A noite estava silenciosa demais. Nova York nunca parava, mas no apartamento de Elara, o silêncio pesava como um presságio. O relógio da cozinha marcava pouco depois da meia-noite quando um clique suave rompeu a quietude: a fechadura girando sozinha.
Elara se ergueu imediatamente, o corpo em alerta. O instinto lupino rugiu dentro dela, pedindo que avançasse, que defendesse o território. Mas antes que pudesse reagir, uma voz conhecida sussurrou da penumbra:
— Não grite. Sou eu.
Maya entrou como uma sombra elegante. A bruxa viajava leve, sem malas, como se a própria cidade fosse seu lar. Usava um sobretudo escuro e o cabelo solto, ainda úmido da garoa. Normalmente, trazia no rosto um sorriso provocador, cheio de vida. Mas naquela noite, sua expressão era séria, marcada pela preocupação.
— Os escudos estão enfraquecendo — disse sem rodeios, fechando a porta atrás de si. — É como tentar costurar uma rede de pesca com teias de aranha. Alguém está cutucando minhas proteções de propósito.
Elara sentiu o estômago se contrair. Contou, em voz baixa, sobre o vampiro sob a chuva e a runa encontrada na biblioteca. Cada palavra parecia pesar toneladas, como se confessar tornasse a ameaça ainda mais real.
O rosto de Maya empalideceu. Ela andou até a janela, puxando um pouco da cortina para observar a rua lá embaixo.
— Elara… isso não é um ataque aleatório. É um jogo. Eles sabem quem você é. Estão mandando recados. Estão se divertindo em te caçar.
O silêncio que se seguiu foi denso. A bruxa se virou, os olhos castanhos agora duros como pedra.
— E eles não vão parar.
Elara apoiou as mãos na mesa, tentando se firmar. — O que eu faço, Maya? Eu não posso lutar contra eles. Não sozinha. Mas também não posso colocar Leo em perigo.
Maya respirou fundo, como quem se preparava para dizer algo que sabia que não seria bem recebido.
— Você tem uma opção. Uma que evita até pensar há seis anos.
Elara já sabia. O coração bateu mais forte. — Não. Absolutamente não.
— Ele é o Supremo Alfa! — Maya insistiu, dando um passo à frente. — O único que pode enfrentar um clã de vampiros antigos e sair vitorioso. Ele tem guerreiros, tem um exército inteiro sob comando!
A lembrança de Kael invadiu Elara como uma faca afiada. O cheiro de pinho e tempestade que o cercava, a risada grave, a forma como a presença dele preenchia todos os espaços. E depois, a dor. A escolha de abandoná-lo.
— Ele também é o homem que eu deixei para trás! — retrucou, a voz embargada. — O homem cujo coração eu quebrei. Ele me odeia, Maya. E mesmo que não odiasse… o que você acha que ele faria se soubesse de Leo? Ele o levaria. Ele o moldaria como herdeiro, como soldado, preso ao mesmo mundo de política e sangue do qual eu fugi para protegê-lo!
Os olhos de Maya suavizaram, mas sua voz manteve a firmeza. — E isso é pior do que vê-lo morto?
A pergunta pairou no ar como uma sentença cruel. Elara não respondeu. Não conseguia.
Nesse momento, uma porta se abriu.
Leo apareceu no corredor, esfregando os olhos sonolentos, abraçado a um T-Rex de pelúcia.
— Mamãe? — a voz infantil cortou a tensão. — Ouvi gritos.
Elara se apressou até ele, ajoelhando-se e envolvendo o menino em um abraço apertado. O cheiro do filho, quente e inocente, a fez quase chorar.
— Não foi nada, meu amor. Só um filme barulhento na TV — mentiu, a voz suave.
Leo piscou os olhos dourados para Maya e depois para a mãe. Ele parecia pequeno, mas havia algo nele que percebia mais do que deveria.
— O homem mau está vindo? — perguntou, em tom baixo, como se tivesse captado a essência da conversa mesmo sem entender as palavras.
Elara engoliu em seco. O coração dela se partiu. Ele sentia. De algum modo, o poder dentro dele percebia o perigo que se aproximava.
Maya se ajoelhou diante do menino, os olhos gentis. — Não se preocupe, pequeno guerreiro. Sua mãe é a mulher mais forte que eu conheço. E ela tem amigos. Nós não vamos deixar o homem mau chegar perto de você.
Leo parecia acreditar, mas Elara não. O aperto que sentiu no peito ao ver o olhar sério de Maya por cima da cabeça do filho dizia a verdade: os amigos não seriam suficientes, os feitiços não seriam suficientes, e nem mesmo sua própria força seria.
Havia apenas uma pessoa no mundo que poderia ser suficiente.
E ele estava a um continente de distância, reinando sobre um território que Elara havia jurado nunca mais ver.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Maria Aparecida Alvino
Elara vá atrás do pai dele ou prefere seu filho morto
2025-09-03
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