O ronco da moto cortava a noite como lâmina. LC descia os becos da Penha, sem pressa, o farol iluminando o morro. Chegou ao QG, o lugar dele, garagem cheia de motos, caixa de som ligada com funk rolando baixo. Jogou a moto no suporte e entrou, passando direto pela segurança. No canto, fumava um baseado, a fumaça subindo preguiçosa, enquanto os vapores circulavam discretos.
De repente, a porta se abriu com estrondo. Luísa entrou, loira, corpo escultural, com o perfume invadindo o ambiente. LC franziu o cenho, os olhos faiscando.
— Luísa… — começou, frio, a voz baixa mas firme.
— Oi… — ela disse, meio sem jeito, mas firme, tentando ignorar a tensão.
LC bufou e jogou o baseado na mesa.
— Os vapores deixaram você entrar? — a voz carregada de raiva. — Valores, cê perdeu a cabeça ou quer levar bala aqui dentro?
Valores engoliu seco, já arrependido.
— Mano… foi… eu deixei ela passar…
— Foi?! — LC explodiu. — Foi o quê? Essa garota fez o maior escândalo na porta, e você deixa entrar? Tá pensando no que?
Luísa, ainda meio assustada, tentou falar:
— Eu só… queria falar com você…
LC a cortou, frio como sempre:
— Quando eu quiser comer, eu chamo. Entendeu? Mais uma vez indo atrás de mim, Luísa… vai pra salinha.
Ela engoliu seco, os olhos brilhando, e ficou calada. LC respirou fundo, voltou a se sentar, acendendo outro baseado, mas a tensão ainda pulsava.
Nesse instante, a porta da sala se abriu com estrondo. WL, o irmão gêmeo, entrou acompanhado de Valores.
— Lucas… — WL chamou, sorrindo.
— Não me chama de Lucas mais uma vez na frente dos vapores, mano. — LC cortou, sem levantar os olhos. — Se fizer isso de novo, eu conto a língua dela.
WL riu, sacudindo a cabeça, e LC continuou falando sobre os negócios do morro:
— A contabilidade tá limpa, mas tô de olho na dona Maria, viúva do falecido Luiz, braço direito do meu pai. Quer alugar o restaurante que ele deixou. Pensa que é fácil? Não é. Pouca gente tem acesso, mano. Esse lugar é mais desejado que ouro. Beleza vista da favela, ponto estratégico. Eu não alugo pra qualquer um. Só vou pensar em alugar pra ela porque é ex do parceiro. Depois eu vou lá falar pessoalmente.
O clima esfriou, os vapores respirando fundo, sabendo que LC era rei e ninguém ousava contestar.
Quando finalmente saiu do QG, a lua já despontava sobre o morro. Chegando em casa, viu sua irmã Carol, 15 anos, jogada no sofá com umas amigas. As meninas se levantaram, todas com fogo nos olhos ao ver LC, mas ele nem ligou. Passou reto, subindo as escadas.
Do corredor, ouviu risadas suaves e um som de passos correndo. Júlia, sua filha de 2 anos, correu chamando:
— Papai!
O gelo do morro não existia ali. LC se abaixou, pegando a neném no colo, sentindo o calor dela.
— Já era hora de ir dormir, pequena. — disse, sorrindo pela primeira vez naquela noite.
Subiu com ela até o quarto, embalando cada passo, conversando baixinho, fazendo a menina rir. Colocou-a na cama, cobrindo com cuidado, beijando a testa dela:
— Boa noite, meu anjo…
Quando saiu do quarto, se jogou na própria cama, exausto. Mas por alguns instantes, a fúria, o poder e o medo que ele gerava na Penha sumiram. Só restava o som suave da respiração da filha, e o calor que nenhum morro podia comprar.
Fora dali, o mundo podia tremer. Mas ali dentro, LC era só pai.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Leitora compulsiva
ele tem um refúgio no meio do caos 🩵
2025-08-30
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Izabel Cruz
que lindo/Heart//Heart//Heart//Heart//Heart/
2025-09-04
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