O escritório de advocacia fervilhava em reuniões, telefonemas e vozes apressadas, mas Miranda estava distante. O relógio sobre a mesa marcava dez da manhã e, desde as oito, nenhum documento parecia prender sua atenção. O rosto de Alice surgia entre as letras dos contratos, sua voz insinuava-se nas pausas do silêncio, e até a gravata impecavelmente alinhada de um estagiário lhe pareceu ridícula, quando comparada à nudez insinuada daquela mulher.
Era advogada de renome, sócia de um dos escritórios mais respeitados da cidade. Estava acostumada a dominar salas de audiência, intimidar adversários e conquistar clientes milionários. Mas, naquela manhã, não conseguia dominar a si mesma. O corpo clamava, a mente gritava — preciso vê-la de novo.
A resistência foi curta. Ao meio-dia, com o coração batendo como em um julgamento decisivo, Miranda pegou o celular, abriu o número salvo em silêncio na noite anterior e fez a ligação. A voz calma e controlada que usava em negociações tremeu ao pedir o encontro imediato. Pagaria mais caro, bem mais, se fosse preciso. O dinheiro não importava.
Alice aceitou sem hesitar.
Miranda chegou ao flat em passos firmes, o som dos saltos reverberando como uma sentença. Usava um vestido social que moldava suas curvas com precisão, o tecido negro contrastando com a pele clara. O coque alinhado mantinha seus cabelos negros presos, mas deixava escapar a sensualidade natural que nem o rigor dos trajes de trabalho conseguia apagar. Tinha trinta e oito anos, mas carregava a aura de uma mulher que sabia o peso e o alcance de cada olhar.
Quando a porta se abriu, Alice a recebeu com um sorriso que parecia cortante. Seus olhos brilhavam com o mesmo desafio da noite passada. Aproximou-se dela, o perfume doce invadindo o ar, e sussurrou em seu ouvido, a boca quase tocando sua pele:
— Voltou logo… Dessa vez é para possuir meu corpo?
Miranda riu alto, o som grave e surpreendente quebrou o clima calculado. A mão firme a empurrou contra a parede, fazendo Alice sentir a dureza fria do concreto às costas. Aproximou-se de seu ouvido e devolveu o sussurro, a voz carregada de um sarcasmo ardente:
— Não. Só quero saber mais sobre você.
Alice não esperava. Ficou por um instante sem saber como reagir, mas logo disfarçou com um riso rouco, fingindo controle. Seguiu com o olhar Miranda se afastar, passos lentos, quase felinos, até a ampla janela de vidro que descortinava a cidade em movimento.
A cortesã, habituada a ser o centro do desejo, sentou-se em uma poltrona próxima. Abriu as pernas deliberadamente, um convite silencioso, quase uma provocação. Queria testá-la, medir a resistência da advogada. Mas Miranda, ao invés de se render ao óbvio, desviou o olhar para o sofá ao lado e se acomodou nele, cruzando as pernas com elegância. Seus olhos penetrantes fixaram-se no rosto de Alice, sem dar à provocação a menor recompensa.
O silêncio entre elas carregava tensão, uma eletricidade palpável. Até que Miranda, ainda sem desviar o olhar, quebrou o jogo com uma pergunta inesperada:
— Me fale… como foi sua primeira cliente?
A voz era firme, mas havia algo escondido ali: curiosidade, desejo de decifrar, fome de conhecer não apenas o corpo, mas a essência de Alice.
Alice respirou fundo, os lábios se curvando num sorriso lento. Aquela mulher era diferente de todas as outras. Queria despir sua alma antes de despir seu corpo.
E isso a excitava ainda mais.
Alice se recostou na poltrona, as pernas abertas, a postura calculada para provocar, mas o olhar fixo de Miranda a desarmava. Aquela mulher não parecia interessada em seu corpo exposto, mas naquilo que Alice guardava por trás dele.
Um silêncio tenso se formou. Miranda cruzou as pernas devagar, o vestido social deslizando até a metade da coxa, e arqueou uma sobrancelha.
— Me fale… como foi sua primeira cliente? — perguntou, a voz firme, como se estivesse interrogando uma testemunha no tribunal, mas havia um traço de desejo disfarçado no tom.
Alice respirou fundo. Não era comum falar do passado, muito menos do início. As clientes compravam prazer, não confissões. Mas havia algo na presença de Miranda que a empurrava para a sinceridade, mesmo que isso significasse se expor.
— Eu tinha vinte e três anos — começou, a voz baixa, quase um segredo. — Ingênua, no começo. As clientes me ensinaram a ser quem eu sou hoje. Cada uma deixou uma marca, algumas superficiais… outras profundas.
Os olhos de Miranda não desviaram nem por um segundo.
— Mas a primeira… — Alice suspirou, um sorriso lento surgindo em seus lábios. — A primeira eu nunca esqueci.
Houve um brilho nos olhos dela, uma lembrança que parecia arder ainda viva.
— Ela não teve piedade da minha inexperiência. Foi violenta… mas de um jeito bom, entende? — Alice ajeitou-se na poltrona, a mão deslizando inconscientemente pela própria coxa. — Me fez gozar tantas vezes em seis horas que eu perdi a conta. Me quebrou e me reconstruiu na mesma noite.
Miranda mordeu o lábio, tentando conter a imagem que se formava em sua mente.
— Ficamos três meses assim. Ela vinha sempre. Eu… quase me apaixonei. — Alice deu uma risada curta, amarga. — Mas um dia ela simplesmente foi embora. Deixou o Brasil. Nunca mais a vi.
A sala ficou carregada de silêncio. Miranda apertou as unhas contra a palma da mão, como se quisesse conter o calor que subia por dentro de si.
Alice, percebendo a reação, inclinou-se para frente, o olhar queimando:
— Talvez tenha sido naquele dia que eu aprendi a não fingir. Nem prazer, nem sentimentos. Porque quando é real… não há como esconder.
Miranda desviou o olhar para a janela, mas era inútil: a lembrança que Alice acabara de partilhar já pulsava dentro dela como uma confissão íntima, proibida, e inevitavelmente erótica.
Alice sorriu, satisfeita com o efeito. Miranda não precisava admitir — estava escrita em seus olhos a contaminação que começava a se espalhar.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Daniele Cleffsdasilva
Será que Miranda vai conseguir o coração de Marcela ou Miranda vai descobrir quem é Alice de verdade autora continua pfv estou muito curiosa pra saber
2025-09-02
7
Maria Andrade
Miranda já está super envolvida, essa história promete
2025-09-02
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