POV: Mark
Se tem uma coisa que eu não entendo é por que continuo aceitando me enfiar nos programas do Ren e da Lia. Quer dizer, entendo. Porque sou idiota. Idiota apaixonado, o pior tipo.
Hoje o rolê é outro: nada de karaokê, nada de bar lotado. É cinema e jantar. Casual. Normal. Chato, se você perguntar pra mim — exceto pelo detalhe de que o Ren vai estar lá.
Eu apareci “por acaso”, claro. Estava passando perto do shopping quando mandei mensagem:
> Eu: “Odeio comer sozinho. Onde vocês tão?”
E pronto. Agora tô aqui, encostado na parede do restaurante, esperando eles saírem do filme.
Vejo os dois vindo pelo corredor. Lia tá animada, falando com as mãos, mas com os olhos grudados no celular a cada dez segundos. Ren carrega um balde de pipoca vazio, sorrindo daquele jeito que eu queria emoldurar.
— Olha só quem resolveu dar as caras — ele diz quando me vê.
— Eu nunca perco a chance de estragar seu encontro — respondo, piscando.
Lia ri, me abraça rápido.
— Vem, a gente ia jantar. Bora com a gente.
E é assim que, de novo, viro parte do “casal + penetra”.
---
Sentamos numa mesa perto da janela. Lia pega o cardápio com uma mão e o celular com a outra. Ren pede primeiro, depois eu. Quando o garçom sai, tento puxar papo:
— Então, o filme era bom?
— Até você chegar, era — Ren diz, sem nem olhar pra mim.
— Amor, para — Lia fala, rindo, mas ainda com os olhos na tela.
E aí eu vejo. O sorriso diferente. O mesmo que vi na praia, no bar. Ela digita rápido, depois bloqueia o celular quando percebe meu olhar.
— Quem é? — pergunto, casual.
— Trabalho — ela responde rápido demais.
Mentira. Eu sei. Mas não vou cutucar. Ainda.
---
A comida chega, a conversa flui, mas algo tá estranho. Lia fala, mas não está realmente ali. Ren percebe? Não sei. Ele tá ocupado demais rindo de uma história que contei sobre o Jo quase incendiar a churrasqueira. E eu? Eu rio junto, mas minha cabeça tá gritando: sai daí, Mark, isso só vai doer.
Quando terminamos, Ren insiste em levar Lia pra casa primeiro. Eu ofereço carona, porque claro que ofereço. No caminho, ela apaga no banco de trás — de novo. Ren olha pra ela com aquele cuidado que me destrói por dentro.
Chegamos, ele ajuda a levar Lia até a porta. Quando volta pro carro, eu penso: agora é minha chance de ir embora, de salvar o que resta do meu coração. Mas em vez disso, digo:
— Quer dar uma volta?
Ele me olha, surpreso.
— Pra quê?
— Pra não ter que ouvir meu próprio pensamento por um tempo. — Dou um sorriso torto. — E porque você fica melhor com vento no cabelo.
Ele ri, balança a cabeça.
— Você é impossível.
— E divertido. Nunca esquece.
---
Estamos na estrada, música baixa no rádio. Ren encosta no banco, suspira.
— Faz tempo que não saio assim, sem nada planejado.
— Às vezes é bom quebrar rotina.
Ele me olha por um segundo, sério.
— Você gosta de bagunçar tudo, né?
— Só o que precisa ser bagunçado.
E aí fica silêncio. Um silêncio que diz mais do que qualquer piada que eu faria agora.
---
Paramos num posto pra pegar café. Quando volto com dois copos, vejo Ren encostado no carro, olhando pro celular. Ele guarda rápido quando me aproximo.
— Quem era? — pergunto, tentando soar casual.
— Nada. Só um amigo perguntando do jogo de domingo.
Sinto o peso da palavra “nada”. Quase solto: Será que é nada mesmo? Ou será que todo mundo tem segredos hoje?
Mas não digo. Só entrego o café.
---
De volta ao carro, coloco uma música qualquer. Quando a estrada acaba, já é madrugada. Paro em frente ao prédio dele.
— Valeu pela carona — ele diz.
— Valeu pela companhia. — Seguro o volante, sem vontade de sair. — Quer ajuda pra levar as coisas?
Ele olha pra mim, hesita.
— Tá, só um minuto.
Subo com ele. O apartamento tá silencioso, organizado demais — a cara do Ren. Ele joga a jaqueta no sofá e vai até a cozinha pegar água. Eu fico parado, olhando em volta, tentando gravar cada detalhe.
Quando ele volta, algo acontece. Ele tropeça no tapete (clássico Ren), e eu seguro o braço dele antes que caia. É rápido. Só um reflexo. Mas quando nossos olhos se encontram, o tempo parece… parar.
Ele ri, meio sem jeito.
— Valeu, herói.
— Sempre — respondo, baixo demais.
Solto o braço devagar, como quem solta algo precioso. E, pela primeira vez na noite, penso: talvez eu esteja ferrado demais pra voltar atrás.
---
POV: Ren
Mark é um problema. Um problema barulhento, irritante e… divertido. Não vou negar: foi bom sair daquela rotina. Bom demais. Talvez bom demais.
Quando ele vai embora, fico olhando a porta por alguns segundos. Depois olho pro celular. Tem uma mensagem não lida da Lia:
> “Cheguei bem. Boa noite, amor 💕”
Respondo rápido, e simples.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 60
Comments