Os dias seguintes ao jantar foram como um labirinto sufocante.
A cada manhã, Helena era despertada não pelo sol, mas pela voz da mãe, carregada de instruções: listas intermináveis de tarefas, compromissos com estilistas, provas de vestido, reuniões com cerimonialistas e, acima de tudo, regras.
— Você precisa aprender a se portar como uma Castellani — dizia Teresa, a mãe, com aquele olhar frio que nunca a via como filha, apenas como ferramenta. — Sua postura, sua fala, até o modo como segura um copo de cristal. Não podemos permitir que você nos envergonhe.
Helena engolia a raiva em silêncio, mas cada palavra era um tijolo no muro que a cercava. Sabia que qualquer sinal de resistência seria usado contra ela. E, ainda assim, dentro de si, crescia a sensação de que estava se preparando não para um casamento, mas para um julgamento.
No ateliê da estilista, o vestido branco tomava forma sob as mãos de costureiras. Era belo, delicado, com rendas e bordados discretos. Mas, para Helena, parecia mais uma armadura. Cada prova era um lembrete de que sua vida não lhe pertencia.
Enquanto ajustavam a barra do vestido, Helena olhou para si no espelho e mal se reconheceu.
— Parece um fantasma — murmurou sem querer.
Uma das costureiras fingiu não ouvir. Mas ela sabia: era exatamente isso. Uma noiva fantasma. Uma peça de contrato.
No mesmo período, Enrico seguia com sua rotina implacável. Na empresa, não comentava sobre o casamento. Para os funcionários, era apenas mais uma de suas decisões calculadas, como qualquer fusão ou aquisição. Mas quando voltava para casa, encontrava-se preso em pensamentos que odiava admitir.
Ele nunca acreditara em destino. Tudo para ele era lógica, números, estratégia. Mas havia algo em Helena Duarte que o desafiava.
A forma como ela o encarara na noite do jantar, sem se encolher, sem fingir docilidade. A forma como sua voz tremera de dor, mas mesmo assim se ergueu para dizer: “Não sou um dever.”
Era como uma pedra atirada contra o gelo que ele passara anos cultivando em torno de si.
Giuliana, sempre perceptiva, não perdeu a chance de provocar:
— Está pensando nela, não está?
Ele nem respondeu. Apenas a ignorou, o que já era resposta suficiente.
Na semana seguinte, os dois foram obrigados a um novo encontro. Dessa vez, sem a presença de todos os familiares, apenas acompanhados por assessores e advogados. O objetivo era assinar documentos preliminares do contrato de casamento.
Helena entrou na sala de reuniões de um hotel luxuoso com passos firmes, mas o coração acelerado. Enrico já estava lá, sentado à cabeceira da mesa, impecável em seu terno cinza. O olhar dele a encontrou imediatamente, e, pela primeira vez, ela percebeu que não havia indiferença. Havia atenção.
— Senhorita Duarte — cumprimentou ele, levantando-se.
— Senhor Castellani — respondeu, controlando a voz.
Os advogados falavam, as canetas riscavam papéis, mas Helena sentia que só existia um fio de tensão invisível entre ela e ele. Quando os documentos foram entregues para sua assinatura, suas mãos tremeram levemente. Enrico notou. E, sem pensar, estendeu a mão para segurar o papel mais próximo dela, estabilizando-o. O toque foi mínimo, mas suficiente para fazê-la estremecer.
— Não se preocupe — disse ele, baixo, quase num sussurro que ninguém mais ouviu. — Você não está sozinha nisso.
Ela ergueu os olhos, surpresa. Era apenas um instante. Mas foi a primeira rachadura no gelo dele.
Naquela noite, de volta ao quarto, Helena chorou em silêncio. Não de tristeza apenas, mas de confusão. Como alguém tão frio poderia ao mesmo tempo parecer tão... atento? Como poderia sentir, no fundo, que havia mais naquele homem do que o que todos diziam?
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Atualizado até capítulo 52
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