Capítulo 4 – Notas Fora do Tom

POV: Mark

Existem poucas coisas que eu odeio mais do que karaokê. Na real, odeio não é bem a palavra. É só que… cantar exige controle, e eu nunca fui bom nisso. Principalmente quando minha cabeça tá ocupada demais tentando não olhar para o Ren e a Lia grudados como se fossem siameses.

Estamos num bar daqueles que parecem um amontoado de luzes neon e mesas coladas, com cheiro de cerveja misturado a batata frita e suor. É quarta-feira, mas parece sexta. Culpa da Lia. Sempre da Lia.

Ela tá no meu lado agora, rindo de alguma coisa no celular. Outra vez. Desde a praia, aquele sorriso diferente aparece quando ela mexe no telefone. E eu? Tento ignorar. Tento focar no meu copo, no jogo idiota que os caras da outra mesa começaram, mas meus olhos sempre voltam pro Ren.

Ele tá de camiseta preta, cabelo bagunçado, rindo com Jo e Win como se não tivesse nada errado no mundo. Talvez não tenha, se você for ele. Pra mim, é um inferno. Porque eu tô aqui, preso no papel de amigo palhaço, enquanto tudo que eu queria era… Bom. Melhor nem terminar essa frase.

— Mark! — Lia me cutuca, escondendo o celular no bolso. — Tá na sua vez!

— Minha vez do quê?

— Cantar! Você e o Ren! — Ela aponta pro palco improvisado com luzes piscando.

Quase engasgo.

— Nem ferrando.

— Regras são regras! — Ela gargalha. — Quem perdeu no jogo do copo tem que cantar em dupla. E vocês perderam, lembra?

Droga. É verdade.

Olho pro Ren. Ele me encara com aquela cara de “nem pensa nisso”.

— Eu não canto. — Ele cruza os braços.

— Eu também não. — Tento reforçar.

— Então… — Lia sorri, diabólica — …os dois pagam prenda dupla.

— Que prenda?

— Dança no balcão. Sem camisa.

Ren arregala os olhos.

— Eu canto — ele diz rápido.

— Eu também. — Ergo as mãos. — Bora, parceiro.

Subimos no palco improvisado, sob uma plateia bêbada gritando como se estivéssemos num show. Ren pega o microfone como quem segura uma bomba.

— Que música? — ele pergunta, nervoso.

Pego a lista. Escolho a primeira coisa que parece suportável.

— Essa.

Quando começa, é um pop chiclete cheio de refrão grudento. Ren tenta acompanhar, mas tá mais perdido que eu. Então faço o que sei: transformo em espetáculo. Danço, improviso, jogo charme pra plateia — e, claro, pro Ren. Ele ri no meio da música, aquele riso que faz tudo valer a pena.

No final, a galera aplaude como se fôssemos estrelas. Descemos do palco, ofegantes, rindo. Ren me dá um tapa no ombro.

— Você é ridículo.

— E irresistível — retruco, com aquele sorriso automático que esconde tudo que sinto.

Mas, no fundo, nada disso é piada pra mim.

---

Mais tarde, Lia tá no balcão pedindo outra rodada quando o celular dela vibra. Ela olha, sorri daquele jeito que vi na praia, e se afasta rápido, falando baixo. Curioso, eu sigo — não o suficiente pra parecer óbvio, mas o bastante pra ouvir um pedaço:

— …também tô com saudade… amanhã, se der…

Meu estômago aperta. Não é ciúme romântico. Não dela. É a sensação de que tem algo grande que o Ren não vê.

Quando volto pra mesa, Ren tá rindo de alguma piada do Win. E eu penso: se ele soubesse…

---

POV: Ren

Eu juro que não sei como o Mark me convenceu a cantar. Quer dizer, ele sempre dá um jeito, mas hoje foi ridículo. E… divertido. Não vou admitir em voz alta, mas foi.

Agora estamos sentados de novo, com mais uma rodada chegando. Lia tá no balcão, falando com alguém no telefone. Estranho, porque ela nunca se afasta da bagunça. Penso em ir até lá, mas Mark aparece com dois copos e se joga ao meu lado.

— Relaxa, príncipe. Hoje você foi estrela.

— Cala a boca — digo, rindo.

Ele levanta o copo.

— Um brinde ao meu parceiro de palco.

Brindamos. Bebo devagar, sentindo a garganta aquecer. Mark continua falando, contando uma história absurda do Win quase sendo expulso de um karaokê na faculdade. Eu rio tanto que esqueço da Lia por um instante.

Mas só por um instante. Porque quando ela volta, algo nela mudou. O sorriso tá ali, mas os olhos… não sei explicar.

— E aí? — pergunto.

— Nada, amor. — Ela me beija rápido e senta. — Só trabalho chato.

Não acredito. Mas não pergunto. Não aqui.

O resto da noite passa entre risadas, músicas ruins e shots demais. Quando decido que é hora de ir embora, Lia já tá no meu ombro, sonolenta. Mark se oferece pra dirigir. No carro, o silêncio é pesado. Lia dorme no banco de trás, Mark canta baixinho alguma coisa sem sentido. Eu olho pela janela e penso:

Por que parece que tudo tá mudando, mesmo quando nada mudou?

Chegamos no prédio. Mark ajuda a levar Lia até a porta. Quando ele se afasta, o celular dela vibra no meu bolso (peguei sem pensar quando ela pediu). A tela acende:

> Ploy: “Boa noite, linda. Sonha comigo.”

Meu peito aperta. Quem é Ploy? Por que Lia nunca falou dela?

E, por algum motivo que não entendo, olho pro Mark. Ele tá sorrindo. Mas os olhos… os olhos dizem outra coisa.

Capítulos
1 Capítulo 1 – Um Drink Inocente… ou Não?
2 Capítulo 2 – After Caótico e Apostas Perigosas
3 Capítulo 3 – Segredos na Brisa Noturna
4 Capítulo 4 – Notas Fora do Tom
5 Capítulo 5 – Entre Linhas e Silêncios
6 Capítulo 6 – Churrasco, Mentiras e Olhares
7 Capítulo 7 – Linhas Tênues
8 Capítulo 8 – Entre Filmes e Verdades Não Ditass
9 Capítulo 9 – Silêncios que Dizem Tudo
10 Capítulo 10 – Quando Tudo Começa a Sair do Controle
11 Capítulo 11 – Verdades Rachando
12 Capítulo 12 – Manhãs Nunca Foram Tão Perigosas
13 Capítulo 13 – Tudo Que Você Não Devia
14 Capítulo 14 – Quebra de Limites
15 Capítulo 15 — Intervalos
16 Capítulo 16 – Rastros do Fim
17 Capítulo 17 – Linhas que Não Dá pra Desfazer
18 Capítulo 18 – No Limite
19 Capítulo 19 – Amanhecer Estranho
20 Capítulo 20 – Entre o Café e o Silêncio
21 Capítulo 21 – Entre Piadas e Silêncios
22 Capítulo 22 – Colisões
23 Capítulo 23 – Caos no Caminho
24 Capítulo 24 – Manhãs Não Mentem
25 Capítulo 25 – Entre o Silêncio e a Pele
26 Capítulo 26 – Pontes e Linhas
27 Capítulo 27 – Nada Como Antes
28 Capítulo 28 – Horas Mortas
29 Capítulo 29 – Estradas e Silêncios
30 Capítulo 30 – Dois Metros e um Mundo
31 Capítulo 31 – Jogos Perigosos
32 Capítulo 32 – Linhas Tênues
33 Capítulo 33 – Rastro d’Água
34 Capítulo 34 – Silêncios e Sinais
35 Capítulo 35 – Entre Gole e Risada
36 Capítulo 36 – Linha Cruzada
37 Capítulo 37 – Risco na Linha
38 Capítulo 38 – Quando o Mundo Aperta
39 Capítulo 39 – Entre Olhares e Linhas Invisíveis
40 Capítulo 40 – Porta Entreaberta
41 Capítulo 41 – Depois do Incêndio
42 Capítulo 42 – Linhas Invisíveis
43 Capítulo 43 – Entre Ferramentas e Verdades
44 Capítulo 44 — Tudo queimando, tudo nosso
45 Capítulo 45 — Silêncio Cheio
46 Capítulo 46 – Entre Verdades e Silêncios
47 Capítulo 47 – O Gosto de Ficar
48 Capítulo 48 — Manhã de Nós
49 Capítulo 49 — Segredos Mal Guardados
50 Capítulo 50 — O Dia Seguinte
51 Capítulo 51 — Entre risos e provocações
52 Capítulo 52 — Segredo de Estado
53 Capítulo 53 — Distâncias curtas, medos longos
54 Capítulo 54 — Sete dias para caber no bolso
55 Capítulo 55 — De volta e mais perto
56 Capítulo 56 — Churrasco de Fofocas
57 Capítulo 57 — A Foto
58 Capítulo 58 — A Surpresa
59 Capítulo 59 — O Presente
60 Capítulo 60 — O Sempre
Capítulos

Atualizado até capítulo 60

1
Capítulo 1 – Um Drink Inocente… ou Não?
2
Capítulo 2 – After Caótico e Apostas Perigosas
3
Capítulo 3 – Segredos na Brisa Noturna
4
Capítulo 4 – Notas Fora do Tom
5
Capítulo 5 – Entre Linhas e Silêncios
6
Capítulo 6 – Churrasco, Mentiras e Olhares
7
Capítulo 7 – Linhas Tênues
8
Capítulo 8 – Entre Filmes e Verdades Não Ditass
9
Capítulo 9 – Silêncios que Dizem Tudo
10
Capítulo 10 – Quando Tudo Começa a Sair do Controle
11
Capítulo 11 – Verdades Rachando
12
Capítulo 12 – Manhãs Nunca Foram Tão Perigosas
13
Capítulo 13 – Tudo Que Você Não Devia
14
Capítulo 14 – Quebra de Limites
15
Capítulo 15 — Intervalos
16
Capítulo 16 – Rastros do Fim
17
Capítulo 17 – Linhas que Não Dá pra Desfazer
18
Capítulo 18 – No Limite
19
Capítulo 19 – Amanhecer Estranho
20
Capítulo 20 – Entre o Café e o Silêncio
21
Capítulo 21 – Entre Piadas e Silêncios
22
Capítulo 22 – Colisões
23
Capítulo 23 – Caos no Caminho
24
Capítulo 24 – Manhãs Não Mentem
25
Capítulo 25 – Entre o Silêncio e a Pele
26
Capítulo 26 – Pontes e Linhas
27
Capítulo 27 – Nada Como Antes
28
Capítulo 28 – Horas Mortas
29
Capítulo 29 – Estradas e Silêncios
30
Capítulo 30 – Dois Metros e um Mundo
31
Capítulo 31 – Jogos Perigosos
32
Capítulo 32 – Linhas Tênues
33
Capítulo 33 – Rastro d’Água
34
Capítulo 34 – Silêncios e Sinais
35
Capítulo 35 – Entre Gole e Risada
36
Capítulo 36 – Linha Cruzada
37
Capítulo 37 – Risco na Linha
38
Capítulo 38 – Quando o Mundo Aperta
39
Capítulo 39 – Entre Olhares e Linhas Invisíveis
40
Capítulo 40 – Porta Entreaberta
41
Capítulo 41 – Depois do Incêndio
42
Capítulo 42 – Linhas Invisíveis
43
Capítulo 43 – Entre Ferramentas e Verdades
44
Capítulo 44 — Tudo queimando, tudo nosso
45
Capítulo 45 — Silêncio Cheio
46
Capítulo 46 – Entre Verdades e Silêncios
47
Capítulo 47 – O Gosto de Ficar
48
Capítulo 48 — Manhã de Nós
49
Capítulo 49 — Segredos Mal Guardados
50
Capítulo 50 — O Dia Seguinte
51
Capítulo 51 — Entre risos e provocações
52
Capítulo 52 — Segredo de Estado
53
Capítulo 53 — Distâncias curtas, medos longos
54
Capítulo 54 — Sete dias para caber no bolso
55
Capítulo 55 — De volta e mais perto
56
Capítulo 56 — Churrasco de Fofocas
57
Capítulo 57 — A Foto
58
Capítulo 58 — A Surpresa
59
Capítulo 59 — O Presente
60
Capítulo 60 — O Sempre

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