O mundo parecia adormecido em uma euforia perigosa. Adrian Solari era aclamado como salvador, e sua imagem estampava muros, bandeiras e telas gigantes em cidades de todos os continentes. Seus discursos, sempre repletos de promessas, enchiam os corações de esperança. Mas esperança demais, quando cega, pode ser tão letal quanto o desespero.
As primeiras rachaduras começaram a surgir nas semanas seguintes à sua coroação. Na fronteira do Oriente, grupos armados recusavam-se a reconhecer a autoridade da Aliança Global. Povos antigos, com tradições milenares, não aceitavam dobrar-se diante de um homem vestido de branco que falava de unidade. Rebeliões começaram a eclodir.
Adrian, diante das câmeras, falava com serenidade:
— A violência é o último suspiro dos que têm medo de mudar. Nós responderemos não com espadas, mas com abraços.
O mundo aplaudia, encantado. Mas nos bastidores, Adrian convocava seus generais.
— Não podemos permitir que a chama da rebelião se espalhe. Um incêndio começa com uma faísca. Se quiserem a guerra, terão a guerra. — Sua voz era firme, os olhos brilhando com uma fúria contida.
Markus, seu conselheiro militar, inclinou-se sobre o mapa holográfico projetado na mesa.
— Tropas já estão prontas. A ordem é apenas aguardar sua palavra.
Adrian levantou-se, caminhou lentamente até a janela que dava vista para Jerusalém iluminada pela lua.
— Então que assim seja. A paz precisa de sangue para florescer.
No interior da Europa, Miriam assistia com preocupação às notícias. O mesmo líder que pregava união agora enviava exércitos para “conter insurgentes”. Nos noticiários, chamavam de “operações de pacificação”. Mas as imagens transmitidas por celulares eram bem diferentes: vilarejos em chamas, mulheres correndo com crianças no colo, jovens armados enfrentando tanques com pedras.
Os apresentadores sorriam e repetiam a narrativa oficial: “São apenas grupos terroristas. A Aliança Global garante que a paz será preservada.”
Mas Miriam sabia que a verdade estava por trás da cortina de fumaça.
Em sua sala de aula, viu seus alunos discutindo animadamente.
— Eles merecem! — disse um dos garotos. — Quem não quiser se unir, que seja destruído.
— Mas não é contraditório? — perguntou uma menina. — Ele fala de paz, mas manda matar os que não concordam.
O garoto riu, zombando.
— Paz exige sacrifício. Se alguns precisam morrer para o mundo ser feliz, que morram.
Miriam sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. A geração perdida já não sabia distinguir justiça de crueldade.
Os conflitos aumentaram. Cidades inteiras se levantaram contra o novo governo global, mas a resposta foi esmagadora. Bombardeios noturnos transformaram ruas em cinzas, enquanto os exércitos de Adrian marchavam de branco, empunhando estandartes com o símbolo da unidade. Era uma guerra travestida de libertação.
No Oriente Médio, uma rebelião feroz começou em uma cidade esquecida pelo mundo. Os moradores, cansados das promessas vazias, recusaram-se a erguer bandeiras brancas. Soldados invadiram casas, arrastaram homens pelas ruas, queimaram mercados. Mulheres gritavam, enquanto os céus eram iluminados por explosões.
Em meio ao caos, uma criança chorava segurando o corpo inerte do pai. Um soldado aproximou-se para arrastá-lo, mas o garoto ergueu os olhos com ódio ardente. Naquele momento, algo mudou. A paz de Adrian não unia corações; estava multiplicando inimigos.
As batalhas se espalharam para a Ásia, África, América do Sul. Em cada canto, surgiam vozes de resistência. Mas quanto mais resistiam, mais sangue corria. O segundo cavaleiro já cavalgava livremente pela Terra, vestido de vermelho, com uma espada em mãos, arrancando a paz de sobre os povos.
Nos noticiários, a narrativa permanecia: “Grupos terroristas foram neutralizados. A ordem foi restaurada.” Mas as redes subterrâneas mostravam outra realidade: cadáveres empilhados em praças, rios tingidos de sangue, campos transformados em cemitérios improvisados.
Adrian aparecia na televisão com olhar sereno.
— A paz está sendo atacada por aqueles que amam o caos. Mas não se preocupem: nossa vitória é certa. A unidade prevalecerá.
Milhões aplaudiam diante das telas. Outros milhões, escondidos em ruínas, choravam a perda de seus lares.
Naquela noite, Miriam sonhou com uma visão terrível. Via um cavalo vermelho atravessando os céus, e sobre ele um cavaleiro que brandia uma espada flamejante. A cada golpe, cidades inteiras desmoronavam, e multidões gritavam em desespero. Ela acordou suada, o coração acelerado.
Abriu sua Bíblia empoeirada, esquecida em uma prateleira. Suas mãos tremeram ao ler as palavras: “Saiu outro cavalo, vermelho; ao seu cavaleiro foi dado poder para tirar a paz da Terra, e para que os homens se matassem uns aos outros; e lhe foi dada uma grande espada.”
Miriam fechou os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem. Estava acontecendo.
E enquanto ela chorava, em algum lugar distante, Adrian brindava com seus generais.
— A humanidade nunca esteve tão unida — disse ele, com um sorriso gelado. — O medo é a cola mais forte que existe.
Lá fora, sirenes ecoavam, canhões rugiam, e cidades ardiam em chamas. O segundo selo havia sido aberto, e a geração perdida bebia do cálice da guerra como se fosse vinho.
O Cavaleiro Vermelho cavalgava, e a Terra inteira sangrava.
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Atualizado até capítulo 22
Comments
AUTORA💕_💕ATENA
agora está começando a ficar mais tenso
2025-08-28
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