Voltei pra mansão ainda cedo, depois da passada no QG. Lorenzo já tava acordado, brincando na sala com os carrinhos que eu trouxe da última viagem. Sentei no sofá, tirei os saltos e deixei ele se jogar no meu colo.
— Mamãe, olha! — ele empurrava o carrinho vermelho pelo braço do sofá.
Sorri, beijo na testa dele.
— Tá voando, meu príncipe. Igual você quando crescer.
Mas enquanto eu ria com ele, a mente não parava. Aqueles dois na esquina não saíam da minha cabeça. Gente parada olhando minha casa nunca é coincidência.
Minutos depois, Lucca entrou sem bater. Ele nunca batia.
— Já puxei quem são. — falou, seco, jogando duas fotos impressas na mesa de centro.
Peguei. Dois moleques, 18 ou 19 anos no máximo. Caras novas, mas o olhar já carregado de malícia.
— São do Pavãozinho. — Lucca completou. — Tão sondando. Não entraram armados, mas vieram na maldade.
Lorenzo olhava curioso pras fotos, sem entender nada. Eu tirei rápido da frente dele e levantei.
— Onde tão agora?
— Continuam na esquina, de frente pro bar do Zeca.
Respirei fundo, peguei a chave do carro.
— Então vamos lá.
Lucca arregalou os olhos.
— Você quer ir pessoalmente?
Olhei pra ele com calma, ajeitando o vestido branco de algodão.
— Ninguém fica na porta da minha casa como se fosse terreno livre.
Deixei Lorenzo com a babá e desci. Dirigi eu mesma. O motor do carro rugia pelas ruas estreitas, chamando atenção de todo mundo que me via passar. Olhares se cruzavam, cumprimentos rápidos, aquele respeito mudo que só quem conhece sabe.
Quando dobrei a esquina do bar do Zeca, os dois estavam lá, encostados no poste, rindo baixo. Quando me viram, congelaram.
Estacionei o carro de frente pra eles, desliguei o motor devagar. Saí com calma, sem pressa, como quem não precisa provar nada. O vestido balançava com o vento, e eu só levei um cigarro à boca antes de acendê-lo.
— Vocês moram aqui? — perguntei, soltando a fumaça.
Um deles tentou se justificar:
— Não, senhora… a gente só tava…
Levantei a mão, cortando a fala.
— Então explica. O que dois moleques do Pavãozinho tão fazendo na porta da minha casa?
Silêncio. O olhar dos dois tremia. Eu dei mais uma tragada e encarei direto.
— Aqui não é lugar de turista. Aqui não é lugar de curioso. Esse morro tem dona, e vocês tão pisando em terreno errado.
Lucca se aproximou, postura dura, mas eu levantei a mão de novo.
— Não precisa. Eles vão falar. — olhei nos olhos dos dois. — Vão falar agora.
O mais novo gaguejou:
— Foi… foi só curiosidade, dona. Só isso. A gente ouviu falar da senhora, queria ver se era verdade.
Sorri de canto.
— Pois agora vocês sabem. É verdade.
Soltei a fumaça devagar, dei dois passos pra frente e falei num tom baixo, mas firme:
— Esse é o primeiro e último aviso. Da próxima vez que eu ver cara de vocês aqui, não vai ter conversa.
Eles assentiram rápido, nervosos. Eu apaguei o cigarro na parede do bar e voltei pro carro.
Antes de entrar, olhei de novo, fria:
— Agora some daqui.
Os dois dispararam morro abaixo sem olhar pra trás.
Lucca abriu a porta do passageiro e entrou.
— Você podia ter mandado apagar os dois logo.
Respirei fundo, ligando o carro.
— Não, irmão. Sangue é a última carta que eu baixo. Primeiro eu ensino respeito. Se não aprenderem… aí sim, não sobra escolha.
Dirigi de volta pra mansão, a cabeça erguida. E no fundo, eu sabia: aquele não seria o último teste.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 25
Comments