Capítulo 4

^^^Sim, eu acredito^^^

^^^Que um dia eu vou estar, onde eu estava^^^

^^^Bem ali, bem ao seu lado^^^

^^^E é difícil, os dias parecem tão escuros^^^

^^^A lua, as estrelas, não são nada sem você^^^

^^^Seu toque, sua pele, por onde eu começo?^^^

^^^Nenhuma palavra pode explicar^^^

^^^Amaneira que eu estou sentindo sua falta^^^

^^^(Lay me down - Sam Smith) ^^^

...Paola Marini ...

A cicatriz da perda.

Depois do almoço, todos foram para casa, e assim que a noite caiu, eu me sentei no jardim ao lado de Hugo. A brisa era suave, e o céu estava pontilhado de estrelas, criando um cenário perfeito. Ainda assim, o peso da incerteza pairava sobre nós como uma nuvem sombria.

Hugo quebrou o silêncio com uma lembrança que trouxe um sorriso melancólico ao seu rosto.

- Quando eu era menino, meu avô faleceu - começou, com os olhos fixos no céu estrelado. - Minha mãe dizia que ele era a estrela mais brilhante do céu. Sempre que eu quisesse me sentir próximo dele, bastava olhar para cima.

Sorri levemente, tentando afastar o medo crescente.

- Todos os pais dizem isso para as crianças. Depois que crescemos, não faz tanto sentido, não é?

Hugo desviou o olhar do céu e fixou os olhos em mim, com uma profundidade que me fez tremer por dentro.

- Será que não? Mesmo adulto, sempre que me sentia inseguro ou triste, olhava para a estrela mais brilhante e conversava com meu 'avô'.

Ele levantou a mão e apontou para uma estrela específica.

- Aquela ali é o meu avô.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, contemplando a estrela cintilante. Eu sabia onde Hugo queria chegar com aquela conversa, mas preferi não dar muita atenção. Olhei para ele com seriedade, mas ele apenas sorriu.

- Você vai ficar bem, eu sei - declarei, tentando me convencer tanto quanto a ele.

- Paola, sempre que sentir minha falta, estarei lá - disse Hugo, sua voz suave, mas firme. - Posso não estar fisicamente, mas estarei te guiando, onde quer que você vá.

Fechei os olhos por um instante, tentando afastar a dor que suas palavras traziam.

- Hugo, por favor, não fale isso - implorei.

Ele apenas sorriu e segurou minha mão com delicadeza.

- Eu te amo tanto, Paola. Você foi tudo que sempre sonhei, sabia?

Seu polegar acariciava minha pele com ternura. O silêncio entre nós estava cheio de tudo o que não precisávamos dizer. Ficamos assim por um tempo, até que o celular dele tocou, quebrando o momento. Hugo sorriu para mim antes de atender, e aproveitei para me levantar e ir até a cozinha.

Tomei um copo d'água e um banho rápido, tentando lavar o medo que me consumia. Quando voltei para o quarto, Hugo já estava dormindo. Beijei seus lábios suavemente, me ajeitei em seus braços e fiz uma oração silenciosa, pedindo a Deus para não levá-lo de mim. Dei mais um beijo em sua testa e finalmente peguei no sono.

°°°

Os dias passaram rapidamente, e logo chegou o dia da cirurgia de Hugo. Passamos a noite no hospital, pois o médico queria prepará-lo melhor. Eu estava sentada na poltrona ao lado da cama, observando cada detalhe do rosto do meu marido, tentando gravar tudo na memória.

- Paola, precisamos conversar - disse Hugo, sério. Eu sabia que essa conversa era inevitável, mas mesmo assim, tentei fugir dela.

- Não precisamos falar disso, Hugo. Você vai ficar bem - insisti, segurando seu rosto e beijando seus lábios. - Vai ficar tudo bem.

Mas ele não cedeu.

- Por favor, Paola, me escuta.

Suspirei profundamente, finalmente cedendo. Ele segurou minhas mãos com firmeza e começou, com a voz carregada de emoção:

- Eu te amo muito, e você sabe disso. Não sei o que vai acontecer quando eu entrar no centro cirúrgico, mas quero que saiba que você foi a melhor coisa que me aconteceu. Você me trouxe felicidade, e esses quatro anos ao seu lado foram os melhores da minha vida.

As palavras dele rasgavam meu coração. Eu queria gritar, parar aquela conversa, mas sabia que ele precisava dizer aquilo.

- Quero te agradecer por me amar e me proporcionar tantas coisas boas. Mas, acima de tudo, Paola, preciso que você seja feliz novamente. Se encontrar outra pessoa, não se prenda às memórias do passado. Vá e seja feliz. Sua felicidade é o que mais importa para mim.

As lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto, e Hugo continuava, firme:

- Quando eu partir, prometa que não vai desistir. Seja a mulher forte que sempre foi, viva intensamente, viaje, sorria. Você sempre foi a mais forte das Marini. Todos os dias ao seu lado foram uma bênção, e não há nada que eu mudaria. Se eu morrer, saiba que morrerei feliz por ter passado meus melhores dias com você.

Seus lábios tocaram meu rosto. Tentei enxugar as lágrimas, mas era inútil. O nó na garganta estava apertado demais para falar. Só consegui balançar a cabeça, sem saber como lidar com aquilo.

°°°

Naquela semana, antes da cirurgia, nos amamos como se fosse a última vez. E foi.

Numa manhã de terça-feira, recebi a notícia que cortou meu peito como uma lâmina afiada. Meu mundo desabou, e não havia mais lágrimas em meus olhos. Minha voz se perdeu, e eu tentava desesperadamente entender: por que ele me deixou? Por que se foi? Por que alguém tão bom teve que passar por isso?

Durante o funeral, o jardim, normalmente colorido de rosas, agora parecia tomado pelo preto. Cada rosto que se aproximava trazia condolências que eu mal conseguia absorver. Nunca me preparei para isso. Todos falavam que o pior era um divórcio, mas o que poderia ser pior do que ser viúva?

O que eu faço agora? Tiro a aliança? Passo a usar preto para sempre? Como continuar?

A sensação de sufocamento era avassaladora, como se eu estivesse me afogando, e a única pessoa que poderia me salvar estava morta.

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