2º capítulo – A árvore e o menino de olhos verdes

Eu sempre soube que não era como as outras meninas do clã. Elas pareciam aceitar com facilidade as regras, os vestidos pesados, as fitas coloridas e as joias que tilintavam como correntes disfarçadas. Eu, ao contrário, sentia tudo isso como uma prisão. Talvez fosse por isso que me chamavam de teimosa — ou ingrata.

Mas como aceitar algo que nunca escolhi? Como aceitar que até as roupas que eu vestia não me pertenciam?

Naquele dia, eu brincava com outras crianças no jardim do castelo. O sol estava quente, e o vento soprava suave, balançando as flores que rodeavam o pátio. Todos pareciam felizes correndo de um lado para o outro, mas eu olhava para uma árvore enorme que se erguia no canto. Seus galhos se abriam como braços convidativos, e eu tive certeza de que ela me chamava.

Eu queria subir. Queria sentir o vento no rosto, olhar o mundo lá de cima e fingir, por um instante, que era livre.

Mas o vestido comprido que eu usava me atrapalharia. Então, sem pensar muito, corri até meu quarto e troquei a roupa por um par de calças velhas que encontrei entre os baús dos meninos. Elas eram largas, cheiravam a poeira, mas me deram uma sensação que nunca havia sentido antes: a de poder ser eu mesma.

Subi na árvore com facilidade, rindo sozinha, sentindo a casca áspera sob minhas mãos e a altura aumentando a cada passo. Do alto, o castelo parecia menor, e por um instante, eu também me senti maior do que todas as regras.

Mas a alegria durou pouco. Uma das mulheres do clã me viu e gritou meu nome. Logo estava no chão, cercada de olhares de reprovação.

— Onde já se viu, uma menina de calças? — resmungou uma delas. — Isso é vergonha, é falta de honra!

— Meninas devem se portar como damas, não como moleques — disse outra, enquanto me encarava como se eu fosse um erro.

O calor subiu ao meu rosto, e antes que alguém percebesse minhas lágrimas, saí correndo. Corri pelos corredores de pedra, até encontrar um canto escondido nos fundos do castelo. Ali, sentei-me, abracei os joelhos e deixei o choro sair.

Era em momentos assim que mais sentia falta dela. Da minha mãe. Eu não lembrava direito de seu rosto — apenas fragmentos, um cheiro doce, a sensação de braços quentes ao meu redor. Lembranças tão vagas que doíam ainda mais, como se minha mente me castigasse por esquecer. Ela havia sido tirada de mim antes mesmo que eu pudesse amá-la como queria. E eu me perguntava, todos os dias, se ela também pensava em mim.

Foi então que ouvi passos leves. Levantei os olhos e vi um menino parado diante de mim. Ele era mais alto que eu, devia ter uns nove anos. Os cabelos castanhos caíam sobre a testa, e os olhos… os olhos eram de um verde tão claro que pareciam guardar dentro deles todo o frescor das manhãs.

Ele me olhou sério, mas não havia julgamento em seu olhar. Apenas curiosidade.

— Por que está chorando? — perguntou com uma voz calma.

Limpei as lágrimas rápido, tentando parecer forte. — Não é da sua conta.

Ele arqueou uma sobrancelha e deu de ombros. — Tudo bem. Mas se quiser me contar… eu sei guardar segredos.

Hesitei. Ninguém nunca tinha falado comigo daquele jeito. Ninguém nunca tinha me oferecido escuta.

— Elas disseram que eu não posso usar calças… que eu deveria ser como todas as meninas. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele me observou por um instante e depois sorriu de lado. — Acho que calças ficam bem em você.

Aquela frase, simples e inesperada, aqueceu meu coração como se fosse um abraço. Sorri também, tímida, e naquele instante, senti que tinha encontrado um amigo.

— Meu nome é Hector — disse ele, estendendo a mão.

Olhei para a mão dele, depois para os olhos verdes que me fitavam com uma gentileza que eu nunca havia visto antes.

— Alina. — Apertei sua mão, sem imaginar que aquele aperto seria o primeiro elo de uma história que mudaria minha vida para sempre.

Eu ainda não sabia disso, pois na verdade tudo me parecia um grande mistério quando se referia a minha família, mas de fato minha mãe ainda pensava em mim, seus dias tinham se tornado cinza com minha partida, porém com o tempo ela recuperou-se e teve inclusive outra filha, outra menina Dalila, minha irmã que eu não conhecia.

Hector era filho de Rami, o chefe do clã e por isso era tratado como um verdadeiro príncipe dentro do castelo, ser amiga dele era a melhor coisa que poderia ter me acontecido, por que me permitia mais liberdade.

- Acha que sua mãe virá buscá-la um dia? – perguntou ele em dado momento me olhando enquanto eu me lambuzava comendo amoras.

- Não sei\, eu quero acreditar que sim\, eu quero acreditar que um dia ela passará por aquele portão e dirá a todos que eu sou a filha dela e que nada a impedirá de me levar para casa.

- E onde imagina que seja a sua casa?

Parei pensativa olhando para o nada.

- Não sei\, mas acho que eu seria feliz lá\, sem todas essas regras sobre conduta e vestimentas.

- Você odeia tanto assim suas roupas?

- Não gosto de vestidos\, não gosto de vermelho\, rosa\, laranja\, essas cores não me agradam\, também não gosto dos babados\, das fitas ou das rendas\, minhas orelhas doem com esses brincos e sinceramente? Tudo que eu mais queria era poder vestir um par de tênis\, mas mesmo no frio do inverno sou obrigada a usar sandálias. – Suspirei.

Ele riu.

- Eu gosto do jeito como se veste\, é bonito\, mas sabe o que gosto mais?

Olhei enfiando mais de uma amora na boca ao mesmo tempo.

- O que? – Disse de boca cheia.

- A cor dos seus olhos\, nunca vi olhos tão lindos.

Meus olhos eram de um tom azul esverdeado que contrastava com a minha pele mais bronzeada, sim eu também gostava muito deles, sorri para ele, Hector era extremamente gentil e sem dúvidas meu melhor amigo.

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Comments

Paula Albertão

Paula Albertão

e la vem ele kkk

2025-09-02

1

Paula Albertão

Paula Albertão

/Sob//Sob//Sob//Sob//Sob/

2025-09-02

1

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