4º capítulo - Um abraço que nunca veio

Alguns dias depois daquela conversa com Rosa, algo mudou em minha rotina. Fui chamada por uma das mulheres do clã para ir ao quarto onde ela trabalhava. Meu coração batia rápido, uma mistura de curiosidade e receio.

Lá, uma costureira sorridente me fez sentar em um banquinho e começou a tirar minhas medidas. Cada passo dela parecia ritualístico, e eu não entendia direito o que estava acontecendo.

— Isso é para um vestido especial — disse ela com um sorriso, segurando o tecido colorido. — Algo à altura de uma futura noiva.

Fiquei gelada. Noiva? Ainda nem sei direito o que isso significa! Eu só tinha sete anos! Para mim, aquilo parecia uma loucura.

— Mas… eu não… — comecei a gaguejar, confusa.

Foi então que a mulher responsável pela minha educação no castelo se aproximou, colocando a mão sobre meu ombro. Seus olhos eram firmes, mas gentis.

— Alina, eu sei que é difícil de entender agora — disse ela. — Mas tudo será mais fácil se você ouvir. E te prometo algo: no dia em que o vestido estiver pronto, você finalmente verá sua mãe.

Meu coração quase saltou do peito. Minha mãe… finalmente! Depois de sete anos, eu a veria novamente! Imaginei seu sorriso, seu cheiro, a forma como me embalava nos braços. A esperança cresceu dentro de mim como uma chama acesa.

— Ela… ela vai estar lá? — perguntei, quase sem acreditar.

— Sim — respondeu a mulher. — Ela virá para a cerimônia. Tudo ficará bem.

Segurei firme na mão da mulher, tentando absorver cada palavra. A promessa da presença da minha mãe transformou a minha ansiedade em uma estranha sensação de coragem. Mesmo sabendo que algo grande estava por vir, eu senti que não estava completamente sozinha.

Contava os dias para que aquele momento chegasse, e pela primeira vez em minha vida não reclamei das joias, do cabelo longo trançado e cacheado, da maquiagem pesada ou das roupas desconfortáveis. Na minha cabeça, só havia uma coisa: Ver minha mãe.

Enquanto eu me maquiava, Hector apareceu à porta do quarto. Espiou para dentro, fez um sinal com a mão e sorriu. Ele também estava muito bem arrumado, com uma roupa de festa impecável.

— É verdade… — disse ele, baixinho, olhando para mim. — Fiquei sabendo há pouco. Eles querem nos casar.

Sorri, animada, sem sentir medo.

— Não estou preocupada — respondi. — Minha mãe estará aqui, e certamente dirá que isso é uma loucura!

Hector arqueou uma sobrancelha, um pouco duvidoso.

— Acha mesmo?

— É claro! — garanti, confiante. — Minha mãe não vai deixar que nada de ruim aconteça comigo. E, sendo você meu amigo, sei que ela vai te proteger também.

Mais tarde naquela tarde nós descemos para o jardim, olhei ao redor vendo a belíssima decoração que enfeitava tudo, como era de se esperar uma enorme fogueira foi acesa no pátio, na nossa tradição o fogo era uma espécie de purificador, e normalmente em rituais e cerimônias ele estava presente, Hector fez um sinal para mim e eu corri entre as pessoas até onde ele estava, escondemo-nos em baixo de uma das mesas que estava arrumada olhando de longe outro casal.

- Por que me chamou até aqui?

- Papai me falou que eles vão se casar no mês que vêm... – Ele disse apontando para o casal que estava abraçado\, eu olhei de relance para os dois\, os conhecia apenas de vista.

- E daí?

- Ele já beijou ela três vezes\, na boca! – Falou ele horrorizado\, meu rosto se contorceu de nojo e nesse exato instante o casal voltou a se beijar\, fechei os olhos com pavor.

- Você não vai me beijar vai?

- É claro que não\, Santa Sara que me livre disso! – Falou botando a língua para fora apavorado com a ideia.

- Perfeito então\, estamos acertados\, nada de beijo!

Eu disse para ele apertando nossos dedos minguinhos como se estivéssemos selando uma promessa muito importante, ele aceitou garantindo, não haveria nenhum beijo entre nós, aquilo era nojento demais.

Um tempo depois, o ritual começou. Eu e Hector demos as mãos e ficamos nos encarando de frente. Ele me presenteou com um colar de moedas douradas, pesado contra o meu peito, e eu o presenteei com pulseiras de ouro, que brilharam em seus pulsos como se fossem correntes.

Esperei.

Esperei alguém interromper. Esperei um grito, um protesto, uma voz que dissesse que aquilo não fazia sentido, que éramos apenas crianças e que tínhamos direito a viver a nossa infância. Mas ninguém disse nada. Ao contrário… todos pareciam encantados com o que acontecia diante de seus olhos, como se fosse o maior dos privilégios.

Com o tempo, comecei a perceber: isso também fazia parte da cultura, isso não era um erro ou uma peça cruel contra mim. Acontecia com todos… ou melhor, com todas aquelas que tinham a “sorte” de serem prometidas, como Rosa costumava dizer. Sorte? Eu não conseguia acreditar nisso.

Nada foi como eu esperava. Minha mãe não se aproximou. Nem meu pai. Ele tinha o rosto sério, como se estivesse ali apenas para cumprir um dever. E ela… ela tinha medo nos olhos. Medo e impotência. Seus lábios tremiam como se quisessem me chamar, mas não ousavam. Será que concordava com aquilo? Não parecia feliz.

Minha irmã, que eu nunca havia visto antes, estava ao lado deles. Dois anos mais nova, tão parecida comigo… mas com diferenças que gritavam aos meus olhos: os cabelos lisos e escuros como os deles, olhos igualmente sombrios. Já eu, com meus cabelos cacheados, olhos esverdeados e a pele mais bronzeada, estava adornada como uma boneca viva.

“Uma boneca…” murmurou uma mulher, aproximando-se da mãe de Hector. “Seu filho e ela serão abençoados com belos filhos.”

Enruguei a testa. Filhos? Não… não era possível que estivessem mesmo levando isso a sério, que vissem em mim, uma criança, o futuro de uma família. Senti um arrepio me percorrer a espinha.

Por um instante, pensei em soltar as mãos de Hector e sair correndo. Queria fugir, queria me esconder, queria me agarrar ao colo da minha mãe e pedir que me tirasse dali. Mas o que eu poderia fazer? Para onde eu iria? Eu era apenas uma criança. E uma criança não sobreviveria do lado de fora.

Fiquei esperando por um abraço de meus pais.

Fiquei esperando por um carinho, por um gesto simples que me fizesse acreditar que ainda era amada. Talvez, pensei, eles fossem querer me levar com eles… mas não. Eles mal me olhavam, como se soubessem que eu já não lhes pertencia.

Vi minha mãe se aproximar da mãe de Hector e corri sorridente até ela. Pela primeira vez, senti seus dedos acariciarem meu rosto. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e por um instante meu coração se encheu de esperança. Mas logo meu pai se aproximou e, como se fosse um feitiço, ela tremeu e recolheu a mão. Terminou o que conversava e se afastou. Antes de ir embora, olhou para trás uma última vez — e aquele olhar partiu meu coração.

Eu não entendia o que acontecia, mas era visível que ela não estava feliz. Será que meu pai não percebia? Ou será que simplesmente não se importava?

Caminhei sozinha até as chamas da fogueira e fiquei olhando fixamente para o fogo. Santa Sara que me perdoasse, mas se aquilo era um casamento, eu jamais me casaria. Nunca permitiria que homem algum me afastasse de quem eu amasse.

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Comments

Paula Albertão

Paula Albertão

🥲🥲🥲🥲🥲

2025-09-03

1

Paula Albertão

Paula Albertão

eitaaaaaa

2025-09-03

1

Paula Albertão

Paula Albertão

kkkkkk to duvidando

2025-09-03

1

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