O cliente fantasma

O corredor até o camarote VIP parecia mais longo que nunca. Os saltos de Lorena batiam firme contra o piso de mármore, ecoando como batidas de tambor em um campo de guerra. Os olhos verdes estavam atentos, afiados, a postura ereta como de uma rainha indo encontrar seu súdito mais generoso.

Um milhão.

Ninguém nunca havia feito isso.

Nem mesmo os homens mais ricos, políticos, empresários, jogadores de hóquei que já tinham passado pela boate ousaram tanto.

Ela respirou fundo, abriu a porta do camarote e entrou.

O espaço era amplo, decorado em couro preto e luzes vermelhas. A garrafa de champagne mais cara já estava aberta sobre a mesa. O ambiente exalava poder. Mas… estava vazio.

Lorena franziu o cenho, ajeitou os cabelos loiros, caminhou até o centro e olhou em volta.

— Alô? — a voz dela ecoou.

Nada.

Deu mais alguns passos, verificou atrás das cortinas de veludo, o banheiro privativo, o sofá. Não havia ninguém. Nem um bilhete, nem um celular esquecido, nada.

O silêncio era pesado demais.

Ela voltou até a porta e chamou uma das funcionárias.

— Tem certeza que o cliente está aqui?

A garota engoliu em seco.

— O pagamento caiu. A reserva foi feita. Mas… não vi ninguém entrar.

— Então alguém pagou um milhão para brincar de esconde-esconde comigo? — Lorena respondeu, irritada, mas sem perder a postura.

A funcionária parecia confusa.

— Quer que eu chame a segurança?

— Não. — Lorena disse firme. — Se for algum engraçadinho, não quero que pense que conseguiu me abalar.

Ela pegou a taça de champagne da mesa, tomou um gole demorado e deixou a taça ali, intacta.

— Avise que Diaba Loira não espera ninguém. Se ele quiser me encontrar, que venha até mim. —

Saiu do camarote com a mesma elegância com que entrou, como se tivesse acabado de conquistar o lugar, não de encontrar o nada. Por dentro, porém, havia algo incomodando: quem teria coragem de gastar tanto apenas para provocá-la?

De volta pra casa

Quando saiu da boate naquela madrugada, a cidade estava fria, iluminada pelos letreiros de neon. Lorena entrou em seu carro — um Audi branco, banco de couro, motor que rugia como fera. Acendeu um cigarro, ligou o som no volume baixo e seguiu pelas ruas.

O apartamento dela ficava em um arranha-céu no centro de Toronto. Cobertura, três quartos, varanda com vista para o lago. Tudo pago em dinheiro. Tudo conquistado com suor, gemidos e o fogo que vendia noite após noite.

Ao entrar, tirou os saltos, largou a bolsa Gucci na mesa e se jogou no sofá de veludo. A casa estava silenciosa, apenas o som da cidade entrando pela janela.

Luxo. Poder. Silêncio.

Lorena abriu uma garrafa de vinho francês e bebeu direto da boca. Olhou em volta: paredes brancas, quadros caros, uma TV de 70 polegadas, perfumes espalhados pelo aparador. Tudo era dela. Tudo conquistado sozinha.

Mas havia momentos em que todo aquele luxo parecia ecoar a solidão que ela carregava.

Tirou a lingerie, ficando apenas com a pele nua, e caminhou até a banheira de mármore. Encheu-a de água quente, colocou algumas pétalas de rosa e mergulhou, fechando os olhos. A água abraçou seu corpo, relaxando cada músculo.

E foi ali, sozinha, que lembrou da vida antes da Diaba Loira.

Do bebê que não sobreviveu.

Do homem que a abandonou.

Do buraco escuro que quase a engoliu.

Mas ela não chorou. Não mais. Essa fase havia acabado. Agora ela era fogo, não cinza.

A Rotina de Luxo

Quando acordou no fim da manhã, o sol entrava pela cortina de seda. Levantou-se nua, foi até a cozinha aberta e preparou um café expresso. Colocou óculos escuros, mesmo dentro de casa, e abriu o notebook para verificar a conta bancária.

Dinheiro não faltava. Os depósitos das últimas semanas eram altos, e a quantia guardada já era suficiente para nunca mais precisar trabalhar. Mas ela não parava. Não queria parar.

Depois de comer algumas frutas, Lorena passou horas cuidando de si. Academia particular no prédio, massagem, um banho demorado, cremes importados. À tarde, foi até uma boutique de luxo e comprou dois vestidos novos — só porque podia.

Os vendedores a olhavam com respeito misturado a fascínio. Todos sabiam quem era, mesmo sem dizer. A Diaba Loira não precisava se esconder.

Reflexão

De noite, sozinha no quarto enorme, Lorena deitou na cama de lençóis de seda vermelha. Abriu a janela, deixando o vento frio entrar.

Ainda pensava no camarote vazio. No um milhão depositado.

Quem faria isso?

Alguém que a queria testar?

Alguém poderoso demais para se mostrar logo de cara?

Ela passou os dedos nos lábios e sorriu de canto.

— Seja quem for… vai voltar. — murmurou para si mesma. — E quando voltar, eu vou estar pronta.

A cidade brilhava diante dela, mas Lorena brilhava mais.

Porque, no fundo, ela sabia: o jogo tinha acabado de começar.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!