A cidade nunca dormia.
Arranha-céus se erguiam como gigantes de vidro e aço, refletindo as luzes artificiais de uma capital que respirava pressa. No coração desse império de concreto, erguia-se a sede da Castellani Corporation, um conglomerado que movia bilhões e definia o destino de setores inteiros da economia. E, no centro de tudo, estava ele: Enrico Castellani.
Com apenas trinta anos, Enrico já havia herdado o título que muitos julgavam cedo demais: CEO. Mas não era apenas o sobrenome que sustentava sua posição — era a frieza calculada, a inteligência afiada e a ausência completa de indulgência.
Onde outros viam sentimentos, ele via fraquezas. Onde outros buscavam companhias, ele preferia o silêncio da própria solidão.
Naquela manhã, sua rotina seguia o mesmo ritmo impecável.
O relógio marcava seis horas quando ele terminou a corrida matinal em sua esteira particular. O corpo definido era resultado não de vaidade, mas de disciplina. Enrico não acreditava em excessos. Não acreditava em nada que o desviasse de sua missão: manter e expandir o império que recebera do pai, agora doente e afastado dos negócios.
Sentou-se à mesa do café, onde relatórios o aguardavam. O olhar verde, gélido, deslizava pelas páginas com precisão, como quem devora dados e transforma em estratégias.
Ao seu redor, a mansão Castellani parecia mais um palácio moderno: mármore, vidro e silêncio absoluto. Nada nele era improvisado. Nada nele era vulnerável.
Ou quase nada.
Mais tarde, ao entrar em sua sala no último andar da empresa, Enrico foi recebido por sua irmã mais nova, Giuliana Castellani. Ao contrário dele, Giuliana era expansiva, vibrante, sempre buscando quebrar a rigidez do irmão.
— Bom dia, homem de gelo — ela provocou, deixando-se cair na poltrona diante da mesa dele. — Está preparado para conhecer sua futura esposa?
Ele ergueu os olhos do relatório, impassível.
— Não é uma esposa. É um contrato. Um acordo que favorece os dois lados.
— Claro, claro... — Giuliana riu, cruzando as pernas. — Mas, convenhamos, Enrico. Você vai se casar. E por mais que tente parecer indiferente, todos sabemos que isso mexe com você.
Enrico não respondeu de imediato. Encostou-se na cadeira, avaliando a irmã.
No fundo, ela tinha razão. Não porque houvesse expectativa de romance — isso ele descartava de imediato —, mas porque a ideia de dividir sua vida, mesmo que de forma protocolar, com alguém, feria seu instinto de isolamento. Ele aprendera cedo que sentimentos eram fraquezas. E agora teria de conviver com uma mulher estranha, imposta, dentro de sua casa.
— Contanto que ela saiba respeitar limites, não haverá problema — disse por fim, encerrando o assunto.
Mas, ainda assim, uma inquietação que não queria admitir latejava em seu peito.
Do outro lado da cidade, Helena Duarte encarava seu reflexo no espelho do quarto. O rosto ainda carregava o peso da noite anterior, quando descobrira a traição de Patrick com sua irmã. Os olhos vermelhos denunciavam lágrimas que ela preferia esquecer.
Sentia-se partida.
Mas, ao mesmo tempo, havia uma estranha clareza. Patrick, com sua covardia, apenas confirmara o que ela já sabia: seu destino não estava nas próprias mãos. Nunca estivera. Agora, mais do que nunca, sua vida era um tabuleiro movido pelas ambições da família.
Sobre a cama, um vestido de seda azul-marinho a esperava. Fora escolhido por sua mãe, como sempre. O tecido parecia frio ao toque, pesado como as obrigações que carregava. Helena suspirou. Aquela noite marcaria o início de algo maior — um encontro com um homem de quem só ouvira histórias. Um homem que todos descreviam como implacável.
— Enrico Castellani... — murmurou, como se o nome tivesse gosto amargo na boca.
O restaurante cinco estrelas escolhido para a reunião era discreto, mas imponente. Lustres de cristal iluminavam as mesas privadas, onde negócios e alianças se firmavam longe dos olhos curiosos. Helena entrou acompanhada dos pais, o coração acelerado, as mãos trêmulas escondidas no colo.
E então o viu.
Enrico Castellani já estava sentado. A postura impecável, o terno sob medida em tom escuro, a expressão impenetrável. Os olhos verdes a fitaram com intensidade — não de curiosidade, mas de avaliação. Como se estivesse analisando um relatório, não uma pessoa.
Helena engoliu em seco. Sentiu-se pequena sob aquele olhar. Mas não desviou. Não depois de tudo que já enfrentara. Mesmo com a voz trêmula por dentro, manteve-se firme por fora.
Enrico inclinou levemente a cabeça, um gesto mínimo de cumprimento.
— Helena Duarte — disse ele, a voz baixa, grave, com um tom que parecia ao mesmo tempo educado e indiferente. — Finalmente nos conhecemos.
Ela assentiu, sentando-se diante dele.
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Atualizado até capítulo 52
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