Primeiro contato

As paredes da oficina tremiam com o impacto das explosões lá fora. O zunido metálico dos drones de combate reverberava pelos corredores, cada vez mais próximos. Helena apertava o artefato contra o peito, sentindo o calor crescente que ele irradiava. Não era apenas luz: parecia um coração que batia junto ao seu.

Adrian montava um rifle energético, suas mãos rápidas e precisas. Orion, o engenheiro idoso, corria até uma parede escondida atrás de prateleiras enferrujadas e revelou um painel secreto que levava a um túnel estreito.

— Vocês precisam sair! — gritou Orion. — A oficina não vai aguentar muito tempo.

— E você? — Helena perguntou, sentindo o estômago se revirar.

O velho sorriu amargamente.

— Eu vivi muito tempo nas sombras. Talvez seja hora de pagar a dívida que deixei para trás. Vão!

Adrian segurou o braço dela, firme.

— Ele está certo. Se ficarmos, todos morremos.

Helena hesitou, mas o som de uma explosão maior sacudiu o teto, derrubando faíscas e pedaços de concreto. Não havia tempo para debates. Com um último olhar para Orion, ela entrou no túnel atrás de Adrian.

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O corredor era estreito, iluminado apenas por lâmpadas antigas que piscavam. O som das botas ecoava em sincronia com as batidas apressadas do coração de Helena. A esfera em sua bolsa vibrava, como se cada explosão fosse também sentida por ela.

De repente, Helena tropeçou. O artefato escorregou da bolsa e rolou pelo chão, emitindo um brilho tão intenso que cegou momentaneamente o túnel. Adrian puxou sua arma, achando que era algum ataque, mas Helena sabia que não.

Ela se ajoelhou e tocou a esfera. No mesmo instante, o mundo desapareceu.

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De repente, ela não estava mais no túnel.

Flutuava em um espaço infinito, cercada por estrelas que se moviam lentamente como ondas de um oceano cósmico. Abaixo de si, formava-se uma paisagem impossível: montanhas suspensas no ar, rios de luz que corriam em direções contrárias, e estruturas colossais que lembravam cidades, mas não humanas.

Uma voz ecoou, não nos ouvidos, mas dentro da mente dela:

— Você finalmente me escuta.

Helena girou o corpo, assustada. Não havia ninguém, apenas a vastidão.

— Quem está aí? — perguntou, a voz tremendo.

— Sou memória. Sou eco. Sou aquilo que restou de um povo que você não conhece.

A esfera brilhava em sua mão, mas não como objeto físico: era pura energia, pulsante.

— Você está dentro de mim? — Helena perguntou, incapaz de acreditar.

— Não dentro. Conectada. — A voz era suave, mas carregava uma tristeza antiga. — Esperei por eras para ser encontrada. E agora, você me trouxe de volta à vida.

Helena respirou fundo, tentando controlar o pânico.

— O que você é?

— Um fragmento de consciência. O último guardião de um conhecimento perdido. Nós atravessamos estrelas, moldamos mundos, mas fomos consumidos por nossa própria arrogância. O que resta de nós está em você.

Helena sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

— Por que eu?

Houve silêncio, seguido por um sussurro que parecia vir de todos os lados.

— Porque você escuta. Porque sua mente não rejeitou minha presença. Você é o fio que pode ligar o passado ao futuro.

Imagens inundaram sua mente: civilizações de formas estranhas erguendo monumentos ao cosmos, guerras interplanetárias devastando mundos inteiros, e finalmente o artefato sendo selado em uma caixa, enterrado em um deserto sob um céu vermelho.

— Eu não entendo… — Helena murmurou. — O que quer de mim?

— Quero que viva. Quero que escolha. Sua espécie está diante do mesmo abismo que consumiu a minha. Se repetir nossos erros, não haverá retorno.

Helena sentiu lágrimas quentes nos olhos.

— Eu sou só uma cientista. Não sou líder, não sou guerreira. Como posso mudar alguma coisa?

A luz ao redor dela pulsou suavemente.

— Não precisa lutar sozinha. Mas precisa ser a chama. E a chama sempre começa pequena.

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— Helena! — A voz de Adrian ecoou distante, mas real. — Helena, me escuta!

Ela abriu os olhos de súbito, ofegante. Estava de volta ao túnel. Adrian segurava seus ombros, preocupado.

— Você sumiu. Seus olhos ficaram brancos por um minuto inteiro. O que aconteceu?

Helena ainda sentia a vibração do artefato em suas mãos, mas não sabia como explicar.

— Eu… eu falei com ele.

Adrian franziu o cenho.

— Com quem?

— Com a consciência dentro da esfera. Não é só uma máquina. É… memória de um povo inteiro. E ele está me guiando.

Adrian olhou para ela como quem avaliava a sanidade de uma pessoa. Mas no fundo, havia algo em sua expressão: não era descrença total, era cautela.

— Seja lá o que for, não temos tempo. — Ele a puxou para seguir pelo túnel. — Se quiser acreditar nisso, tudo bem. Mas agora precisamos sobreviver.

Helena seguiu, mas no fundo sabia: não era alucinação. Algo muito maior estava em jogo.

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Enquanto fugiam, do lado de fora, a Comandante Selene observava os drones transmitirem imagens da perseguição. A oficina de Orion estava em chamas, mas não havia corpos.

— Eles escaparam — disse um general, nervoso.

Selene manteve a calma.

— Então estamos lidando com alguém mais esperto do que pensei. — Ela ampliou a imagem de Helena segurando a esfera, gravada momentos antes. — Quero vigilância total nas fronteiras. Se ela tentar sair da cidade, será nossa.

Seus olhos frios brilhavam com algo além do dever. Havia obsessão em sua expressão.

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Horas depois, já em um esconderijo improvisado nos esgotos da cidade, Helena e Adrian descansavam em silêncio. O cansaço pesava, mas a mente dela não parava de girar. A esfera permanecia ao seu lado, pulsando suavemente, como se respirasse.

Adrian limpava a arma quando quebrou o silêncio:

— O que ele disse pra você?

Helena o encarou.

— Que meu povo está no mesmo caminho que destruiu o dele. E que eu sou a chave para mudar isso.

Adrian riu, mas sem alegria.

— Então você virou a salvadora da humanidade?

— Eu não pedi por isso — retrucou ela, irritada. — Mas se for verdade… não posso ignorar.

Adrian a observou por um longo instante. Nos olhos dele, Helena viu algo raro: não apenas ceticismo, mas medo.

— Então prepare-se, porque a Autoridade não vai parar até arrancar isso de você. — Ele apontou para a esfera. — E quando descobrirem que ela está ligada à sua mente, vão caçar você como um animal.

Helena apertou os lábios, mas ergueu o olhar para o brilho suave do artefato.

— Então que venham. Eu não vou entregar o futuro nas mãos deles.

Adrian ficou em silêncio, mas um leve sorriso surgiu em seu rosto. Pela primeira vez, parecia acreditar que aquela cientista frágil talvez fosse capaz de algo extraordinário.

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Enquanto a escuridão do esconderijo os envolvia, Helena fechou os olhos e sentiu novamente o sussurro da consciência dentro do artefato:

— A jornada começou. E você não está sozinha.

Ela respirou fundo, e pela primeira vez desde o início da fuga, não sentiu medo — apenas a estranha certeza de que seu destino estava entrelaçado com o das estrelas.

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