O calor foi a primeira coisa que senti.
Depois de horas sob a chuva gelada, parecia impossível que meu corpo estivesse envolto por algo macio e quente. Pisquei, confusa, e percebi que não estava mais no chão encharcado da floresta.
Uma lareira queimava em um canto do quarto, espalhando um brilho dourado pelas paredes de pedra. O cheiro de madeira queimada misturava-se a outro aroma mais forte, inconfundível. O mesmo que me perseguia desde a noite anterior.
Ele.
Meu corpo inteiro se retesou.
Tentei me levantar de imediato, mas uma tontura me fez quase cair de volta no colchão. Só então percebi: estava deitada em uma cama larga, coberta por peles macias. Minha roupa ainda grudava em mim, seca agora, como se alguém tivesse tido o trabalho de aquecê-la.
Alguém.
Ele.
— Finalmente acordou.
A voz soou grave, profunda, como o estalar de trovões distantes. Virei o rosto, o coração disparando, e lá estava ele. Encostado no batente da porta, camisa branca, com alguns botões abertos mostrando parte do peito, segurando um copo de água, e outra mão no bolso, os olhos fixos em mim como se não piscassem há horas.
— Onde eu estou? — perguntei, a voz falhando, mesmo que tentasse soar firme.
Ele não respondeu de imediato. Apenas caminhou até a lareira, atirando mais uma lenha no fogo. O estalo das chamas preencheu o silêncio. Então, virou-se para mim, lento, como se saboreasse minha impaciência.
— No único lugar onde posso garantir que você não vai fugir de novo.
Engoli em seco.
As palavras eram uma sentença.
Levantei-me, mesmo tonta, os pés tocando o chão frio de pedra.
— Você não pode me manter aqui — retruquei, mesmo sabendo que ele podia. Sabia porque o vira na floresta, porque ainda sentia em meu corpo o peso dele me dominando como se eu fosse nada.
Um meio sorriso curvou o canto de seus lábios. Não de diversão, mas de certeza.
— Posso.
Fiquei em silêncio por um instante.
Meus olhos percorreram o quarto, procurando uma saída. Não havia janelas. Só a porta atrás dele, e eu sabia que jamais passaria por ela sem enfrentar o lobo que ele era.
— Por quê? — minha voz saiu mais baixa do que eu queria. — O que você quer de mim?
Ele se aproximou devagar, cada passo ecoando como um golpe no meu peito. Quando parou diante de mim, inclinou-se ligeiramente, seus olhos presos aos meus.
— Quero o que sempre foi meu.
Meu corpo inteiro estremeceu.
Quis gritar que não entendia, que ele estava errado, mas algo dentro de mim queimava de medo e de algo que eu não ousava nomear.
Ele ergueu a mão, e por um instante achei que iria me tocar. Mas parou no meio do caminho, fechou o punho e recuou, como se lutasse contra algo dentro dele.
— Descanse — disse, a voz mais baixa desta vez, quase um comando. — Você vai precisar.
E então saiu do quarto, deixando-me sozinha, mas não livre. Nunca tão presa.
Deitei novamente, ofegante, sentindo o coração bater como um tambor em meu peito.
E, pela primeira vez, temi que talvez fugir dele não fosse apenas impossível… mas que, no fundo, eu nem quisesse tanto assim. Era melhor do que voltar e ser presa pela minha família…assim espero…
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 38
Comments