A tela do celular estava fria em sua mão. O relógio digital marcava 22h, mas a mente de Cecil estava em um fuso horário diferente, um que parecia ser dominado pelo vulto na janela de Marco. Ela se forçou a ir para a cama, mas a imagem do homem de terno, com aquele olhar vazio e o detalhe metálico na cintura, rodava em sua cabeça como um pesadelo. A voz de Marco, outrora tão melodiosa, agora parecia ter uma nota de falsidade. Ela sabia que a única maneira de se livrar daquela angústia era ter a verdade.
Com os dedos tremendo, ela abriu a conversa no Instagram e começou a digitar. Apagou, digitou de novo. A acusação direta era muito agressiva. Uma pergunta inocente seria o melhor caminho.
"Oi, Marco. Desculpe o horário. Estava pensando... quem era o homem que apareceu na sua videochamada hoje? Fiquei com uma dúvida."
Ela apertou "enviar" e esperou, o coração batendo no ritmo da bateria da sua música preferida. A mensagem foi visualizada quase que imediatamente, mas a resposta demorou. Os minutos se arrastaram, cada um deles uma tortura. O silêncio era mais assustador do que qualquer resposta que ele pudesse dar. Ele estava pensando em uma mentira? Ou estaria bravo por ter sido questionado?
Quando o celular vibrou, Cecil quase deixou cair o aparelho.
"Você tem olhos muito observadores, Cecil. Poucas pessoas teriam notado isso. E eu valorizo a sua honestidade."
A resposta de Marco não era direta, mas era uma confirmação. Ele não negou, e a forma como a elogiou por ter notado o detalhe a fez sentir uma estranha mistura de orgulho e medo. Ela não respondeu. Esperou por ele. E ele não a decepcionou. A mensagem seguinte era longa, detalhada, e incrivelmente bem construída.
"O homem é um dos meus 'seguranças'. A minha profissão não é tão simples quanto eu disse. Envolve negociações com pessoas muito... 'difíceis'. O mundo dos negócios que eu exploro é competitivo e perigoso. Tenho inimigos, Cecil. E para ter sucesso e manter a minha vida segura, eu preciso de gente de confiança ao meu lado. Eu não te contei porque eu não queria assustá-la. É uma parte da minha vida que eu mantenho em segredo. Uma parte que eu não queria misturar com a nossa... conexão."
Cecil releu a mensagem duas vezes. A história era plausível, e a sinceridade da sua confissão a desarmou. A palavra "inimigos" ressoava em sua mente, misturada com o "nossa conexão" que ele usou, como um laço invisível. Ele havia tornado o perigo em algo atraente, quase romântico, como um fardo que ele carregava por sua vida de sucesso.
"Você não precisava me contar isso", ela respondeu, sentindo a culpa se instalar em seu peito.
"Sim, eu precisava. Porque agora, você sabe. E eu confiei em você. Eu me sinto mais à vontade com você do que com qualquer outra pessoa, Cecil. Posso te pedir algo?"
O coração de Cecil apertou.
"O que?"
"Eu preciso que você confie em mim. Que confie no que eu te digo, sem me questionar. Este é um mundo que pode ser sombrio. E a única maneira de ter a luz é confiar. Promete para mim que você vai confiar?"
A manipulação era um bálsamo para o medo de Cecil. A culpa por tê-lo questionado, a lisonja por ele ter "confessado" e a sensação de que ela era a única pessoa a quem ele confiava. A razão gritava para que ela corresse, para que bloqueasse o número e o esquecesse. Mas o desejo de ser a pessoa especial de Marco era mais forte. Ela estava viciada na emoção que ele trazia. A teia estava se fechando.
Ela não pensou muito. Não podia pensar. A mão dela, por sua própria vontade, respondeu.
"Eu prometo."
A resposta veio quase que imediatamente, cheia de um entusiasmo que ela não tinha visto antes.
"Ótimo. Eu sabia que podia confiar em você. E por ter me dado a sua palavra, eu vou te recompensar. Eu estarei na sua cidade no próximo fim de semana. E eu quero te ver."
A tela do celular parecia ter explodido com a mensagem. Uma recompensa. Um encontro. O mundo online de Cecil estava prestes a se chocar com o perigoso mundo real de Marco, e ela tinha acabado de dar a sua palavra de que estaria lá, sem questionar.
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Atualizado até capítulo 62
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