A tempestade rugia sobre nós, mas nada abafava o som da respiração dele, firme, ritmada, como quem já sabia que a caça estava ganha.
Meu coração disparava dentro do peito. Eu sabia que, em forma humana, não teria chance. Fechei os olhos por um segundo e deixei o lobo em mim assumir. O estalo dos ossos, a pele se rasgando, garras surgindo no lugar dos dedos. Quando voltei a respirar, já corria de quatro, a lama respingando sob minhas patas, o vento cortando meu rosto.
Corri como nunca havia corrido.
Desviei de troncos, saltei sobre raízes, mergulhei entre os arbustos encharcados. A chuva batia contra meu corpo, mas o frio já não importava. Só queria distância dele.
Mas não adiantava.
O som atrás de mim se mantinha constante, cada vez mais próximo. Ele não corria como alguém que perseguia às cegas. Corria como quem já tinha certeza de que a caça não escaparia.
Antes que eu percebesse, ele estava lá.
Ao meu lado.
Imenso, em forma de lobo, o pelo escuro grudado de chuva, os olhos faiscando sob a luz da lua.
Um rosnado baixo saiu da minha garganta, mas foi inútil.
O impacto veio rápido. Ele me empurrou com o corpo, a força brutal me arremessando contra o chão lamacento. O ar fugiu dos meus pulmões, e com o choque, voltei à forma humana. Tossia, tentando respirar, enquanto a lama fria grudava na minha pele.
— Pode lutar quanto quiser — murmurou, a boca próxima ao meu ouvido, a voz baixa, grave, como um trovão contido. — Eu gosto quando a presa tem fogo nos olhos.
Gritei, debati-me, arranhei seus braços. Minhas unhas deixaram marcas em sua pele, mas ele nem recuou.
A febre queimava meu corpo, cada movimento arrancava mais força de mim. O esforço de correr, a dor da transformação, o frio da chuva — tudo me esmagava por dentro.
— Me… solta… — sussurrei, quase sem voz.
Ele não respondeu. Apenas me observou, os olhos carregados de algo que não consegui decifrar. Um misto de raiva e de algo mais profundo, perigoso, que fez meu corpo estremecer.
O mundo girava.
As gotas da tempestade borravam minha visão, e a lua acima parecia se distorcer, distante e indiferente.
Minha respiração tornou-se pesada.
E, por fim, meu corpo cedeu.
A última coisa que senti foi o calor dele ainda sobre mim, e então a escuridão me envolveu.
Autora:
Ela desmaiou.
Ele ficou parado por alguns segundos, apenas olhando para o corpo frágil sob a tempestade, como se ponderasse o que fazer. Seus olhos, sempre duros como aço, agora mostravam um peso diferente.
Então a tomou nos ombros, já em forma humana, com um cuidado e uma gentileza que nem ele sabia que possuía.
E, enquanto caminhava pela noite, pensava em como era estranho — como ele mudava só por estar perto dela.
E decidiu.
Iria levá-la.
não importa o resto… ele só queria ela, nada mais nada menos.➖
Porque, depois de anos de espera, ele finalmente a tinha de volta. “Será?… será que realmente a terá?…”
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Atualizado até capítulo 38
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