misturar ao calor que já me invadia por motivos bem diferentes.

A cada vez que ela voltava para o balcão, conversava comigo de maneira leve, sem rodeios. Perguntava sobre o que eu fazia, sobre como tinha sido minha semana, e eu, pela primeira vez em muito tempo, não me senti observado ou julgado. Era como se estivesse diante de alguém que não queria nada além de compartilhar o momento. E, no entanto, havia algo nela que ia além da simpatia. Uma espécie de encantamento silencioso que me fazia esquecer onde estava, esquecer Helena, esquecer a raiva e a dor. Eu a observava rir com outros clientes, anotar pedidos, movimentar-se com naturalidade, e era como se todo o bar girasse em torno dela sem que ela percebesse.

Eu, Christopher Hayes, que nunca acreditei em impulsos, que sempre desprezei a ideia de destino, sentia como se estivesse sendo enfeitiçado. Naquela noite, pela primeira vez desde que Helena saiu da minha vida, eu percebi que talvez o acaso não fosse apenas um inimigo cruel. Talvez, só talvez, fosse também um mensageiro de algo novo. E esse algo novo tinha nome, sorriso encantador e olhos que, mesmo sem maquiagem, eram os mais bonitos que eu já tinha visto. O copo de uísque na minha mão parecia mais forte do que o normal, mas não importava. Cada gole me deixava mais desperto, não menos. Eleonor voltava ao balcão com uma eficiência natural, recolhendo pedidos e servindo outros clientes, mas eu não conseguia desviar os olhos. Cada movimento dela tinha uma cadência própria, quase hipnótica, e eu percebia que não era apenas a beleza que me atraía — era a forma como ela se movia pelo espaço, leve e segura, sem qualquer esforço para impressionar ninguém. Ela era elegante sem saber, graciosa sem pensar, e isso me deixava inquieto de uma maneira que eu não sentia há anos.

— Quer mais um drink? — perguntou ela, enquanto limpava o balcão com um pano limpo.

— Sim, por favor — respondi, entregando-lhe algumas notas com mãos que de repente pareciam mais nervosas do que deveriam.

Enquanto ela se abaixava para pegar uma garrafa no armário inferior, o aroma dela me atingiu de maneira quase física. Um perfume sutil, algo natural, que não precisava de exageros para se fazer notar. Eu inspirei de leve, como se pudesse guardar aquele instante em algum lugar dentro de mim. Era impossível não notar como até os gestos mais simples — um abaixar de cabeça, o cabelo caindo sobre o ombro, o esticar de um braço — carregavam uma sensualidade natural, que não precisava de intenção para existir. Quando voltou a se endireitar, colocando o copo à minha frente, encontrei-me sorrindo sem perceber. Não havia flerte, não havia joguetes de conquista, apenas uma sensação nova e estranhamente confortável. Eu gostava da companhia dela, do ritmo leve da conversa, da forma como me fazia sentir que eu podia simplesmente existir ali sem máscaras ou defesas.

— Obrigado — murmurei, segurando o copo. — Você tem um talento natural para isso. Tornar tudo mais fácil.

Ela sorriu, inclinando-se um pouco, o cabelo soltando-se sobre os ombros.

— Fácil? Espero que não seja só comigo. — O tom era casual, mas havia algo no olhar dela que me fez acreditar que ela falava sério.

— Não, não é só com você — respondi, mais para mim do que para ela. Mas não pude evitar que um traço de admiração escapasse na minha voz. — É que… conversar com você parece simples. Não forçado, sem pressa, sem expectativa.

Ela riu baixo, um som genuíno que fez meu peito apertar de forma inesperada.

— Bom. Eu gosto de simplicidade. A vida já é complicada demais lá fora.

E foi assim que tudo começou. Sem flertes, sem tentativas de sedução, apenas a presença dela preenchendo o espaço vazio que eu carregava há dias. Eu percebia cada gesto, cada inclinar de cabeça, cada sorriso discreto, e me sentia atraído por uma beleza que não precisava de esforços. Era real, natural, envolvente. A cada minuto que passava, eu me encontrava mais interessado não pelo que ela poderia oferecer, mas simplesmente por quem ela era. A companhia dela era calmante, quase terapêutica, e me fazia esquecer Helena, minha raiva, minha frustração. Eu simplesmente queria continuar ali, perto, sem pressa, sentindo o tempo desacelerar ao lado de alguém que parecia existir no mesmo ritmo que eu nunca tinha experimentado.

Por horas, conversamos sobre assuntos banais: a música que tocava no bar, clientes engraçados, histórias curtas do bairro. Cada palavra dela parecia cuidadosamente natural, cada risada uma melodia suave que preenchia o silêncio sem esforço. E eu, Christopher Hayes, acostumado a controlar tudo ao meu redor, percebi que não tinha nenhum controle sobre aquilo. Não queria ter. Enquanto o bar lentamente esvaziava, senti que havia algo diferente naquela noite. Algo que não se explicava apenas pelo uísque ou pelo ambiente. Era algo nela — Eleonor — que começava a deixar uma marca em mim, uma presença que se insinuava sem pressa, quase sem ser notada, mas impossível de ignorar.

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Stela Bergo

Stela Bergo

iniciando 09/25
Gostando até aqui. 🌷

2025-09-09

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