Capítulo 4 — Entre o Medo e a Decisão

Capítulo 4 — Entre o Medo e a Decisão

Elisa não dormiu. Cada sombra do quarto parecia sussurrar seu nome, lembrando-a da fotografia, da carta, do segredo que agora pesava sobre sua vida. Ela se sentou à beira da cama, a carta e a foto de Noah em mãos, incapaz de decidir por onde começar.

Lentamente, virou a fotografia. O verso estava escrito à mão, em letras pequenas e apressadas, quase ilegíveis de tão tremidas:

"Ala Pediátrica — Hospital Santa Helena. Ele precisa de cuidados. Leucemia. Por favor, cuide dele se puder."

O ar lhe faltou. Leucemia. O menino não era apenas um filho desconhecido; era uma criança doente, vulnerável, que dependia de alguém — e Gabriel não estava mais ali para ajudá-lo.

Elisa apertou a foto contra o peito, sentindo uma mistura de medo, culpa e uma urgência que nunca sentira antes. Cada fibra do seu ser pedia que ela fosse até aquele hospital, que olhasse nos olhos daquele menino, que tentasse de alguma forma reparar o tempo perdido. Mas outra parte dela, a parte que ainda sangrava pela morte de Raul, implorava que recuasse, que permanecesse protegida em seu silêncio.

Na manhã seguinte, Elisa se preparou com calma, embora o coração não a deixasse em paz. Levou a foto e a carta em sua bolsa, como se carregar aqueles pedaços de Raul fosse também carregar coragem.

No hospital, a rotina seguia seu curso, indiferente à tempestade que se aproximava para Elisa. Daniel Rios atendia crianças e famílias com a mesma dedicação de sempre, embora por dentro cada sorriso escondesse uma dor silenciosa. Clara, sua filha, brincava ao lado da recepção com um ursinho surrado, absorvendo a atenção e o amor que o pai tentava oferecer, mesmo com o coração ainda pesado pela ausência da mãe.

Elisa entrou no hospital com passos hesitantes. Cada barulho — o bater de portas, os corredores brancos, os risos infantis — fazia seu coração disparar. Ela olhou ao redor, buscando sinais do que a carta prometia: Noah.

A recepcionista, uma mulher gentil, notou a hesitação nos olhos de Elisa.

— Posso ajudá-la? — perguntou.

Elisa engoliu em seco.

— Sim, eu… tenho uma criança aqui. Noah… — A voz falhou, e ela mostrou a fotografia. — Este é ele. Gabriel… meu marido, deixou esta foto e… disse que ele estava doente.

A recepcionista olhou atentamente para a foto e respirou fundo.

— Entendo… Ele está na ala pediátrica. Vou acompanhá-la até lá.

Enquanto caminhavam pelos corredores, Elisa sentiu o mundo se estreitar até o tamanho de seu medo e sua coragem. Cada passo era uma decisão, cada porta uma escolha entre fugir ou enfrentar.

Do outro lado do hospital, Daniel passava pelas enfermarias. Ele notou uma mulher parada no corredor, segurando uma fotografia com as mãos trêmulas, o olhar perdido. Havia algo familiar na hesitação dela — a mesma que sentia tantas vezes quando se deparava com famílias em choque, crianças que precisavam de esperança.

Elisa chegou à porta da ala pediátrica. A enfermeira abriu com um sorriso gentil, mas o ambiente na sala fez seu coração disparar ainda mais. Brinquedos espalhados, a luz suave da manhã entrando pelas janelas, e Noah — sentado na cama, com a pequena mão segurando um ursinho, os olhos verdes fixos em um ponto invisível. Ele parecia mais frágil do que a fotografia mostrava, mas havia força na maneira como se agarrava àquilo que o fazia sentir seguro.

— Noah? — A voz de Elisa saiu baixa, quase um sussurro.

O menino ergueu os olhos e a fitou por um instante. Elisa sentiu um nó se formar na garganta. Ela se aproximou devagar, sem se apressar, sem quebrar aquela delicada linha de segurança que parecia existir entre eles.

— Meu nome é Elisa… — disse finalmente. — Raul… ele… ele é meu marido. Eu… — Ela parou, sentindo que nenhuma palavra seria suficiente.

Noah não disse nada, apenas observou. E naquele silêncio, Elisa compreendeu algo essencial: não havia pressa. O contato, o vínculo, precisava nascer com cuidado. E ali, naquele quarto cheio de brinquedos e luz suave, ela deu o primeiro passo.

Enquanto isso, Daniel, do outro lado do corredor, recebia uma ligação da enfermeira responsável pela ala. Ele ouviu apenas palavras rápidas: “uma mulher… ela tem a fotografia… quer ver o paciente…”. Ele franziu a testa, uma sensação estranha de déjà-vu atravessando sua mente, algo no ar que lembrava a dor que carregava.

Mal sabia ele que aquele encontro, aparentemente casual, mudaria não só a vida do menino, mas também a de Elisa e, eventualmente, a dele. Porque naquele hospital, entre medos e lágrimas, começava a se desenhar não apenas a história de uma reconciliação com a perda, mas também a semente de um novo amor, inesperado, mas profundamente necessário.

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Comments

Maria Elineuza

Maria Elineuza

cadê a mãe do menino , abandonou ele sozinho no hospital foi .

2025-08-26

3

Fênix

Fênix

Eu ia perguntar a msm coisa. Só deve aparecer para perturbar a vida dela.

2025-09-05

0

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 01 Apresentação dos Personagens
2 Capítulo 02 Recomeçar
3 Capítulo 03 A Outra Vida
4 Capítulo 4 — Entre o Medo e a Decisão
5 Capítulo 5 — Primeiro Encontro, Primeiro Laço
6 Capítulo 6 — Entre Dor e Dever.
7 Capítulo 7 - O Silêncio de Gabriel
8 Capítulo 8 - O Coração Silencioso de Elisa
9 Capítulo 9 – O Vazio de Carla
10 Capítulo 10 – A Noite que Mudou Tudo
11 Capítulo 11 – O Filho Esquecido
12 Capítulo 12 – O Que Resta da Saudade
13 Capítulo 13 – Entre Culpa e Confronto
14 Capítulo 14 – Encontros no Corredor
15 Capítulo 15 – Palavras que Ferem
16 Capítulo 16 – Inocência que Toca
17 Capítulo 17 – Saída do Hospital
18 Capítulo 18 - O Silêncio da Decisão
19 Capítulo 19 – O Encontro dos Olhares
20 Capítulo 20 – Confissões
21 Capítulo 21 – Revelações
22 Capítulo 22 – Entre Vozes e Silêncios
23 Capítulo 23 – Máscaras
24 Capítulo 24 – Máscaras (continuação)
25 Capítulo 25 – O Confronto
26 Capítulo 26 – Um Encontro Inesperado
27 Capítulo 27 – Laços e Limites
28 Capítulo 28 – Laços que Surgem
29 Capítulo 29 – Entre Sussurros e Decisões
30 Capítulo 30 – Entre Provas e Intimações.
31 Capítulo 31 – A Falta que Ela Faz
32 Capítulo 32 – Entre Dois Silêncios
33 Capítulo 33 – Um Abraço Inesperado
34 Capítulo 34 – Laços de Dor e Esperança
35 Capítulo 35 – Um Encontro Entre Lágrimas e Sorrisos
36 Capítulo 36– As Sombras da Saudade
37 Capítulo 37 – Entre Leis e Esperança
38 Capítulo 38 – A Luta Pelo Patrimônio
39 Capítulo 39 Entre Provas e Promessas.
40 Capítulo 40 – Entre a Dor e a Decisão
Capítulos

Atualizado até capítulo 40

1
Capítulo 01 Apresentação dos Personagens
2
Capítulo 02 Recomeçar
3
Capítulo 03 A Outra Vida
4
Capítulo 4 — Entre o Medo e a Decisão
5
Capítulo 5 — Primeiro Encontro, Primeiro Laço
6
Capítulo 6 — Entre Dor e Dever.
7
Capítulo 7 - O Silêncio de Gabriel
8
Capítulo 8 - O Coração Silencioso de Elisa
9
Capítulo 9 – O Vazio de Carla
10
Capítulo 10 – A Noite que Mudou Tudo
11
Capítulo 11 – O Filho Esquecido
12
Capítulo 12 – O Que Resta da Saudade
13
Capítulo 13 – Entre Culpa e Confronto
14
Capítulo 14 – Encontros no Corredor
15
Capítulo 15 – Palavras que Ferem
16
Capítulo 16 – Inocência que Toca
17
Capítulo 17 – Saída do Hospital
18
Capítulo 18 - O Silêncio da Decisão
19
Capítulo 19 – O Encontro dos Olhares
20
Capítulo 20 – Confissões
21
Capítulo 21 – Revelações
22
Capítulo 22 – Entre Vozes e Silêncios
23
Capítulo 23 – Máscaras
24
Capítulo 24 – Máscaras (continuação)
25
Capítulo 25 – O Confronto
26
Capítulo 26 – Um Encontro Inesperado
27
Capítulo 27 – Laços e Limites
28
Capítulo 28 – Laços que Surgem
29
Capítulo 29 – Entre Sussurros e Decisões
30
Capítulo 30 – Entre Provas e Intimações.
31
Capítulo 31 – A Falta que Ela Faz
32
Capítulo 32 – Entre Dois Silêncios
33
Capítulo 33 – Um Abraço Inesperado
34
Capítulo 34 – Laços de Dor e Esperança
35
Capítulo 35 – Um Encontro Entre Lágrimas e Sorrisos
36
Capítulo 36– As Sombras da Saudade
37
Capítulo 37 – Entre Leis e Esperança
38
Capítulo 38 – A Luta Pelo Patrimônio
39
Capítulo 39 Entre Provas e Promessas.
40
Capítulo 40 – Entre a Dor e a Decisão

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