O segredo do Quarto 2

Era sexta-feira, a noite mais quente da semana. A boate estava lotada, o cheiro de perfume caro, cigarro e álcool caro misturado no ar. Lorena já tinha feito dois shows no pole o segundo terminando com aplausos ensurdecedores quando ela desceu de cabeça para baixo, os cabelos loiros roçando no chão iluminado.

Ela desceu do palco coberta de suor brilhante e aplausos, atravessando a multidão. Foi aí que notou um movimento diferente.

Na área VIP, cercado por seguranças discretos, estava ele. O mesmo homem da noite anterior: alto, moreno, cacheado, olhar frio. Mas agora não estava sozinho — algumas pessoas bem vestidas falavam com ele, quase reverenciando.

De repente, a música ambiente foi cortada. Os refletores giraram para o palco. A boate inteira silenciou por alguns segundos.

Uma nova batida começou a ecoar, lenta, obscura, suja. A letra era explícita, decadente, falava de sexo sem pudor, drogas, noites insanas.

E todos olhavam para ele.

Lorena sentiu o coração acelerar. Aquela música era dele. Era um cantor famoso. Talvez mais do que isso.

Ela acendeu um cigarro no canto, observando, enquanto a multidão aplaudia o homem. Ele, porém, permanecia sério, como se fosse dono de todos ali — inclusive dela.

 

O chamado para o Quarto 2

— Quarto 2. Cliente especial. — o segurança disse, quase nervoso, entregando a chave para ela.

Lorena arqueou a sobrancelha.

— Quem é?

— Não sei se devo… só vai.

Ela ajeitou os cabelos, retocou o batom e caminhou pelo corredor iluminado em vermelho até o Quarto 2. Bateu devagar e entrou.

O choque veio na hora: era ele. O moreno misterioso.

Sentado no sofá de couro, camisa preta aberta no peito, pulseiras de ouro. Ele segurava uma taça de uísque como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Lorena fechou a porta com um sorriso ensaiado.

— Então você é meu cliente especial da noite?

Ele não respondeu de imediato. Apenas a olhou, como se já tivesse visto aquela cena mil vezes na cabeça.

Ela andou até ele, tirando a jaqueta, deixando a pele brilhar sob a luz vermelha. Subiu no colo dele, mãos no pescoço, pronta para começar o jogo.

Mas ele segurou os pulsos dela.

— Não quero isso.

Lorena parou, surpresa. Depois riu.

— Ah, não quer? Você acha mesmo que vai pagar uma fortuna só pra eu ficar aqui olhando pra sua cara?

Ele inclinou a cabeça, os lábios curvados em um sorriso irônico.

— Você tem coragem… gosto disso.

— Olha, gato — ela sussurrou, deslizando os dedos no peito dele —, eu não tô aqui pra brincar de conversa fiada. Ou você diz o que quer, ou eu saio.

Ele bebeu mais um gole do uísque, tranquilo.

— Eu sou Abel Tesfaye. Cantor. Ator. Talvez você já tenha ouvido falar.

Lorena arqueou a sobrancelha, rindo baixo.

— E daí? Quer que eu desmaie? Eu não ligo pra quem você seja, Abel. Aqui, todo mundo é só mais um homem com dinheiro.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Interessante. Porque foi eu quem pagou aquela quantia absurda só pra ter você.

Lorena gelou por dentro, mas não demonstrou. Apenas cruzou as pernas e tragou o cigarro, soltando a fumaça lentamente na cara dele.

— Então você pagou um milhão pra quê? Pra me olhar como se eu fosse sua propriedade?

Abel se inclinou devagar, roçando a boca perto da orelha dela.

— Pra descobrir se a Diaba Loira é tão indomável quanto dizem… ou se no fundo, toda mulher tem um ponto fraco.

O coração de Lorena bateu mais rápido, mas ela manteve o sorriso frio.

— Boa sorte tentando achar o meu.

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