POV: Mark
Existem poucas coisas que eu odeio mais do que karaokê. Na real, odeio não é bem a palavra. É só que… cantar exige controle, e eu nunca fui bom nisso. Principalmente quando minha cabeça tá ocupada demais tentando não olhar para o Ren e a Lia grudados como se fossem siameses.
Estamos num bar daqueles que parecem um amontoado de luzes neon e mesas coladas, com cheiro de cerveja misturado a batata frita e suor. É quarta-feira, mas parece sexta. Culpa da Lia. Sempre da Lia.
Ela tá no meu lado agora, rindo de alguma coisa no celular. Outra vez. Desde a praia, aquele sorriso diferente aparece quando ela mexe no telefone. E eu? Tento ignorar. Tento focar no meu copo, no jogo idiota que os caras da outra mesa começaram, mas meus olhos sempre voltam pro Ren.
Ele tá de camiseta preta, cabelo bagunçado, rindo com Jo e Win como se não tivesse nada errado no mundo. Talvez não tenha, se você for ele. Pra mim, é um inferno. Porque eu tô aqui, preso no papel de amigo palhaço, enquanto tudo que eu queria era… Bom. Melhor nem terminar essa frase.
— Mark! — Lia me cutuca, escondendo o celular no bolso. — Tá na sua vez!
— Minha vez do quê?
— Cantar! Você e o Ren! — Ela aponta pro palco improvisado com luzes piscando.
Quase engasgo.
— Nem ferrando.
— Regras são regras! — Ela gargalha. — Quem perdeu no jogo do copo tem que cantar em dupla. E vocês perderam, lembra?
Droga. É verdade.
Olho pro Ren. Ele me encara com aquela cara de “nem pensa nisso”.
— Eu não canto. — Ele cruza os braços.
— Eu também não. — Tento reforçar.
— Então… — Lia sorri, diabólica — …os dois pagam prenda dupla.
— Que prenda?
— Dança no balcão. Sem camisa.
Ren arregala os olhos.
— Eu canto — ele diz rápido.
— Eu também. — Ergo as mãos. — Bora, parceiro.
Subimos no palco improvisado, sob uma plateia bêbada gritando como se estivéssemos num show. Ren pega o microfone como quem segura uma bomba.
— Que música? — ele pergunta, nervoso.
Pego a lista. Escolho a primeira coisa que parece suportável.
— Essa.
Quando começa, é um pop chiclete cheio de refrão grudento. Ren tenta acompanhar, mas tá mais perdido que eu. Então faço o que sei: transformo em espetáculo. Danço, improviso, jogo charme pra plateia — e, claro, pro Ren. Ele ri no meio da música, aquele riso que faz tudo valer a pena.
No final, a galera aplaude como se fôssemos estrelas. Descemos do palco, ofegantes, rindo. Ren me dá um tapa no ombro.
— Você é ridículo.
— E irresistível — retruco, com aquele sorriso automático que esconde tudo que sinto.
Mas, no fundo, nada disso é piada pra mim.
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Mais tarde, Lia tá no balcão pedindo outra rodada quando o celular dela vibra. Ela olha, sorri daquele jeito que vi na praia, e se afasta rápido, falando baixo. Curioso, eu sigo — não o suficiente pra parecer óbvio, mas o bastante pra ouvir um pedaço:
— …também tô com saudade… amanhã, se der…
Meu estômago aperta. Não é ciúme romântico. Não dela. É a sensação de que tem algo grande que o Ren não vê.
Quando volto pra mesa, Ren tá rindo de alguma piada do Win. E eu penso: se ele soubesse…
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POV: Ren
Eu juro que não sei como o Mark me convenceu a cantar. Quer dizer, ele sempre dá um jeito, mas hoje foi ridículo. E… divertido. Não vou admitir em voz alta, mas foi.
Agora estamos sentados de novo, com mais uma rodada chegando. Lia tá no balcão, falando com alguém no telefone. Estranho, porque ela nunca se afasta da bagunça. Penso em ir até lá, mas Mark aparece com dois copos e se joga ao meu lado.
— Relaxa, príncipe. Hoje você foi estrela.
— Cala a boca — digo, rindo.
Ele levanta o copo.
— Um brinde ao meu parceiro de palco.
Brindamos. Bebo devagar, sentindo a garganta aquecer. Mark continua falando, contando uma história absurda do Win quase sendo expulso de um karaokê na faculdade. Eu rio tanto que esqueço da Lia por um instante.
Mas só por um instante. Porque quando ela volta, algo nela mudou. O sorriso tá ali, mas os olhos… não sei explicar.
— E aí? — pergunto.
— Nada, amor. — Ela me beija rápido e senta. — Só trabalho chato.
Não acredito. Mas não pergunto. Não aqui.
O resto da noite passa entre risadas, músicas ruins e shots demais. Quando decido que é hora de ir embora, Lia já tá no meu ombro, sonolenta. Mark se oferece pra dirigir. No carro, o silêncio é pesado. Lia dorme no banco de trás, Mark canta baixinho alguma coisa sem sentido. Eu olho pela janela e penso:
Por que parece que tudo tá mudando, mesmo quando nada mudou?
Chegamos no prédio. Mark ajuda a levar Lia até a porta. Quando ele se afasta, o celular dela vibra no meu bolso (peguei sem pensar quando ela pediu). A tela acende:
> Ploy: “Boa noite, linda. Sonha comigo.”
Meu peito aperta. Quem é Ploy? Por que Lia nunca falou dela?
E, por algum motivo que não entendo, olho pro Mark. Ele tá sorrindo. Mas os olhos… os olhos dizem outra coisa.
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Atualizado até capítulo 60
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