A manhã começou clara, mas com um peso no ar que só o Vidigal sabe carregar. Eu estava na varanda da mansão, vestindo um vestido azul claro de algodão, simples, leve, mas que caía com elegância sobre o corpo. O vento balançava o tecido e meu cabelo preto liso, lembrando que poder e presença não precisam de ostentação explícita.
Lorenzo brincava no quarto com blocos de montar. Sentei na poltrona da varanda, observando o movimento lá embaixo, respirando fundo. Olhares atentos, motos subindo, vendedores iniciando o dia. Nada escapava da minha visão.
— Chegou recado do Pavãozinho. Não é moleque — Lucca disse, aparecendo atrás de mim, postura firme, olhar calculista.
Meu coração não tremeu. Apenas engoli o café e encarei a rua.
— Quem manda? — perguntei, calma, controlada.
Ele entregou o bilhete. Nome no final: Marcos “Marajá” Silva. Um peso só de ler. Marajá não vinha sozinho, e ninguém que merecesse respeito mexia no Vidigal sem consequência.
Olhei para Lorenzo, ainda distraído com os blocos. Beijei a testa dele.
— Fica aqui, meu príncipe. Mamãe resolve e volta.
Luiza chegou com a mochila jogada no ombro, sorriso atento:
— Marajá não veio só. Trouxe Matheus. Dois homens que não titubeiam.
— Então vamos com cabeça — falei, respirando fundo. — Lucca, separa a galera de confiança. Luiza, pega informação das ruas, câmera, rádio, tudo. Quero saber quem chega e onde.
A chave do carro já estava na mão. Dirigir é meu jeito de sentir controle. O motor rugiu pelas ruas estreitas, e a comunidade se calou diante da presença da rainha.
Chegamos à boca/QG. O clima estava carregado. Todos sabiam que homens grandes do Pavãozinho significam perigo.
— Eles vêm pela ladeira do depósito antigo — disse um dos nossos. — Dois carros, prata e preto.
— Informação confirmada — Luiza completou. — Vieram discutir divisão. Querem fatia do que é nosso.
Cruzei os braços. “Dividir”? Isso é coisa de covarde.
— Aqui não se divide história nem respeito — falei, firme. — Se querem teste, façam no território de vocês.
Quando os carros chegaram, estacionei em frente. Desci devagar, vestido azul balançando, olhar direto. O silêncio tomou conta.
Do carro prata desceram dois homens: Marajá, alto, imponente, olhar calculista; Matheus, compacto, tatuagens saltando, energia pesada. Eles andavam como se já tivessem passado por sangue e morte.
— Briana — começou Marajá, voz baixa, controlada. — Vim por paz. Esse papo de “rainha” atrapalha o comércio. Proponho parceria.
O sorriso dele tinha intenções escondidas. Olhei pra Matheus, avaliando cada movimento.
— Parceria se conquista com palavra e respeito — falei, controlada. — Aqui não se divide nada.
Matheus deu um passo à frente. Lucca segurou o braço dele, firme, fazendo o homem recuar. Não houve gritaria. Só presença e autoridade.
— Vocês têm uma hora — disse Lucca. — Saiam da nossa área e nunca mais apareçam assim.
Marajá olhou, entendeu a firmeza, e recuou.
— Uma hora — disse ele, mas o tom já era de aviso, não de ameaça.
Os carros desapareceram ladeira abaixo. O silêncio reinou. Não era vitória, era aviso: homem grande não esquece, só recalcula.
No carro, voltando pra mansão, pensei no Lorenzo, no peso da responsabilidade, no equilíbrio entre mãe e rainha. Chegando, Luiza e Lucca já planejavam próximos passos: reforçar aliados, monitorar o Pavãozinho, evitar surpresa.
Eu desci na varanda, olhei pro morro e respirei fundo.
— Aqui não é só poder, é estratégia. Sangue é última carta. Sempre.
O vestido azul balançava com o vento. A imagem era de calma e força ao mesmo tempo: mãe, mulher, rainha. E ninguém, nem Marajá, esqueceria disso tão cedo.
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Atualizado até capítulo 25
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