A ansiedade de Cecil no sábado não era mais uma leve trepidação, mas uma corrente elétrica que percorria seu corpo. Ela escolheu um vestido preto, simples, mas elegante, tentando se convencer de que era apenas um jantar normal. No fundo, porém, o zumbido do medo se misturava com o eco da promessa que ela havia feito a Marco. Às 20h em ponto, a campainha tocou. A visão de um carro preto com vidros fumê, de um modelo que ela só via em filmes, a fez engolir em seco. O motorista, um homem alto com uma expressão inexpressiva, abriu a porta para ela com um aceno de cabeça. Não havia sorrisos, nem conversas. Apenas a certeza de que ela estava entrando em um mundo que não lhe pertencia.
O trajeto foi silencioso. A cidade familiar parecia diferente através dos vidros escuros, como se ela fosse uma intrusa em seu próprio lar. O carro parou em frente a um prédio imponente e moderno, um arranha-céu de vidro e aço que dominava o horizonte. Eles não entraram por uma entrada principal, mas por uma porta lateral, subindo em um elevador particular que a levou diretamente a uma cobertura. O ar do elevador era pesado, e o único som era o chiado da máquina subindo. O coração de Cecil batia em um ritmo frenético.
Quando as portas se abriram, ela se deparou com um salão gigantesco, com paredes de vidro que revelavam uma vista panorâmica de tirar o fôlego da cidade iluminada. O luxo era esmagador: o piso de mármore polido, o mobiliário de design minimalista, e um piano de cauda brilhante em um canto. O lugar era lindo, mas impessoal, sem quadros nas paredes ou fotos de família. Parecia um cenário de revista, e não um lar.
Marco estava ali, em pé, em frente à janela, com um copo de uísque na mão. Ele usava um terno cinza-escuro que caía perfeitamente em seu corpo, e o cabelo escuro estava penteado para trás. Ele não era o Marco das redes sociais; ele era uma versão mais forte, mais intensa e mais perigosa.
"Chegou, finalmente. A vista é espetacular, não é?", disse ele, com um sorriso, mas seus olhos não brilhavam como na videochamada.
Cecil se aproximou, sentindo-se pequena e insignificante. "É... inacreditável."
"A vida é muito curta para vistas medíocres, Cecil." Ele estendeu a mão, convidando-a para se sentar.
O jantar foi servido por um chef particular, e a comida era excelente, mas Cecil mal conseguiu comer. A conversa era superficial, e Marco parecia estar no controle de tudo, desde a música ambiente que tocava suavemente até o momento de servir o vinho. Ela se sentia mais como uma convidada em um evento de negócios do que em um encontro romântico.
E então, o telefone dele tocou. O som, vindo de uma mesa lateral, fez Marco enrijecer. Ele olhou para o aparelho, e seu sorriso desapareceu, dando lugar a uma expressão fria e distante que Cecil já havia visto por um breve segundo. Ele se levantou e atendeu, se afastando um pouco. A voz dele era baixa, mas Cecil conseguia ouvir as palavras. Não eram palavras de negócios. Eram ordens.
"Eu já te disse uma vez, não me falhe de novo. Resolva o problema. Não quero saber como. Quero a minha parte amanhã de manhã. Se não tiver, não vai haver 'amanhã' para você."
A voz dele era um sussurro letal. O tom era inquestionável, e o sangue de Cecil gelou. Não havia nada de "consultor de negócios" naquelas palavras. Eram as ordens de um chefe, de um líder de um mundo violento e implacável.
A chamada terminou. Marco se virou para ela, e a expressão de seu rosto mudou novamente, como se ele estivesse trocando de máscara. O sorriso voltou, mas era superficial, e os olhos dele ainda tinham o brilho de poder.
"Desculpe a interrupção. O trabalho é assim mesmo. Agora, onde estávamos?"
Cecil olhou para ele, para o sorriso no rosto e o vazio nos olhos. Ela estava em um encontro com um mafioso. O vulto na janela, a conversa sobre "segurança", tudo fazia sentido agora. A teia estava completa, e ela estava no centro dela. O que ela faria?
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Atualizado até capítulo 62
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