CAPÍTULO 2

— O Passado de Valentina**

Cresci aprendendo cedo que o mundo não era gentil. Minha mãe sempre dizia que a vida era feita de escolhas — e de consequências. Minha irmã mais nova, ainda menina, não entendia o peso de nossas decisões, e eu precisava ser o escudo, a força que mantinha nossa família inteira. Em Nova York, cada dia era uma luta silenciosa: contas a pagar, empregos temporários, clientes que se aproveitavam de tudo e todos. Mas eu nunca desisti. Eu não podia.

Desde pequena, aprendi a olhar a realidade com olhos duros. A fragilidade não tinha vez em mim; se mostrasse fraqueza, o mundo me engolia. Por anos, me esforcei para manter minha mãe e minha irmã longe de problemas, longe da escuridão que parecia sempre nos rodear. Trabalhei em cafés, lojas, entregas, qualquer coisa que trouxesse algum dinheiro. Cada centavo economizado era um passo para manter nossas vidas equilibradas.

Mas mesmo com esforço, a sensação de insuficiência sempre me acompanhava. Era como se, por mais que fizesse, nunca fosse o suficiente. E quanto mais lutava, mais me percebia sozinha. Não havia amigos de verdade, não havia abraços que realmente confortassem. Havia apenas a responsabilidade, o dever e o medo constante de perder quem eu amava.

Foi nessa rotina sufocante que ouvi falar de Moscou. Uma cidade distante, fria, cheia de oportunidades e perigos que eu só podia imaginar em filmes ou livros. Era a chance de recomeçar. Eu não sabia exatamente o que me esperava, mas precisava tentar. Precisava de algo maior, algo que me tirasse do sufoco constante e que me desse a chance de proteger minha família sem depender de esmolas.

Cheguei a Moscou com uma mala pequena e a mente cheia de estratégias. Cada passo na cidade parecia novo, cada esquina carregava uma mistura de fascínio e perigo. Passei dias procurando emprego, entregando currículos, enfrentando portas fechadas e olhares desconfiados. Mas eu não desistia. Não podia.

E então, em uma dessas tardes cinzentas, entre becos e ruas estreitas, vi a placa: *“Vagas de emprego”*. O bar tinha luz baixa, cheiro de álcool e cigarro, uma música constante que quase não deixava ouvir o próprio pensamento. Algo me dizia que ali poderia haver algo. Ou talvez fosse apenas sorte.

Entrei, respirando fundo, tentando manter a postura. O bar estava cheio, clientes espalhados por mesas e balcão, alguns me olhando com interesse, outros nem me notando. Foi então que meus olhos encontraram **Enzo Volcokv**.

Ele estava bêbado, apoiado no balcão, cercado de dois seguranças. Eu não sabia quem ele era, nem fazia ideia de que estava prestes a cruzar o caminho do homem que mudaria minha vida. Naquele momento, parecia apenas mais um CEO milionário, daqueles que compram tudo com dinheiro e poder. O modo como se movia, como falava, sua presença imponente… tudo me chamou atenção.

Quando ele se levantou e entrou no banheiro, um homem o seguiu com intenções que eu não conseguia decifrar de imediato. Algo em mim despertou — curiosidade ou instinto de sobrevivência, não sei. Apenas segui, silenciosa, observando pela fresta da porta entreaberta.

O que vi me congelou. Dois homens lutavam como predadores, cada golpe carregando a força e a determinação de quem não planeja sobreviver sem ferir o outro. Enzo tentava se defender, mas era evidente que não tinha chance. E então, outro homem entrou, arma em punho, apontando diretamente para a cabeça dele. Meu corpo reagiu antes da mente: gritei.

— **CUIDADO!**

O tiro ecoou. Meu coração parou. Pensei que o mundo tinha acabado para ele, que minha intervenção fora em vão. Mas logo depois, Enzo saiu do banheiro, ferido, machucado, mas vivo. Seus seguranças o seguiram, atentos. E então ele olhou para mim, de uma maneira intensa, avaliativa, e disse:

— **Parabéns, gatinha. Salvou o Pakhan da Bratva. Estamos em dívida.**

Pisou de leve, sorriu, e desapareceu na multidão. Meu corpo ainda tremia, meu coração batia descompassado, mas algo dentro de mim mudara para sempre.

Uma mulher bêbada se aproximou, rindo e apontando para mim:

— Garota… você acabou de salvar **Enzo Volcokv** — disse, a voz arrastada pelo álcool. — Todo mundo inveja esse gostoso.

O nome ecoou na minha mente, carregado de poder, respeito e perigo. Enzo Volcokv. Eu mal podia acreditar. Tudo que tentei evitar, tudo que pensei estar longe da minha vida, estava ali, diante de mim, exigindo atenção, coragem e inteligência.

Naquele momento, **Valentina deixou de ser apenas Valentina**. Eu sabia que precisava ser mais forte, mais esperta, mais rápida do que qualquer situação que surgisse. A sobrevivente que sempre fui começou a se tornar **Selena**, a Dama da Noite. E Moscou, com seus becos frios, luzes tremeluzentes e perigos escondidos, acabava de se transformar no palco onde meu destino começaria a ser traçado.

Porque, no fundo, eu sabia: nada seria mais como antes. Eu havia cruzado com Enzo Volcokv e, sem perceber, entrado em um mundo que me exigiria coragem, inteligência e, acima de tudo, sobrevivência.

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Comments

Mavia Dantas

Mavia Dantas

/Angry/

2025-08-23

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MEDUSA

MEDUSA

eita já gostei

2025-08-23

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