A notificação do Instagram se tornou o som favorito de Cecil. Não mais um simples alerta, mas um chamado, um eco da voz de Marco em sua mente. O que começou como uma curiosidade inocente, dias após a primeira mensagem, havia se transformado em uma rotina quase religiosa. Ela mal podia esperar para desbloquear a tela e ler as palavras dele, que pareciam ter sido escritas apenas para ela.
Oito dias se passaram desde aquele primeiro "Olá", e a conexão entre eles se aprofundava a cada conversa. Marco era um ouvinte extraordinário. Ele se lembrava de pequenos detalhes que ela mal se recordava de ter mencionado, como sua aversão a coentro ou seu sonho de visitar a Islândia para ver a aurora boreal. Quando ela comentou sobre a ansiedade pré-prova, ele não disse apenas "Boa sorte", mas enviou uma mensagem de áudio curta e profunda: "Respire fundo, Cecil. Você é mais inteligente do que pensa. Apenas confie no processo." A voz dele, grave e com um sotaque suave que ela não soube identificar, a arrepiou.
Enquanto Cecil mergulhava em seu mundo de estudos e rotina universitária, Marco a levava para um universo de viagens, luxo e histórias intrigantes. Ele descrevia Veneza sob a neblina, a imponente arquitetura de Viena e o calor do sol em um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Ele nunca postava fotos de seu rosto nessas viagens, mas as paisagens e os pequenos detalhes que ele descrevia faziam com que a imaginação dela voasse. Ele era evasivo sobre sua profissão, chamando-a de "consultoria de negócios complexos" e rindo ao dizer que sua vida não era "convencional". Ela achava a misteriosa vida dele fascinante, uma fuga bem-vinda da sua própria rotina, tão cheia de provas e exercícios.
A atração de Cecil por Marco não era mais apenas física. Ele era charmoso, inteligente, culto e, acima de tudo, parecia entendê-la de uma forma que ninguém jamais o havia feito. Ela passava horas relendo as conversas, analisando cada frase, cada vírgula, tentando encontrar um sentido para o que estava sentindo. Seus amigos notaram a mudança. Ela estava mais distante, com o celular sempre nas mãos, um sorriso bobo no rosto. Quando a questionavam, ela apenas dizia que estava conversando com um amigo, sem dar mais detalhes. A verdade é que ela tinha medo de que o julgamento deles, ou a razão, estragasse a magia que estava acontecendo.
À noite, deitada em sua cama, ela se pegava imaginando como seria se Marco fosse uma parte real de sua vida. O que eles fariam? Onde iriam? Ela visualizava as cenas em sua mente: um jantar à luz de velas em um restaurante italiano, uma caminhada de mãos dadas pelas ruas de uma cidade desconhecida. Esses devaneios a consumiam, transformando sua antiga calma em uma ansiedade constante pela próxima mensagem.
Em uma tarde de quinta-feira, enquanto Cecil estava em um café da faculdade, uma nova notificação surgiu na tela. Era um convite para uma videochamada. O coração dela disparou. Era o momento em que a fantasia se encontraria com a realidade. A oportunidade de finalmente ver e ouvir Marco sem o filtro da escrita. Ela sabia que essa era a próxima etapa, mas a velocidade com que tudo estava evoluindo a assustou.
Ela digitou a resposta, os dedos tremendo: "Claro, que horas?"
A resposta veio na mesma hora: "Agora. Se você puder."
Cecil olhou para a tela. A luz do sol da tarde entrava pela janela do café e iluminava sua xícara de cappuccino. O mundo ao seu redor era familiar e seguro, mas o seu coração estava prestes a entrar em um universo totalmente desconhecido. Ela hesitou, sentindo uma pontada de pânico. Marco era real? Ou era apenas uma fachada perfeita, uma imagem criada para um propósito que ela ainda não conseguia entender?
A tela acendeu novamente, com uma nova mensagem de Marco.
"Não tenha medo, Cecil."
Aquelas três palavras a atingiram como um raio. Como ele sabia que ela estava hesitante? Ele era um manipulador, um gênio em ler as entrelinhas de suas respostas. Ou talvez, apenas talvez, ele a entendesse tão bem que conseguia ler sua mente. Ela soltou a respiração que nem sabia que estava prendendo. A curiosidade e a atração venceram o medo. A mão dela, ainda tremendo, tocou a tela, pronta para aceitar a chamada. Ela estava prestes a abrir a porta para a trama de Marco, uma trama da qual ela não teria como escapar.
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Atualizado até capítulo 62
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