A levei para minha casa ainda desmaiada.
Coloquei-a gentilmente na cama, um gesto estranho vindo de mim, e fiquei na porta, observando-a.
Podia ter ido embora. Podia tê-la deixado na floresta, entregue à febre e ao frio. Podia até ter acabado com aquilo ali mesmo, arrancado dela o último sopro de vida e encerrar esse tormento que insiste em me perseguir.
Mas não.
Eu a trouxe para cá.
Eu, que não carrego ninguém. Eu, que não salvo ninguém.
Carreguei-a nos ombros como se fosse um fardo precioso demais para soltar.
E agora ela estava ali, na minha cama, com a respiração frágil, o rosto manchado pela tempestade.
Tão vulnerável.
Tão minha.
A fera dentro de mim rosnava, inquieto. Não porque queria matá-la — mas porque queria algo pior.
Queria marcá-la.
Queria gravar nela o selo que a faria nunca mais pertencer a ninguém além de mim.
Agarrei o batente da porta com força, até ouvir a madeira ranger.
Ridículo. Eu não era assim. Nunca precisei de ninguém. Nunca quis ninguém. Sempre foi simples: caçar, dominar, vencer.
Mas com ela… nada era simples.
Fechei os olhos e inspirei fundo.
O cheiro dela estava impregnado no ar. Doce, selvagem, teimoso. Aquele mesmo aroma que me atormentava desde a primeira vez.
Eu podia passar dias apenas respirando aquilo, e ainda assim jamais me saciaria.
Dei um passo para dentro, devagar. Ela não se mexeu. Ainda fraca.
Parei ao lado da cama, olhando-a de perto.
O pescoço delicado, exposto. Uma marca invisível que só eu conseguia sentir.
Minha presa.
Meu erro.
Meu destino.
Estendi a mão, quase sem pensar, deixando os dedos pairarem a centímetros de sua pele. Bastava um toque. Bastava pressionar, sentir o calor, tomar o que sempre foi meu.
Mas retirei a mão.
O controle era uma corrente pesada, mas eu ainda a segurava.
“Não agora.”
A voz dentro da minha cabeça era um rugido baixo, da fera que dividia meu corpo.
Ela queria sair. Queria dominá-la, quebrar sua resistência, torná-la apenas mais uma fêmea marcada por um Alfa.
Mas eu não queria apenas isso.
E essa era a parte mais perigosa.
Afastei-me da cama, respirando fundo, e percebi como meu próprio quarto parecia diferente com ela ali. As paredes de pedra, antes frias e solitárias, agora carregavam o perfume dela. Até as peles sobre o colchão pareciam ter sido feitas para recebê-la, mesmo que eu nunca tivesse permitido que ninguém se deitasse nelas.
Saí do quarto antes que enlouquecesse.
A noite ainda chovia lá fora, e cada gota parecia carregar meu próprio caos. Caminhei pela casa, pelas passagens silenciosas que eram meu refúgio, e percebi que já não me pertenciam.
Ela estava aqui dentro. E, de alguma forma, já tomava tudo.
Subi até o terraço, deixando que a chuva caísse sobre mim. Fechei os olhos, a respiração pesada, e deixei o lobo vir à tona. Ossos estalando, músculos mudando, até que minhas patas tocaram a pedra molhada.
Corri pela beira do território, as sombras da floresta me observando. Eu precisava ter certeza de que ninguém ousaria se aproximar.
Porque se ousassem, morreriam.
Soltei um uivo.
Não um de vitória, não um de caça. Mas de aviso.
Ela estava sob minha guarda agora.
E que ousasse qualquer um tentar tirá-la de mim.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Duda Magno
eu tô amando ❤️
2025-09-09
0
Coelhinha
O que estão achando da história até agora?🤭 espero que esteja do agrado de vcs 🥰❤️
2025-09-08
1