Guerra Começando.

O dia amanheceu com um peso estranho. O Vidigal parecia o mesmo, mas a sensação era de que algo estava prestes a explodir. A mansão, no topo do morro, refletia os primeiros raios de sol com suas paredes claras e amplas janelas de vidro. Eu estava no escritório, vestida com um vestido verde esmeralda de algodão leve, que se movia com a brisa da manhã. Elegante, simples e firme, como eu precisava ser naquele momento. O morro inteiro podia me ver, mesmo que não quisesse admitir, mas apenas os que mereciam respeito sabiam que eu estava observando cada detalhe.

Lorenzo brincava no quarto com blocos de montar. Sua risada suave ecoava pelos corredores da mansão, e eu me permiti um sorriso. Ele era o único que conseguia quebrar a fachada de Rainha do Vidigal, a mulher que ninguém ousava desafiar.

— Fica aí, meu príncipe. Mamãe volta já — murmurei, ajeitando o vestido, sem perder o olhar sobre as ruas que eu dominava de cima.

Lucca entrou sem bater, como sempre. Ele tinha aquele jeito de quem carrega o mundo nos ombros e sabe que cada palavra conta.

— Irmã… o Pavãozinho tá armando algo grande. Não é só teste. Eles planejam invadir o Vidigal — disse, direto, sem rodeios.

Meu café esfriou na mesa, mas minha postura permaneceu impecável. Respirei fundo e apoiei os cotovelos na bancada.

— Como você sabe? — perguntei, mantendo a calma que sempre desarma qualquer inimigo.

— Coloquei um infiltrado lá. Ele me contou tudo — respondeu Lucca. — Coordenam desde ontem. É invasão. Rua, território, tudo.

Olhei para a cidade que se espalhava aos nossos pés, tentando absorver cada detalhe. O Vidigal era mais do que território: era história, era respeito, era poder. E ninguém mexe nisso sem sentir o peso da Rainha.

Luiza entrou em seguida, mochila jogada no ombro, olhos brilhando de alerta e inteligência.

— Marajá e Matheus vieram com intenção de ocupar espaço — disse, sem rodeios. — Não vieram testar, vieram pra guerra.

Suspirei e apoiei a mão na testa, sentindo a tensão subir. Planejar era mais eficaz que reagir por impulso.

— Vamos com cabeça — falei. — Lucca, separa a galera de confiança. Luiza, monitora ruas, câmeras, qualquer movimento suspeito. Quero saber antes mesmo deles pensarem em dar o primeiro passo.

Enquanto Lucca e Luiza saíam correndo para organizar o perímetro, peguei o celular. Eu precisava de um reforço sólido, alguém que não apenas respeitasse o Vidigal, mas que pudesse intimidar o Pavãozinho. O Morro do Alemão, o segundo maior do Rio, sempre foi aliado, e o dono, Caio, meu velho amigo, era homem de palavra.

Discando, respirei fundo. O verde do vestido contrastava com o céu azul claro da manhã, mas também refletia a força da decisão. A ligação tocou duas vezes antes de a voz firme e respeitosa de Caio atender:

— Alô, Caio, meu velho amigo — falei, voz calma, mas cheia de autoridade. — Poderia vir ao Vidigal hoje à tarde?

Do outro lado, a resposta foi imediata, cheia de confiança:

— Claro, Dama. Às 14 tô aí com meu sub.

Sorri, curto e direto:

— Ok.

Lucca apareceu logo atrás, observando a conversa.

— Bem pensado — comentou. — Com você no comando e Caio chegando, o Pavãozinho vai pensar duas vezes antes de avançar.

Assenti e me aproximei da janela, olhando para o morro que eu governava com respeito e estratégia. Cada viela, cada curva, cada ponto cego estava mapeado.

— Vamos reforçar tudo enquanto ele não chega — falei. — Quero vigilância constante, cada movimento monitorado. Se eles ousarem, vamos saber antes.

Luiza assentiu, dedos ágeis no tablet, cruzando informações do que o infiltrado havia repassado.

— Já organizei a patrulha e marquei os pontos mais vulneráveis — disse. — Com os aliados do Alemão, vamos cobrir todas as saídas.

Sorri, satisfeita com a eficiência da minha equipe.

— Exato. Estratégia é melhor que força bruta. Sangue é a última carta, sempre — falei, reforçando para eles que inteligência é o maior poder que podemos ter.

O relógio marcava quase meio-dia, e a tensão ainda era palpável no ar. Cada segundo que passava aumentava o risco, mas também a oportunidade de demonstrar liderança. A mansão parecia tranquila, com Lorenzo brincando e a brisa leve atravessando as cortinas, mas o que acontecia fora das paredes de vidro exigia atenção total.

Olhei para o céu, pensando em como cada escolha poderia afetar o futuro do meu filho, da minha comunidade, e de tudo que construímos com esforço e sangue frio. Cada decisão era uma peça de xadrez, cada movimento calculado.

— Vamos mostrar que o Vidigal não se entrega — falei, firme. — E quem ousar tentar, vai aprender rápido que desafiar a Rainha do Vidigal não é boa ideia.

Lucca sorriu de leve, satisfeito com o plano.

— Tranquilo. Com você no comando e Caio chegando, eles vão recuar ou se arrepender.

A tarde chegava e, com ela, a sensação de que a história estava prestes a mudar. Liguei para os contatos dentro do Vidigal, conferi reforços e verifiquei câmeras de vigilância. Nada escapava à minha visão, nem mesmo o menor movimento suspeito.

Olhei mais uma vez para Lorenzo, que ainda brincava sem saber da tensão que se aproximava. Minha promessa silenciosa para ele: ninguém vai tocar no que é nosso. Nem o Pavãozinho, nem qualquer outro morro.

— Preparem-se — falei para mim mesma, olhando pelo vidro da varanda. — Hoje o Vidigal mostra porque aqui existe respeito, e porque a Rainha não é só título: é estratégia, presença e comando.

E assim, vestida de verde esmeralda, com cabelo balançando ao vento e a mente afiada, me preparei para o que sabia que seria apenas o primeiro ato de uma guerra que exigiria tudo de mim — inteligência, frieza e autoridade.

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