A noite caiu sobre a mansão como um véu pesado. As luzes do jardim projetavam sombras longas, os guardas mudavam de turno, e cada canto da casa parecia carregar a respiração de alguém invisível.
Jay permanecia sentado numa cadeira de couro no corredor da ala central, uma pistola sobre a mesa baixa ao lado e um copo de uísque intacto. O braço tatuado repousava à vista, como um aviso.
A poucos metros, encostado no batente oposto, Win cruzava os braços. O dragão em suas costas se movia sob a camisa fina cada vez que ele respirava fundo.
O silêncio era cortante. Apenas o som distante dos grilos e o estalar do gelo dentro do copo quebravam a monotonia.
Jay foi o primeiro a falar:
— Você está desconfortável.
Win estreitou os olhos.
— Não me leia como se fosse um livro russo.
Jay ergueu o copo, girando o líquido âmbar.
— Não preciso ler você. Basta olhar. Seus ombros estão tensos. Seus olhos não piscam. E seu braço direito coça para alcançar a arma, mas você não quer parecer nervoso diante de mim.
Win avançou um passo, a voz carregada de veneno:
— Se eu quisesse parecer nervoso, você estaria morto.
Jay sorriu de canto, colocando o copo de lado.
— Essa sua raiva… é o que vai te matar primeiro.
Nin abriu a porta do quarto nesse instante. Vestia um robe claro, os cabelos soltos. Olhou para os dois homens como quem olha dois animais prestes a se devorar.
— Vocês pretendem passar a noite inteira se medindo?
Jay desviou o olhar para ela, frio.
— Não é medição. É vigilância.
Win respondeu logo em seguida, ríspido:
— Ele precisa estar aqui porque desconfia dos meus homens.
— Eu estou aqui porque alguém na sua casa já traiu — rebateu Jay, firme. — E eu não confio em fantasmas.
Nin ergueu a mão, cansada:
— Chega. Eu não vou dormir com vocês dois brigando atrás da minha porta como crianças.
Win se aproximou da irmã, suavizando a expressão.
— Nin, você precisa descansar. Amanhã decidimos os próximos passos.
Ela suspirou, o olhar alternando entre os dois.
— Então façam isso. Decidam. — E fechou a porta.
O corredor voltou ao silêncio.
Jay apoiou-se na cadeira e murmurou:
— Ela é mais forte do que você imagina.
Win replicou de imediato:
— Não fale dela. Você não tem esse direito.
Jay levantou-se devagar, a altura dele se impondo no espaço estreito. Os dois agora estavam frente a frente, perto demais. O ar pareceu aquecer.
— Eu a protegi hoje — disse Jay, baixo, quase um sussurro. — Quando a bala veio, quem a derrubou no chão fui eu. Quem cobriu o corpo dela fui eu.
Win cerrou os punhos.
— Eu teria feito o mesmo.
Jay inclinou-se levemente para a frente, os olhos cinzentos faiscando.
— Mas não fez.
O silêncio que se seguiu era quase insuportável. Win não recuou. Pelo contrário, avançou meio passo, o peito quase tocando o de Jay.
— Você gosta de me provocar, Volkov — rosnou Win. — Mas cuidado. Raiva não é o único fogo que eu sei acender.
Os olhos de Jay desceram por um instante para a boca de Win antes de voltar a fixá-lo no olhar.
— Então queime — murmurou. — Vamos ver quem suporta mais.
Um segundo a mais, e talvez tivessem cruzado uma linha da qual não voltariam. Mas o som de passos no fim do corredor os afastou.
Ton apareceu, mãos no bolso, expressão neutra.
— Revezamento da guarda — anunciou, sem emoção. — Dois homens vão assumir o turno.
Win recuou um passo, mantendo o olhar preso em Jay até o último instante.
— Amanhã discutimos o resto.
Jay apenas retomou a cadeira, sem responder, mas a tensão permanecia suspensa no ar como fumaça de pólvora.
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Horas depois, Nin não conseguia dormir. Do lado de fora, sentia os passos pesados, as vozes baixas, e sabia que o corredor não era apenas segurança: era uma arena silenciosa. Uma parte dela temia que os dois se matassem antes mesmo do casamento. Outra… não sabia se temia ou desejava que o ódio deles se transformasse em algo mais.
Ela fechou os olhos, mas as sombras da noite não apagaram o som que vinha de fora: duas respirações firmes, em ritmos diferentes, dividindo o mesmo espaço.
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Atualizado até capítulo 43
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