A manhã começou pesada, mesmo com o sol brilhando sobre os telhados da mansão.
Nin se arrumava diante do espelho quando Win entrou sem bater. Ele usava uma camisa cinza clara, mas o olhar carregava tempestades.
— Você não vai sair hoje. — A voz dele não admitia discussão.
Nin ergueu o rosto lentamente.
— Vou, sim. Não serei uma prisioneira dentro da minha própria casa.
Win fechou a porta atrás de si.
— Ontem tentaram te matar. Não entendeu o recado?
— Entendi perfeitamente. — Ela ajeitou o brinco com calma. — Mas se me esconder agora, eles vencem sem precisar atirar outra vez.
Antes que Win respondesse, a porta se abriu novamente. Jay entrou, as mãos nos bolsos, o braço tatuado exposto pela manga dobrada.
— Concordo com ela. — Disse com frieza. — A fuga não é proteção, é sinal de fraqueza.
Win girou o corpo para encará-lo, a voz em tom de veneno.
— Não pedi sua opinião.
Jay avançou até ficar frente a frente com ele.
— Não precisa pedir. Ela é parte do pacto. A vida dela está tanto nas minhas mãos quanto nas suas.
O silêncio que se seguiu era grosso como fumaça. Nin suspirou, interrompendo:
— Vou sair. Ao templo, como planejei. Quem quiser me proteger, faça. Quem não quiser, que saia do caminho.
Win fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
— Muito bem. Mas eu vou junto.
Jay assentiu.
— E eu também.
---
O comboio saiu da mansão com quatro carros. Nin no veículo do meio, Win ao lado dela, Jay no banco da frente. Oleg e Ton coordenavam os demais homens por rádio.
A cidade parecia calma demais. Bancas abertas, vendedores chamando clientes, crianças correndo pelas ruas. Mas Jay não confiava em calmarias.
Ele falou baixo, sem virar o rosto:
— Está quieto demais.
Win resmungou, olhando pela janela.
— Você vê fantasmas em todo lugar.
— E você prefere ignorar os vivos. — Jay retrucou, seco.
Nin rolou os olhos.
— Vocês dois conseguem ficar cinco minutos sem se provocar?
Antes que pudessem responder, um estampido ecoou. O carro da frente explodiu em chamas, jogando pedaços de metal contra o asfalto. O motorista do veículo de Nin freou bruscamente.
— Emboscada! — gritou Oleg pelo rádio.
Portas se abriram. Homens mascarados saíram de prédios laterais, armados com rifles automáticos. A rua virou guerra em segundos.
Jay puxou Nin para o chão do carro.
— Fica abaixada!
Win sacou a pistola e atirou pela janela quebrada, o olhar selvagem.
— Eu disse que isso ia acontecer! — gritou para Jay.
— Eu disse ontem! — Jay rosnou de volta, disparando contra os atacantes.
Oleg abriu fogo do carro de trás, derrubando dois inimigos. Ton coordenava os homens, mas algo no tom de sua voz soava estranho — quase hesitante.
Nin respirava rápido, o coração em disparada.
— Eles querem me levar viva… não me matar.
Jay a olhou de relance, entendendo rápido demais.
— Estão tentando te sequestrar.
Dois homens mascarados correram em direção ao carro de Nin. Jay saiu primeiro, disparando em movimento. Um deles caiu, o outro conseguiu se aproximar. Win saiu logo em seguida, derrubando o segundo com um chute no estômago e dois tiros certeiros.
Os dois se encontraram no meio da rua, costas coladas, atirando em direções opostas. O ódio entre eles deu lugar a algo que os dois entendiam: sobrevivência.
— À esquerda! — gritou Win.
Jay girou e atirou sem hesitar, derrubando o inimigo que vinha por trás de Win.
— À direita! — retrucou Jay.
Win respondeu com a mesma precisão, cobrindo o flanco de Jay.
Por minutos que pareceram horas, lutaram juntos, como se sempre tivessem treinado um ao lado do outro. Cada disparo era um pacto silencioso de sobrevivência.
Quando o último mascarado caiu, o silêncio voltou como um soco. A rua cheirava a pólvora e gasolina queimada. O carro da frente ainda ardia em chamas.
Nin saiu do veículo, trêmula, mas firme.
— Isso não foi um ataque comum. Eles sabiam exatamente onde estaríamos.
Jay olhou para Win, o rosto duro.
— Alguém de dentro entregou nossa rota.
Win respirava pesado, o suor descendo pela têmpora.
— Se descobrir quem foi… vou cortar em pedaços.
Jay se aproximou, ficando tão perto que os olhos cinzentos e os negros se encontraram em choque.
— Não. — A voz dele era baixa, carregada de raiva contida. — Quando eu descobrir quem foi… eu vou cuidar pessoalmente.
Win não recuou.
— Tente. Mas não se esqueça: esta é a minha cidade.
Jay inclinou a cabeça, o tom quase um sussurro.
— Não importa o mapa, Win. Eu sempre encontro o inimigo… até quando ele está dentro de casa.
Por um instante, estavam próximos demais, respirações se misturando. Nin percebeu o perigo daquela proximidade — não de armas, mas de algo ainda mais explosivo.
Ton se aproximou, suado, o olhar carregado de tensão.
— Temos que sair daqui antes que cheguem reforços.
Jay e Win se afastaram lentamente, ainda se medindo como se o próximo tiro pudesse vir de qualquer um deles.
---
De volta à mansão, Nin foi levada para descansar. Jay e Win ficaram sozinhos no escritório, a porta fechada. O silêncio entre eles era mais denso do que qualquer tiroteio.
Win quebrou primeiro:
— Você acha que foi alguém daqui.
Jay apoiou as mãos na mesa, o olhar fixo.
— Tenho certeza.
Win apertou os dentes.
— Se for… vai sangrar.
Jay deu um passo em direção a ele, frio, a voz baixa demais.
— Só não quero que seja alguém muito próximo de você.
O olhar dos dois se prendeu. Não havia armas entre eles, mas o ar era pólvora pura.
O pacto de sangue tinha sobrevivido a mais uma noite. Mas agora, Jay e Win já não lutavam apenas contra inimigos externos.
---
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments