Capítulo 4 — Correntes Invisíveis

Os dias seguintes ao jantar foram como um labirinto sufocante.

A cada manhã, Helena era despertada não pelo sol, mas pela voz da mãe, carregada de instruções: listas intermináveis de tarefas, compromissos com estilistas, provas de vestido, reuniões com cerimonialistas e, acima de tudo, regras.

— Você precisa aprender a se portar como uma Castellani — dizia Teresa, a mãe, com aquele olhar frio que nunca a via como filha, apenas como ferramenta. — Sua postura, sua fala, até o modo como segura um copo de cristal. Não podemos permitir que você nos envergonhe.

Helena engolia a raiva em silêncio, mas cada palavra era um tijolo no muro que a cercava. Sabia que qualquer sinal de resistência seria usado contra ela. E, ainda assim, dentro de si, crescia a sensação de que estava se preparando não para um casamento, mas para um julgamento.

No ateliê da estilista, o vestido branco tomava forma sob as mãos de costureiras. Era belo, delicado, com rendas e bordados discretos. Mas, para Helena, parecia mais uma armadura. Cada prova era um lembrete de que sua vida não lhe pertencia.

Enquanto ajustavam a barra do vestido, Helena olhou para si no espelho e mal se reconheceu.

— Parece um fantasma — murmurou sem querer.

Uma das costureiras fingiu não ouvir. Mas ela sabia: era exatamente isso. Uma noiva fantasma. Uma peça de contrato.

No mesmo período, Enrico seguia com sua rotina implacável. Na empresa, não comentava sobre o casamento. Para os funcionários, era apenas mais uma de suas decisões calculadas, como qualquer fusão ou aquisição. Mas quando voltava para casa, encontrava-se preso em pensamentos que odiava admitir.

Ele nunca acreditara em destino. Tudo para ele era lógica, números, estratégia. Mas havia algo em Helena Duarte que o desafiava.

A forma como ela o encarara na noite do jantar, sem se encolher, sem fingir docilidade. A forma como sua voz tremera de dor, mas mesmo assim se ergueu para dizer: “Não sou um dever.”

Era como uma pedra atirada contra o gelo que ele passara anos cultivando em torno de si.

Giuliana, sempre perceptiva, não perdeu a chance de provocar:

— Está pensando nela, não está?

Ele nem respondeu. Apenas a ignorou, o que já era resposta suficiente.

Na semana seguinte, os dois foram obrigados a um novo encontro. Dessa vez, sem a presença de todos os familiares, apenas acompanhados por assessores e advogados. O objetivo era assinar documentos preliminares do contrato de casamento.

Helena entrou na sala de reuniões de um hotel luxuoso com passos firmes, mas o coração acelerado. Enrico já estava lá, sentado à cabeceira da mesa, impecável em seu terno cinza. O olhar dele a encontrou imediatamente, e, pela primeira vez, ela percebeu que não havia indiferença. Havia atenção.

— Senhorita Duarte — cumprimentou ele, levantando-se.

— Senhor Castellani — respondeu, controlando a voz.

Os advogados falavam, as canetas riscavam papéis, mas Helena sentia que só existia um fio de tensão invisível entre ela e ele. Quando os documentos foram entregues para sua assinatura, suas mãos tremeram levemente. Enrico notou. E, sem pensar, estendeu a mão para segurar o papel mais próximo dela, estabilizando-o. O toque foi mínimo, mas suficiente para fazê-la estremecer.

— Não se preocupe — disse ele, baixo, quase num sussurro que ninguém mais ouviu. — Você não está sozinha nisso.

Ela ergueu os olhos, surpresa. Era apenas um instante. Mas foi a primeira rachadura no gelo dele.

Naquela noite, de volta ao quarto, Helena chorou em silêncio. Não de tristeza apenas, mas de confusão. Como alguém tão frio poderia ao mesmo tempo parecer tão... atento? Como poderia sentir, no fundo, que havia mais naquele homem do que o que todos diziam?

Capítulos
1 Prefácio — Entre o Passado e o Desejo
2 Capítulo 1 — O Peso do Ontem
3 Capítulo 2 — O Homem de Gelo
4 Capítulo 3 — O Primeiro Encontro
5 Capítulo 4 — Correntes Invisíveis
6 Capítulo 5 — Sob os Olhos do Mundo
7 Capítulo 6 — Sob o Mesmo Teto
8 Capítulo 7 — Verdades à Sombra
9 Capítulo 8 — Entre as Fendas do Gelo
10 Capítulo 9 — Vozes do Mundo
11 Capítulo 10 — Sob as Luzes e as Sombras
12 Capítulo 11 — As Repercussões do Beijo
13 Capítulo 12 — A Voz Que Nunca Tivera
14 Capítulo 13 — O Casamento das Aparências
15 Capítulo 14 — Lua de Mel em Silêncio
16 Capítulo 15 — O Despertar do Silêncio
17 Capítulo 16 — Entre Dois Mundos
18 Capítulo 17 — Vozes de Sangue e Silêncio
19 Capítulo 18 — A Primeira Prova
20 Capítulo 19 — Entre Aliados e Inimigos
21 Capítulo 20 — O Jogo das Aparências
22 Capítulo 21 — Entre Murmúrios e Promessas
23 Capítulo 22 — Entre Beijos e Facas
24 Capítulo 23 — O Domingo da Vergonha
25 Capítulo 24 — A Voz da Verdade
26 Capítulo 25 — A Inveja em Carne Viva
27 Capítulo 26 — O Espetáculo da Crueldade
28 Capítulo 27 — Ecos de Escândalo
29 Capítulo 28 — A Coroa Invisível
30 Capítulo 29 — O Fantasma do Passado
31 Capítulo 30 — A Armadilha Perfeita
32 Capítulo 31 — Quando a Luz Aprende a Ficar
33 Capítulo 32 — Entre Provas e Promessas
34 Capítulo 33 — A Fotografia e o Nome
35 Capítulo 34 — O Nome Que Não Cala
36 Capítulo 35 — Primeiros Passos da Verdade
37 Capítulo 36 — Vozes do Passado
38 Capítulo 37 — O Rosto do Destino
39 Capítulo 38 — Entre Verdades e Sombras
40 Capítulo 39 — O Eco das Sombras
41 Capítulo 40 — A Verdade no Sangue
42 Capítulo 41 — A Sentença da Verdade
43 Capítulo 42 — A Mentira Perfeita (I)
44 Capítulo 42 — A Mentira Perfeita (II)
45 Capítulo 43 — O Peso dos Nomes
46 Capítulo 44 — Quando as Máscaras Caem
47 Capítulo 45 — O Dia em que o Eco Virou Voz
48 Capítulo 46 — A Hora dos Espelhos
49 Capítulo 47 — O Julgamento das Sombras
50 Capítulo 48 — A Sentença do Silêncio
51 Capítulo 49 — O Legado da Verdade
52 Epílogo — Onde a Luz Permanece
Capítulos

Atualizado até capítulo 52

1
Prefácio — Entre o Passado e o Desejo
2
Capítulo 1 — O Peso do Ontem
3
Capítulo 2 — O Homem de Gelo
4
Capítulo 3 — O Primeiro Encontro
5
Capítulo 4 — Correntes Invisíveis
6
Capítulo 5 — Sob os Olhos do Mundo
7
Capítulo 6 — Sob o Mesmo Teto
8
Capítulo 7 — Verdades à Sombra
9
Capítulo 8 — Entre as Fendas do Gelo
10
Capítulo 9 — Vozes do Mundo
11
Capítulo 10 — Sob as Luzes e as Sombras
12
Capítulo 11 — As Repercussões do Beijo
13
Capítulo 12 — A Voz Que Nunca Tivera
14
Capítulo 13 — O Casamento das Aparências
15
Capítulo 14 — Lua de Mel em Silêncio
16
Capítulo 15 — O Despertar do Silêncio
17
Capítulo 16 — Entre Dois Mundos
18
Capítulo 17 — Vozes de Sangue e Silêncio
19
Capítulo 18 — A Primeira Prova
20
Capítulo 19 — Entre Aliados e Inimigos
21
Capítulo 20 — O Jogo das Aparências
22
Capítulo 21 — Entre Murmúrios e Promessas
23
Capítulo 22 — Entre Beijos e Facas
24
Capítulo 23 — O Domingo da Vergonha
25
Capítulo 24 — A Voz da Verdade
26
Capítulo 25 — A Inveja em Carne Viva
27
Capítulo 26 — O Espetáculo da Crueldade
28
Capítulo 27 — Ecos de Escândalo
29
Capítulo 28 — A Coroa Invisível
30
Capítulo 29 — O Fantasma do Passado
31
Capítulo 30 — A Armadilha Perfeita
32
Capítulo 31 — Quando a Luz Aprende a Ficar
33
Capítulo 32 — Entre Provas e Promessas
34
Capítulo 33 — A Fotografia e o Nome
35
Capítulo 34 — O Nome Que Não Cala
36
Capítulo 35 — Primeiros Passos da Verdade
37
Capítulo 36 — Vozes do Passado
38
Capítulo 37 — O Rosto do Destino
39
Capítulo 38 — Entre Verdades e Sombras
40
Capítulo 39 — O Eco das Sombras
41
Capítulo 40 — A Verdade no Sangue
42
Capítulo 41 — A Sentença da Verdade
43
Capítulo 42 — A Mentira Perfeita (I)
44
Capítulo 42 — A Mentira Perfeita (II)
45
Capítulo 43 — O Peso dos Nomes
46
Capítulo 44 — Quando as Máscaras Caem
47
Capítulo 45 — O Dia em que o Eco Virou Voz
48
Capítulo 46 — A Hora dos Espelhos
49
Capítulo 47 — O Julgamento das Sombras
50
Capítulo 48 — A Sentença do Silêncio
51
Capítulo 49 — O Legado da Verdade
52
Epílogo — Onde a Luz Permanece

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