Capítulo 8
~Autora on~
— Você pode parar de gritar? — A voz da primeira amiga saiu firme, direta, sem rodeios.
A sala inteira ficou em silêncio por dois segundos, como se tivessem ouvido algo proibido.
— Eu tô falando assim porque é o meu jeito! — a segunda amiga rebateu, levantando um pouco a voz, como sempre fazia.
Mas dessa vez, não colou.
— Não. Esse “teu jeito” é só uma desculpa pra tratar a gente mal. E eu cansei.
A segunda amiga arregalou os olhos, como se não esperasse aquela resposta.
A primeira amiga continuou:
— Você sempre foi grossa. Sempre ignorou o que a gente sentia. Sempre foi boa só quando convinha pra você.
— Tá exagerando — a segunda amiga resmungou. — Eu sou sua amiga.
— Amiga? — ela riu de canto. — Que tipo de amiga só escuta quando quer? Que grita com a gente na frente da sala inteira, mas fala manso com o garoto que vive zombando da nossa amiga? Que se importa mais com nota alta do que com o que a gente sente?
A segunda amiga cruzou os braços, desconfortável. Pela primeira vez, parecia sem respostas.
— Você nunca defendeu ela. E quando eu fiz isso, você ficou do lado dele. Mesmo sabendo o quanto ele faz mal pra ela.
— Ela exagera… — a segunda amiga começou, mas foi cortada.
— Não. Você minimiza. Você finge que não vê. Você trata a dor dela como drama. E isso não é certo.
A primeira amiga deu um passo mais perto, com os olhos firmes.
— Se você acha que é normal gritar com a gente e nos tratar como lixo só porque a gente é mais fechada, então talvez você precise rever o que é ser amiga de verdade.
A segunda amiga ficou muda. Pela primeira vez, sentiu na pele o que era ser confrontada sem suavidade.
A primeira amiga concluiu, seca:
— A partir de hoje, se quiser continuar com a gente, vai ter que mudar. Porque agora, toda vez que você for grossa, vai ouvir grosso de volta.
Ela virou as costas, com o coração disparado, mas firme como nunca.
Pela primeira vez, ela não ficou calada
Já fazia um tempo que aquilo tinha acontecido — o dia em que a primeira amiga perdeu a paciência e respondeu à altura a grosseria da segunda. Naquele momento, a sala ficou em silêncio, e a segunda amiga, pela primeira vez, escutou algo que doeu mais que um grito: a verdade.
Mas o tempo passou. E mesmo depois daquela conversa, mesmo depois de prometer mudar, a segunda amiga voltou a ser a mesma. Grossa. Rude. Fria. Voltou a gritar na frente dos outros como se os sentimentos das outras meninas não importassem. Como se nada tivesse acontecido.
A primeira amiga observou tudo em silêncio por semanas, tentando relevar, tentando manter o grupo unido. Mas bastou a segunda amiga começar a falar mal do namorado dela para a gota transbordar o copo.
— Para de falar assim dele — disse com firmeza, num dos intervalos. — Você pode não gostar, mas eu gosto. E não vou aceitar que fique zombando dele como se fosse brincadeira.
A segunda amiga apenas revirou os olhos, como se a dor da outra fosse pequena demais pra importar.
Aquilo ficou na cabeça da primeira amiga. Ela respirou fundo e decidiu que não dava mais. Que aquela amizade fazia mais mal do que bem.
Naquela mesma noite, ela tomou coragem e escreveu uma mensagem longa explicando tudo:
"Você continua sendo grossa, machuca as pessoas com suas palavras e não tem empatia nenhuma. Eu tentei conversar, tentei entender, mas você voltou a ser exatamente como antes. Eu não quero mais isso. Não quero continuar fingindo que tá tudo bem quando você faz a gente se sentir pequena."
A resposta veio seca. Fria.
"Você nunca foi."
A primeira amiga parou por um segundo, sentindo o estômago afundar. Mas então digitou com calma:
"Então estamos de acordo. Porque eu também nunca fui sua amiga."
E foi isso. O fim. Sem lágrimas, sem mais explicações. Apenas o encerramento de uma história que, no fundo, nunca foi real de verdade.
Agora, a primeira amiga sabia o que precisava fazer: proteger a si mesma e as que ainda estavam do lado dela de verdade.
~Autora off~
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Atualizado até capítulo 32
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