Alice.
Era assim que Marcela escolheu ser chamada quando cruzava a fronteira entre a vida real e o mundo que construiu para sobreviver. O nome verdadeiro era íntimo demais, sagrado demais. Alice, ao contrário, era uma personagem. Uma máscara que ela vestia com a mesma precisão com que ajustava a lingerie rendada no corpo.
O nome veio de um filme antigo, visto na adolescência. Uma stripper que dançava como se dominasse o mundo inteiro com o giro de seus quadris. Marcela nunca esqueceu. Apaixonou-se pela liberdade da personagem, pela ousadia dos passos, pela força que se escondia naquilo que muitos viam apenas como provocação.
Agora, aos vinte e oito anos, vivia esse duplo: Marcela, a mulher estudiosa, mergulhada nos códigos e artigos de direito; Alice, a cortesã de luxo, moldada em silêncio, criada para encantar, dominar e cobrar caro.
Naquela manhã, acordou cedo. O apartamento em que morava era seu refúgio, seu lugar sagrado. Ali, não havia espaço para clientes, acessórios ou gemidos pagos. Apenas livros de direito empilhados na mesa, o som suave da cafeteira e a ordem meticulosa de quem precisava de um porto seguro.
Mas o mundo de Alice chamava.
E era por isso que, após o café, Marcela vestiu uma calça justa, amarrou o cabelo loiro em um coque alto e saiu rumo ao estúdio de dança.
No estúdio, o cheiro de madeira encerada e perfume doce preenchia o ar. A professora ligou a música, um beat grave, lento, feito para despertar desejos ocultos. Marcela respirou fundo, e então Alice tomou o controle.
Saltos altos.
Corpo arqueado.
Quadris que deslizavam em movimentos calculados, cada gesto carregado de poder.
Enquanto os espelhos refletiam a imagem da loira, havia algo além do erotismo no olhar dela. Havia uma estratégia. Marcela sabia que quanto mais refinada fosse sua performance, mais caras seriam suas horas. O stiletto não era apenas dança; era investimento. Era como decorar um artigo do Código Penal — mas, dessa vez, para aplicá-lo na pele, não no tribunal.
— Mais força no olhar, Alice! — a professora corrigiu, usando o nome que Marcela deixava escapar às vezes. Ela sorriu, consciente de que até ali sua persona já se infiltrava.
E, de fato, havia uma força. Uma intensidade que não era apenas corporal, mas emocional. Enquanto deslizava as mãos pelas próprias coxas, enquanto curvava a coluna e deixava o pescoço exposto, Marcela refletia sobre sua escolha.
Beijar, por exemplo.
Ela não beijava clientes. Nunca. O beijo, para ela, era intimidade. Sexo podia ser encenação, podia ser entrega física, podia até ser arte. Mas o beijo era real demais. E o real era dela, apenas dela.
Os minutos passaram e o suor escorreu pelo seu corpo, desenhando linhas brilhantes sobre a pele branca. Quando a música terminou, Marcela respirou fundo, arfando. Alice, por ora, estava satisfeita.
De volta ao vestiário, ela trocou o figurino por roupas discretas e guardou os saltos na bolsa. O telefone vibrou. Uma mensagem de uma cliente para a noite seguinte. O flat luxuoso que alugava já estava reservado, cheio de acessórios, cheiros e lençóis de seda.
Mas, naquele instante, no silêncio do estúdio esvaziado, Marcela permaneceu imóvel por alguns segundos diante do espelho. Fitou a si mesma.
— Quem você é agora? — murmurou baixinho.
A resposta, como sempre, ficou suspensa.
Marcela.
Alice.
Mulher.
Prostituta.
Advogada em formação.
Todas coexistindo, todas necessárias.
E enquanto caminhava pela rua ensolarada, o salto dos sapatos ecoando contra o asfalto, ela tinha plena consciência de que sua história era escrita a cada movimento de quadril — e a cada página de código que sublinhava nas madrugadas.
O flat estava impecável. Alice — nome que Marcela usava como armadura e personagem — acendeu velas discretas, espalhou taças de cristal sobre a mesa e colocou a música certa. Não era apenas um encontro; era um ritual. O nome verdadeiro ela guardava como segredo, mas Alice… Alice era liberdade, era fogo, era o personagem que ela inventou depois de ver aquele filme na adolescência. A stripper que a marcou ainda vivia nela, como um lembrete de que o corpo também pode ser arte e poder.
A campainha tocou.
Alice abriu a porta e recebeu sua cliente de dois meses. Quarenta e cinco anos, olhar seguro, pele marcada por experiências que a deixavam ainda mais atraente. Era madura, sabia o que queria e como queria. O jogo de dominação já começava no sorriso de canto que lançou para Alice, como se dissesse: “Hoje você é minha.”
Alice entregou uma pequena caixa, elegante, como quem oferece uma joia.
— Hoje trouxe novidades. — sussurrou, deixando a cliente abrir e encontrar várias dedeiras delicadas. — Para você brincar com segurança… e me deixar perder o fôlego.
A outra arqueou uma sobrancelha, excitada pelo detalhe.
— Você sempre sabe como me provocar, Alice.
A música começou. Alice calçou seus saltos finos, caminhou até o centro do quarto e deixou o corpo responder. A dança de Stiletto era um espetáculo à parte: quadris ondulando, mãos deslizando pela própria pele, cada passo ensaiado para parecer natural. O strip-tease era lento, provocador, roupas caindo peça por peça enquanto a cliente a observava, mordendo o lábio, bebendo cada movimento.
O primeiro gole de vinho veio acompanhado de risadas baixas. Alice, ainda em performance, se aproximou, sentou-se no colo da cliente e, sem pressa, deixou o decote roçar o queixo dela.
— Quero ver você perder o controle. — murmurou no ouvido.
E assim começaram. As taças de vinho foram abandonadas quando os corpos se buscaram com fome. Alice de joelhos, chupando o clitóris da cliente até sentir o corpo dela estremecer e a respiração falhar. Depois, a inversão: sua cliente se debruçando entre suas coxas, a língua firme, sem pressa, tirando dela gemidos sinceros.
Alice nunca fingia. Nunca. E era isso que mantinha aquelas mulheres voltando. Se não gozasse, dizia. Se o prazer era real, mostrava. E naquele momento, gemia sem pudor, corpo entregue, suado, vivo.
Ainda ajoelhada, Alice vestiu uma das dedeiras e deslizou os dedos pela intimidade da cliente. Penetrou-a devagar, depois mais firme, observando a mulher fechar os olhos e arfar. A cliente gemeu seu nome, arrastando cada sílaba:
— Aaaalice…
Alice apenas sorriu, o olhar profundo cravado nela, segura do poder que tinha naquele instante. Não precisava de palavras; bastava aquele sorriso para dizer tudo.
Quando o orgasmo explodiu, o flat inteiro pareceu se encher de calor. Alice se afastou devagar, tirou a dedeira, limpou-a com cuidado e voltou a sentar-se ao lado dela, rindo baixo, cúmplice. As duas brindaram com mais um gole de vinho, como se acabassem de selar um segredo.
Na pele de Alice, Marcela respirava fundo. Era mais do que sexo. Era poder, era entrega, era uma verdade que ela conseguia viver apenas ali.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Ana Faneco
Uau que história hein autora....maravilhosa
2025-09-01
2
Leslie
Está muito perfeita.
/Drool/
2025-09-01
1