5 As primeiras impressões e silêncio

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Acordei cedo naquele dia. O coração acelerava como se fosse o primeiro plantão da minha vida. Não era. Eu já havia vivido madrugadas em claro, cirurgias intermináveis, momentos de desespero e esperança. Mas aquele dia tinha outro peso. Era o meu recomeço em Portugal.

Escolhi a roupa com cuidado. Um vestido azul-claro, justo, de tecido macio que acompanhava minhas curvas sem exagero, com uma fenda discreta entre as pernas. O cinto bege acentuava a cintura, enquanto os saltos nude, com detalhe prateado, completavam a elegância. Os cachos negros caíam soltos pelas costas, meio presos no topo, e a maquiagem era suave, apenas o suficiente para iluminar o rosto. Não precisava mais do que isso.

Minha sala estava organizada, mas a terceira gaveta insistia em emperrar. Abaixei-me para tentar forçar o trilho quando ouvi um assobio prolongado, seguido de um pigarro. Meu corpo inteiro gelou por um instante.

Ao me virar, encontrei o contraste perfeito: o negro mais charmoso e o loiro mais enigmático que já vi juntos.

Pietro abriu um sorriso malicioso:

– Fiu fiu... esse bumbum seria perfeito para a propaganda que estou procurando.

Ri, balançando a cabeça.

– Seu besta! Pode tirar o cavalo da chuva.

Ele se aproximou sem pedir licença, me envolvendo num abraço demorado, quase possessivo, murmurando ao meu ouvido:

– Só sinto que você vai ter que trabalhar ao lado desse chato.

Atrás dele, Edgar pigarreou alto.

– Parem com esse cochicho. Não sabem que é falta de ética?

Pietro se virou de pronto, rindo:

– Ética? Você, Edgar? Logo você que... come suas enfermeiras?

Ri mais alto, mesmo tentando conter. Edgar permaneceu sério, os olhos azuis faiscando.

– Bom, afinal – disse eu, afastando-me de Pietro – o que vocês dois querem logo cedo na minha sala?

Pietro levantou as mãos em rendição:

– Vim convidar seu bumbum para a próxima propaganda.

Edgar rebateu seco, como quem cuspia palavras:

– Você não tem uma reunião agora?

– Tenho, sim – respondeu Pietro, piscando para mim – mas ainda preciso abraçar a Diana mais uma vez.

Ele me envolveu novamente, teatral, enquanto Edgar observava sem disfarçar o incômodo.

Naquele instante, percebi algo que não queria admitir. A raiva de Edgar não era apenas birra. Pietro sabia disso. Eu também.

E esse seria apenas o começo.

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A sala oval estava cheia de pastas, relatórios e gráficos projetados no telão. Era minha primeira reunião oficial na clínica, e eu me sentia observada a cada gesto, cada palavra. Sentei-me ao lado de Edmundo, enquanto os demais diretores iam chegando.

De repente, Pietro entrou como quem ilumina o ambiente. O sorriso largo, o terno impecável, aquele ar de charme natural que sempre o acompanhava. Sentou-se perto de mim, ignorando os lugares vagos.

– Vou precisar da sua visão para o próximo projeto de imagem da clínica, Diana – disse, olhando-me nos olhos. – Quero você por perto.

Eu ri, meio sem jeito:

– Pietro, ainda nem comecei direito e já está me colocando em pauta?

– Não é pauta, é destino – respondeu, com um tom que arrancou risadas discretas de alguns presentes.

Do outro lado da mesa, Edgar permaneceu em silêncio. Não havia expressão no rosto, apenas os olhos azuis fixos em nós dois, como lâminas afiadas.

– Você ainda tem uma hora livre antes do próximo compromisso – continuou Pietro, abrindo a agenda. – Pode vir comigo à sala de marketing. Vai adorar conhecer os projetos.

Eu hesitei. Parte de mim queria manter distância das brincadeiras dele. Outra parte sentia que, de certa forma, precisava respirar fora daquelas paredes pesadas.

– Tudo bem – disse por fim. – Mas só porque ainda tenho tempo.

Edmundo sorriu satisfeito, como se já esperasse a resposta. Pietro inclinou-se na cadeira, quase encostando o ombro no meu.

– Vai ser ótimo. Assim você já vai ficando mais perto da gente.

Edgar não disse uma palavra. Não precisava. Seu silêncio era um barulho que ecoava dentro da sala. Eu sabia que ele estava desconfortável. Pietro também sabia. Talvez fosse exatamente isso que ele queria.

Porque Pietro não era apenas o diretor de marketing. Ele era irmão de Paulo, advogado que hoje estava com Maria, a primeira esposa de Edgar. Era amigo da família há anos. Um homem fascinante, mulherengo, que já tinha tropeçado com minha amiga Joice — mas que me tratava com intimidade, como se houvesse entre nós uma ligação antiga, segura.

E, mais do que tudo, Pietro era o único que sabia ler Edgar apenas pelo olhar. Ele conhecia seus segredos, seus limites, suas obsessões. Sabia até das sombras que o amigo escondia atrás da frieza.

Mais de uma vez, Pietro havia me confessado em tom brincalhão:

– Eu até abriria mão de algumas paixões, Diana. Mas de você? De você eu já abri, porque sei que se um dia eu investir, vou perder um amigo rabugento,que eu amo muito .

Eu não entendia. Não queria entender. Mas naquela reunião, enquanto Pietro me puxava para a conversa e Edgar se mantinha em silêncio gélido, percebi que a minha presença não era apenas um detalhe. Era o estopim de uma guerra que eles jamais admitiriam em voz alta.

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Pietro Vegas  

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Decapitator

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Começou com o pé direito! 😍

2025-09-06

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Capítulos
1 1 Fragmentos de uma infância e os dias atuais
2 2 O peso do Jaleco e ruptura do luto
3 3 O convite e a chegada
4 4 A primeira reunião e seus fantasmas
5 5 As primeiras impressões e silêncio
6 6 O primeiro plantão e o chefe
7 7 O eco e o pai
8 7 O irmãozinho
9 9 O refúgio
10 10 O confronto
11 11 Confissões
12 12 Perfume e Música
13 13 A ficha caindo
14 14 Era o Passado batendo a porta
15 15 Abismo
16 16 Beijo e Consequência
17 17 A casa de praia
18 18 O Guardião furioso
19 19 O segredo
20 20 O café da manhã
21 21 O Limite
22 22 O entardecer
23 23 A dança
24 24 Depois da música
25 25 Os segredos da madrugada
26 26 O Passeio de barco
27 27 A Ilha
28 28 Confissões na pedra
29 29 O retorno
30 30 A primeira vez
31 31 Aquela noie
32 32 Duas Memórias, Um Silêncio
33 33 Ele mudou
34 34 O Adeus e o Abismo
35 35 Da Liberdade ao Eixo
36 36 O Confronto
37 37 O beijo interrompido
38 38 O Rival Silêncioso
39 39 A Festa e os Olhares
40 40 A Voz da Razão
41 41 A pontada
42 42 Peter Pan e Wendy
43 43 A varanda e as Taças
44 44 Os Prisioneiros das Fadas
45 45 O Caminho de volta
46 46 Nada de planos previsíveis
47 47 Confissões de Café
48 48 O Convite Irrecusável
49 49 O Banho
50 50 O nome Proibido
51 51 Sem Máscaras
52 52 Preguiça e confissões
53 53 Pentear Tempestades
54 54 Festa Cancelada
55 55 O desfile das fantasias
56 56 O jogo da Pedrita
57 57 A dança da Tempestade
58 58
59 59
60 60
61 61 Dia de Feijoada
62 62 O Amarelo virou perseguição
63 63 O inferno ganha cor
64 64 Bem na Paz
65 65 Um Arsenal Tentandor
66 66 A saída à Francesa
67 67 Fome Contida
68 68 O despertar do cárcere
69 69 A senha
70 70 Dengosa e obediente
71 71 Bolo e café, chuva la fora
72 72 A chave Virada
73 73 A noite da porta vermelha
74 74 O silêncio dele não foi por mim
75 75 A fissura
76 76 Entre a jaula e o abismo
77 77 O Estranho no caminho
78 78 O café
79 79 O Banquete inteiro
80 80 Sem escapatória
Capítulos

Atualizado até capítulo 80

1
1 Fragmentos de uma infância e os dias atuais
2
2 O peso do Jaleco e ruptura do luto
3
3 O convite e a chegada
4
4 A primeira reunião e seus fantasmas
5
5 As primeiras impressões e silêncio
6
6 O primeiro plantão e o chefe
7
7 O eco e o pai
8
7 O irmãozinho
9
9 O refúgio
10
10 O confronto
11
11 Confissões
12
12 Perfume e Música
13
13 A ficha caindo
14
14 Era o Passado batendo a porta
15
15 Abismo
16
16 Beijo e Consequência
17
17 A casa de praia
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18 O Guardião furioso
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19 O segredo
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20 O café da manhã
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21 O Limite
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22 O entardecer
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23 A dança
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24 Depois da música
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25 Os segredos da madrugada
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26 O Passeio de barco
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27 A Ilha
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28 Confissões na pedra
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29 O retorno
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30 A primeira vez
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31 Aquela noie
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32 Duas Memórias, Um Silêncio
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33 Ele mudou
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34 O Adeus e o Abismo
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35 Da Liberdade ao Eixo
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36 O Confronto
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37 O beijo interrompido
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38 O Rival Silêncioso
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39 A Festa e os Olhares
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40 A Voz da Razão
41
41 A pontada
42
42 Peter Pan e Wendy
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44 Os Prisioneiros das Fadas
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45 O Caminho de volta
46
46 Nada de planos previsíveis
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47 Confissões de Café
48
48 O Convite Irrecusável
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49 O Banho
50
50 O nome Proibido
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51 Sem Máscaras
52
52 Preguiça e confissões
53
53 Pentear Tempestades
54
54 Festa Cancelada
55
55 O desfile das fantasias
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56 O jogo da Pedrita
57
57 A dança da Tempestade
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61 Dia de Feijoada
62
62 O Amarelo virou perseguição
63
63 O inferno ganha cor
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64 Bem na Paz
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65 Um Arsenal Tentandor
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66 A saída à Francesa
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67 Fome Contida
68
68 O despertar do cárcere
69
69 A senha
70
70 Dengosa e obediente
71
71 Bolo e café, chuva la fora
72
72 A chave Virada
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73 A noite da porta vermelha
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74 O silêncio dele não foi por mim
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75 A fissura
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