Ana
O sol já queimava baixo no céu, mas o Morro da Penha continuava pulsando com o som distante de funk e o barulho das barracas e becos. Ana ajeitava o caderno de enfermagem na mochila, pronta para mais um dia de estágio dentro da favela. Ela tinha 18 anos, recém-saída do ensino médio, e fazia um curso de enfermagem ali mesmo, no coração do caos. A cabeça sempre cheia de fórmulas, cuidados e protocolos, mas o coração apertado com a vida ao redor.
No pequeno apartamento, Maria, sua mãe, conversava animada com Ana sobre o restaurante do falecido Luiz.
— Ana, você já pensou? Alugar o restaurante do seu pai seria uma ótima ideia. O morro tem respeito por ele… talvez até pelo meu falecido marido. — Maria falava, tentando convencer a filha.
Ana, com os braços cruzados, hesitou:
— Mãe… eu não sei, sabe? Eu… tenho medo do LC. Ele não libera o lugar pra ninguém. Eu ouvi falar… ele é frio, calculista… ninguém mexe com ele.
Maria suspirou, calma, mas firme:
— Ana, escuta. Ele tinha maior respeito pelo seu pai. Se alguém pode deixar o restaurante nas mãos certas, talvez ele seja esse alguém.
Sem perder tempo, Maria pegou o telefone e chamou um dos vapores:
— Vai lá, passa o recado pro LC. Diz que eu quero conversar sobre o restaurante. E faz direito, hein. — O vapor assentiu e saiu apressado, sabendo que ali não se brincava.
Mais tarde, Ana estava no quarto com Bianca, sua irmã de 20 anos, que sempre estava ligada na noite, bailes e tudo que envolvesse o morro. Bianca se jogou na cama, mexendo no celular.
— Mano… eu vi o WL ontem… — Bianca começou, os olhos brilhando. — Ele é um sonho, tão gostoso… queria muito dá pra ele.
Ana quase caiu pra trás de susto.
— Credo, Bianca! Ele não presta! É assassino! Mas… — a voz baixou, quase um sussurro — o que me dá mais medo mesmo é o LC. Você viu como ele corta a língua de alguém só por dizer o nome dele em público? Ele não perdoa nada.
Bianca rolou os olhos, rindo:
— Ana, você é muito medrosa…
Ana suspirou, pegando o caderno.
— É sério, Bia. E… tem a filha dele também, a Júlia, de dois anos. O rumor é que a ex-mulher dele o traiu, fugiu com outro cara e deixou a criança com ele. Por isso ele nunca se envolveu sério com ninguém. Imagina, ele é forte, mas tem o lado humano escondido… só que ninguém vê.
Bianca cruzou os braços, meio intrigada, mas não quis discutir mais. Ana olhou para a janela, pensativa, sabendo que aquele mundo era perigoso, e que toda decisão ali precisava ser calculada.
Saindo de casa, mochila nas costas, Ana caminhava rápido para o curso de enfermagem. A rua parecia mais viva, os sons mais altos, cada passo ecoando pelo asfalto. De repente, um carro passou voando, quase a atropelando.
Ela caiu no chão com força, batendo as mãos na poeira. O coração disparado, olhos arregalados. Maluco… quase morri aqui, pensou. Levantou-se rápido, sacudindo a poeira, respirando fundo:
— Caraca… maluco… que susto.
Continuou seu caminho, ainda tremendo por dentro, mas firme. Sabia que cada dia no morro era uma mistura de cuidado, respeito e sorte. Cada passo podia ser decisivo. E ela precisava estar preparada.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 73
Comments
Izabel Cruz
e bem assim /Heart//Heart/
2025-09-04
1
Leitora compulsiva
já vi td ela com Lc e a irmã com o wl 🩵💖
2025-08-30
1