CAPÍTULO 3

**Capítulo 2 — Yury Volcokv**

Crescer em meio à sombra da Bratva não é algo que se esquece. Eu sempre soube que carregava um sobrenome que inspirava respeito, medo e, às vezes, ódio. Mas desde cedo decidi que meu caminho seria diferente. Enquanto minha família moldava herdeiros para o poder e a violência, eu buscava a ciência, a lógica, a precisão — e, acima de tudo, a distância da escuridão que corria em nossas veias.

Minha infância foi silenciosa. A presença do pai, **Ivan**, era firme, autoritária, quase sempre acompanhada de expectativas pesadas. Meu tio **Nikolai** me ensinou mais sobre estratégia e paciência do que qualquer livro de escola. Minha mãe, **Eleonora**, oferecia ternura com moderação, sempre com cuidado para que a proteção não se confundisse com indulgência. Minha tia **Helena** era a mistura perfeita de força e sensibilidade, e minha prima **Yecataryna**, mesmo jovem, já mostrava sinais de que herdaria a inteligência fria e a ambição de nossa família. Ela e eu éramos parecidos nesse ponto: viciados em trabalho, difíceis de se conectar, mas determinados a dominar o que quer que escolhessem construir.

Minha adolescência foi de estudo e disciplina. Enquanto outros buscavam distrações, eu devorava livros, passava horas em laboratórios, me moldando para a carreira que escolhi: neurocirurgia. Cada ano de estudo me aproximava do meu objetivo — me tornar impecável, respeitado, e sobretudo, independente do legado sombrio que carregava no sangue.

Doze anos se passaram em hospitais, bibliotecas e salas de cirurgia. A residência foi extenuante, mas me destacou entre os colegas. Me tornei conhecido como um dos melhores jovens neurocirurgiões do hospital. Inteligente, preciso, dedicado — e, para aqueles que tentavam se aproximar, frio. Eu nunca gostei de contato social. Abraços, conversas triviais, festas ou gestos de intimidade me incomodavam. Preferia o silêncio, a solidão e a companhia de meus próprios pensamentos.

Minha aparência ajudava a manter a distância: alto, corpo definido pelo esforço constante, olhos penetrantes que afastavam qualquer tentativa de aproximação. E, apesar de tudo, **virgem**, como sempre fui. Não por escolha moral, mas por uma aversão inconsciente ao contato que pudesse quebrar minha rotina, meu foco e meu controle.

Quando meu chefe insistiu que eu tirasse férias — noventa dias que estavam atrasadas — resisti. Não queria sair, não queria voltar para a Rússia, não queria enfrentar a família. Mas o pedido do meu irmão gêmeo, **Enzo**, acabou vencendo minha resistência. Ele precisava de mim perto, de alguma forma, e eu cedi.

A viagem para Moscou foi silenciosa. Cada quilômetro percorrido me aproximava de uma vida que eu tentei ignorar por anos. Chegar à **mansão dos Volcokv** foi como voltar ao epicentro da minha origem: luxo, poder, tradição… e expectativas.

O reencontro com meu pai, **Ivan**, foi tenso. Ele ainda carregava a frustração por eu não seguir os caminhos da Bratva, e não poupou críticas.

— Você pode até ser o melhor neurocirurgião do mundo, Yury — disse ele, firme — mas aqui, sangue e poder ainda são mais importantes do que diplomas.

Não era uma acusação aberta, mas cada palavra pesava como chumbo. Eu permaneci calmo, contido, respondendo apenas quando necessário. O respeito estava presente, mas a conexão era tênue.

Com minha mãe, **Eleonora**, havia outra dinâmica. Seu carinho era genuíno, suas palavras sempre um alívio em meio à tensão familiar. Pequenos gestos, olhares compreensivos, conversas curtas sobre saúde e bem-estar. Ela entendia meu desejo de distância do mundo da Bratva e aceitava minhas escolhas sem julgamento.

Com meu tio **Nikolai**, havia mais abertura. Ele sempre fora direto, porém sábio. Conversávamos sobre estratégia, sobre moral, sobre decisões difíceis. Ele me via como alguém capaz de pensar além da violência, mas ainda assim respeitando os códigos que moldaram nossa família.

Minha tia **Helena** e minha prima **Yecataryna** eram outro desafio. Helena carregava a experiência de quem já enfrentou horrores, e sua presença era ao mesmo tempo protetora e exigente. Yecataryna, minha prima, estava imersa em sua própria empresa de tecnologia, difícil de alcançar, viciada em trabalho, tão focada e obstinada quanto eu. Encontrar espaço para conexão com ela exigia esforço; éramos parecidos demais para sermos naturalmente próximos.

Mesmo cercado pela família, eu me mantinha isolado. Observava, analisava, aprendia. Minha atenção estava voltada para o que realmente importava: manter meu controle, preservar minha rotina e continuar me destacando no hospital, mesmo à distância de quem realmente controlava o poder em Moscou.

E, ao mesmo tempo, sabia que a chegada a Moscou significava inevitavelmente enfrentar o mundo que tentei evitar por tanto tempo. Enzo, o irmão que carregava a responsabilidade do legado da Bratva, já havia me envolvido de maneira indireta, e cada olhar, cada comentário sobre negócios e política familiar, me lembrava que minha escolha de ser apenas médico nunca apagaria meu sangue.

O peso do sobrenome **Volcokv** ecoava em cada gesto, em cada decisão, em cada olhar que eu lançava sobre minha família. Eu estava no limiar entre a liberdade conquistada e o destino que minha origem me impunha. E, apesar de tudo, um pensamento persistia: **eu faria diferente, eu seria diferente.**

Porque, enquanto Yury Volcokv podia carregar a herança de sangue, frio e distante, ele também podia escolher ser apenas homem, médico, irmão… e, talvez, um dia, alguém capaz de sentir algo além da lógica e do silêncio.

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Mavia Dantas

Mavia Dantas

/Scowl/

2025-08-23

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