Ana continuava atravessava os becos do Morro da Penha com a mochila nas costas, respirando fundo. seu curso era realizado dentro da clínica comunitária do próprio morro. Ela adorava estar ali, rodeada de sangue falso, vacinas e kits de coleta. No caminho, encontrou algumas colegas do curso.
— Oi, Ana! — chamou Juliana, sorrindo. — Vai fazer a aula prática de hoje?
— Claro, amo cuidar das pessoas — Ana respondeu, ajustando a mochila. — Mas vocês vão ter que correr, porque hoje eu tô afiada.
Chegando à clínica, Ana percebeu algo que a fez parar no corredor. Uma família sentada na sala de espera… e ele. LC. Ela congelou ao vê-lo sentado, tatuagens expostas, sério, segurando a filha Júlia no colo enquanto ela tomava a vacina. Ele falava baixinho com ela, fazendo-a rir, enquanto acariciava os cabelos da menina.
Ana desviou o olhar rapidamente, tentando não ser notada, mas sentiu o coração disparar. Cada movimento dele parecia calculado, imponente, mas ao mesmo tempo havia um lado humano ali, que ninguém via.
Ele olhou de relance para Ana, os olhos sombrios cruzando os dela por um instante. Ela rapidamente desviou o olhar, sentindo o rosto esquentar. Depois, viu quando ele se levantou, pegou a filha e saiu calmamente da clínica, deixando atrás o silêncio e a tensão.
Enquanto isso, a aula começava. Ana estava concentrada, hoje a prática era coleta de sangue e administração de vacinas. Ela era rápida e precisa: enquanto algumas colegas erravam as veias, hesitando, Ana já pegava a amostra perfeita, sorrindo com a confiança de quem amava aquilo. Cada gesto era delicado, cada cuidado genuíno. Ela adorava cuidar das pessoas, e aquela habilidade a destacava entre todos.
Após a aula, já cansada mas satisfeita, Ana voltava para casa. Ao dobrar a esquina, parou abruptamente: o mesmo carro que quase a atropelou estava parado em frente ao portão da sua casa. O coração bateu mais rápido. Ela começou a andar devagar, cada passo pesado, até chegar perto.
Na calçada, viu sua mãe conversando com LC, sério, mas calmo. Ana instintivamente abaixou a cabeça, tentando desaparecer, mas ele ergueu o olhar e os olhos escuros cruzaram os dela por um segundo. Ana engoliu em seco e continuou firme, olhando apenas para o chão. Depois de alguns minutos, LC se afastou, entrando no carro e indo embora, sem dizer nada, mas deixando a tensão pairando no ar.
Ao entrar em casa, Maria parecia mais relaxada, um sorriso tímido nos lábios.
— Ana… ele deixou. — disse a mãe, apontando para o restaurante. — Você pode ficar com o lugar. Mas tem uma condição: vai ter que dar comida de graça para todos os vapores.
Ana arregalou os olhos, surpresa.
— O quê? Todos os vapores?
Maria assentiu:
— Ele disse que a sua quentinha é a melhor do morro, e que o seu pai amava o lugar. Mas não precisa ficar no prejuízo… cobrou um preço baixo pra você não perder demais.
Ana respirou fundo, sentindo a responsabilidade pesar. Era uma oportunidade, mas também um desafio enorme. O mesmo morro que quase a atropelou, que a aterrorizava com olhares e histórias de sangue, agora confiava nela para alimentar quem governava aquele lugar.
Ela suspirou, encarando a rua silenciosa do morro, e por um instante se sentiu no meio de dois mundos: o da sua paixão pelo cuidado, pela enfermagem, e o do poder e perigo que LC comandava.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Maria Nogueira
Oi autora eu tenho 70 anos meu lazer e LER este é meu primeiro livro seu que estou lendo tô amando adoro estórias de morro sua escrita muito boa
2025-09-03
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Leitora compulsiva
primeiro olhares 🩵💖
2025-08-30
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