POV: Mark
Eu devia estar cansado e indo pra casa dormir como qualquer pessoa normal depois de uma balada de quatro horas. Mas a palavra “normal” nunca coube em mim. Nem no Ren. Por isso, quando a Lia grita:
— AFTER NA CASA DO JO! TODO MUNDO VEM!
Eu só sorrio e penso: perfeito. Mais tempo com ele.
O apartamento do Jo é uma zona de guerra. Gente jogada no sofá, música de rap tailandês misturado com pop ocidental, copos por todo lado. Lia entra como uma rainha do caos, arrasta Ren pela mão e some no meio da sala. Eu sigo atrás, claro, porque minha função nessa vida é salvar esse homem de situações ridículas.
Encontro os dois sentados no chão, perto de uma mesa cheia de snacks, quando Lia solta a bomba:
— Vamos brincar de Aposta Caótica!
— Isso existe? — Ren pergunta, sério demais pra quem já bebeu quatro drinks.
— Agora existe! — ela grita, batendo palmas. — Regras: a gente escolhe desafios, quem perder paga mico. Nada de fugir. Quem fugir… — ela olha pro Ren com um sorriso demoníaco — …paga prenda dupla.
— Não tô entrando nisso — Ren tenta, mas eu já tô jogando o braço sobre os ombros dele.
— Tá sim. — Dou um sorriso torto. — Não vai me deixar sozinho nessa, né?
Ele suspira. Eu venço. Sempre venço.
Primeira rodada é leve: Tee canta no microfone do karaokê, Nan dá um beijo na testa do Win, Lia faz uma imitação péssima de uma influenciadora famosa. Todo mundo ri, a energia tá perfeita. Até que alguém diz:
— Próximo é o Ren!
Ele escolhe “verdade”, óbvio.
— Qual foi a coisa mais vergonhosa que você já fez bêbado? — Jo pergunta.
Ren pensa, coça a nuca.
— Dancei em cima de uma mesa na faculdade.
— AAAAA — Lia berra. — Quero vídeo disso!
— Nunca vai ver — ele retruca, rindo.
E eu? Eu fico imaginando a cena. Ren, desinibido, dançando… Meu cérebro não precisava desse gatilho.
Quando a garrafa gira de novo, cai em mim.
— Desafio! — digo sem pensar.
Lia sorri como se tivesse ganhado na loteria.
— Quero que você… escolha alguém para sentar no seu colo e não saia até a próxima rodada.
A galera vibra. Eu rio. Fácil demais. Então viro pro Ren.
— Anda, príncipe. Faz as honras.
Ele arregala os olhos.
— Nem ferrando.
— Regras são regras — eu digo, fingindo inocência. — Ou prefere pagar prenda dupla?
Ele encara, hesita, e eu vejo a luta interna estampada no rosto. Por fim, resmunga:
— Idiota.
E senta. No meu colo.
Minha alma entra em combustão. Tento parecer relaxado, jogo os braços no encosto do sofá, mas cada músculo meu grita. Ren é quente. Pesado no jeito certo. E não faz ideia do que tá fazendo comigo.
— Confortável? — sussurro no ouvido dele, só pra ver a reação.
Ele me dá um olhar mortal.
— Cala a boca, Mark.
Sorrio. Vitória tem gosto de tequila.
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POV: Ren
Por que eu aceito essas coisas? Por que eu continuo indo em festas com o Mark? Por que eu tô sentado no colo dele enquanto uma dúzia de pessoas grita “BEIJA! BEIJA!”?
— Não vai rolar! — aviso, tentando me levantar.
— Se sair, paga prenda dupla! — Lia lembra, rindo como uma maníaca.
Droga. Então fico. Mas cruzo os braços e olho pro nada, fingindo que isso não é estranho. Não é nada. É só um jogo idiota.
— Relaxa, príncipe — Mark diz no meu ouvido, voz baixa. — Eu não mordo.
Quase rio. Quase.
— Você é insuportável.
— E irresistível — ele retruca, com aquela confiança irritante.
A rodada segue, eu ainda no colo dele, tentando ignorar como as mãos dele descansam nas minhas pernas — nada demais, só casual. Certo? Certo.
Quando finalmente posso levantar, Lia inventa outro desafio:
— Quem perder a próxima, dá um selinho em alguém à escolha do grupo!
A galera grita, animada. Eu já sei que vou me arrepender.
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Duas horas depois, o Jo tá dormindo no corredor, o Win cantando sozinho no karaokê, e Lia… Lia tá rindo no chão com a cara enfiada numa almofada.
— Acho que acabou — digo, tentando levantar ela.
— Mais uma rodada! — ela protesta, mas já tá quase apagando.
— Nada disso — Mark aparece do nada, pega a bolsa dela e joga no ombro. — Vamos, motorista da vez.
— Eu não sou motorista — retruco, rindo.
— Então vai no banco da frente e não enche.
Eu obedeço, porque… sei lá, é mais fácil do que discutir com ele.
No carro, Lia apaga no banco de trás em três segundos. O silêncio se instala, confortável demais pro meu gosto. Mark dirige, olhos na estrada, mas com aquele meio sorriso no rosto.
— Se eu disser que hoje foi divertido, vai se achar, né? — pergunto.
— Já me acho sempre — ele responde, sem perder o tom calmo. — Mas ouvir você admitir é meu bônus da noite.
Reviro os olhos. Ele ri.
— Sabe, Ren… — a voz dele fica mais baixa, quase séria — …quando você ri, parece que nada no mundo pode dar errado.
Eu olho pra ele, surpreso. Mas antes que eu possa responder, ele completa, leve:
— Por isso que eu sempre invento loucura. Só pra ouvir isso de novo.
E sorri, como se não tivesse acabado de me desmontar por dentro.
Eu viro o rosto, olho a cidade passando pela janela. Tento ignorar a sensação estranha no peito. E digo pra mim mesmo: é só o Mark sendo o Mark. Sempre foi. Sempre será.
Certo?
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Atualizado até capítulo 60
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