capítulo 2 Max

MAXIMILIANO

(antes de Brasília, só eu, do começo ao agora)

Meu nome é Maximiliano Andrade, tenho 35 anos.

Homem de 1,87m, ombros largos, corpo de quem moldou disciplina na academia, mas a verdadeira força nasceu antes, no peso da responsabilidade. Pele morena, barba cerrada sempre aparada no ponto certo. Meus olhos escuros já ouviram mais confissões do que palavras; muita gente se perde no silêncio deles antes de abrir a boca. Carrego correntes e relógios de ouro — não como ostentação vazia, mas como símbolos de legado e conquista.

Uso quase sempre preto: camisa social aberta no peito, calça sob medida, perfume marcante. Aprendi cedo que presença é arma. Entro em qualquer lugar e sei que vou ser notado — mesmo sem falar uma palavra.

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Infância de mármore e ferro

Nasci em berço sólido. Meu pai, Roberto Andrade, era advogado criminalista, nome respeitado nos tribunais de Brasília. Cresci vendo meu sobrenome ser sinônimo de poder.

Minha mãe, Helena, era o equilíbrio. Enquanto meu pai me treinava pra vencer, ela me lembrava da compaixão. “O poder sem bondade é vazio”, dizia.

Na infância, não me faltou nada material. Mas sobrou disciplina. Enquanto outros meninos corriam na rua, eu ficava sentado na sala ouvindo meu pai discutir casos com colegas. Aos 10 anos já sabia o que era habeas corpus, aos 12 já folheava o Código Penal. Brinquedo era livro. Diversão era observar audiência.

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Adolescência forjada na pressão

Minha adolescência foi um campo de treinamento. Meu pai me cobrava excelência em tudo. Notas abaixo de 9 eram motivo de discurso de uma hora. “O sobrenome Andrade não se arrasta, Maximiliano. Ele se impõe.”

Não tinha liberdade de errar. Meus amigos iam a festas, eu estudava retórica. Enquanto eles aprendiam a dirigir, eu aprendia a sustentar olhar firme sem piscar.

Essa criação me deu autoconfiança, mas também me deixou distante. Sempre fui cercado de gente, mas raramente íntimo de alguém. Desde cedo, entendi: no mundo, confiança é moeda rara.

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O caminho inevitável: Direito

Aos 18, entrei na faculdade de Direito. Não foi escolha, foi destino escrito.

Ali ganhei a fama de arrogante. Talvez eu fosse. Estudava não para passar, mas para dominar. Enquanto alguns se preocupavam com a prova do semestre, eu já estava pensando em jurisprudência, em como usar cada brecha da lei a meu favor.

Tinha charme, sim. Mulheres me procuravam. Mas eu nunca permiti que ocupassem espaço maior que o necessário. Namoros curtos, sem raiz. O que eu queria mesmo era construir minha reputação.

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Primeiros passos no tribunal

Aos 22, comecei a estagiar em escritórios pequenos. Quis provar que não dependia do nome do meu pai. Pegava casos que ninguém queria: furtos, brigas de bar, gente que não tinha dinheiro nem pra pagar consulta.

Foi nesses processos que aprendi a virar jogo com argumentos. Descobri que o tribunal não se vence só com lei — mas com postura.

Meu primeiro grande caso veio aos 25. Defendi um empresário acusado de fraude fiscal. A mídia dizia que ele estava condenado antes mesmo do julgamento. Eu virei a maré. Argumentei com sangue frio, quebrei testemunhas no interrogatório, usei brechas que ninguém tinha visto. Ganhei.

No dia seguinte, meu nome estava em jornais. Chamaram-me de calculista, frio, manipulador. Eu sorri. No Direito, reputação é faca: quanto mais afiada, mais útil.

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O peso do sobrenome

Quando completei 30, meu pai decidiu se afastar. Cansado de décadas de tribunal, preferiu viajar com minha mãe, aproveitar a vida que sempre adiou. O escritório passou a ser meu. Não como presente, mas como teste: provar que eu não só herdei o trono, mas que sabia usá-lo.

Hoje, aos 35, sou dono de um dos escritórios mais respeitados de Brasília. Represento políticos, empresários, figuras públicas. Entro em qualquer audiência sabendo que o jogo só termina quando eu disser. Sou respeitado e temido na mesma medida.

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Vida pessoal: terreno árido

Nunca me casei. Não pretendo. Pra mim, casamento é cela com grades douradas. Prefiro liberdade.

Minha rotina é simples: trabalho de dia, válvulas de escape à noite. Mulheres, boates, whisky, sexo sem promessas. Não me envolvo. Gosto de prazer imediato e silêncio depois.

Alguns dizem que eu vivo cercado de gente, mas no fundo sozinho. Talvez. Mas solidão é mais confortável que decepção. Aprendi a não precisar.

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O homem de agora

Maximiliano Andrade: advogado, 35 anos, dono de uma reputação que carrega tanto poder quanto cicatrizes.

Tenho tudo: dinheiro, respeito, nome. Mas também carrego um vazio. Um buraco que nem vitória, nem sexo, nem aplauso consegue preencher.

Sou filho do Roberto e da Helena. O advogado que nunca perde. O homem que todo mundo respeita.

Mas no silêncio da noite, quando o terno está no cabide e o whisky no copo, sei que ainda falta algo que eu não sei nomear.

...

A manhã começou como qualquer outra: café preto sem açúcar, terno alinhado, corrente de ouro batendo contra o peito, carro importado ronronando pela W3 como se a cidade fosse feita pra mim. No espelho retrovisor, o mesmo olhar de sempre — sério, pesado, exigente.

Cheguei ao escritório e a rotina me recebeu como escrava obediente. Portas de vidro abrindo, recepcionista de sorriso ensaiado, advogados mais jovens correndo com pastas debaixo do braço como ratos assustados. Eu não sorrio, não cumprimento, só caminho. Minha presença já basta.

Entrei na minha sala. A vista de Brasília se estendia imponente: concreto, eixos, céu sem fim. Peguei a caneta Montblanc, joguei alguns papéis sobre a mesa e respirei fundo. Outro dia de guerra, outro dia de vitória.

Foi quando minha secretária, Renata, bateu à porta.

— Doutor, a nova estagiária chega amanhã.

Levantei os olhos devagar, arqueei a sobrancelha.

— Nova estagiária? Quem mandou contratar?

Renata engoliu seco.

— Ela vem recomendada… pelo seu padrinho.

Padrinho. A palavra pesou. Eu nunca ignoro quando ele se envolve. Respirei fundo, fechei a caneta e me recostei na cadeira de couro.

— Então a moça deve ser boa. Ou pelo menos precisa parecer.

Me levantei, caminhei até a janela, mãos nos bolsos, olhar perdido no horizonte de prédios e poder. Já conheço esse enredo: todo ano alguém novo tenta provar valor aqui. Poucos resistem. O escritório não é lugar de alma frágil.

— Que venha — falei com frieza, ainda de costas para Renata. — Mas avisa: aqui não tem espaço pra erro. Quem pisa no meu escritório trabalha, engole pressão e me entrega resultado. Senão, rua.

Renata assentiu em silêncio, como sempre fazia quando eu soltava ordens com aquele tom de sentença.

Me virei, ajeitei a manga da camisa, deixando o relógio de ouro brilhar na luz.

— Ah, e Renata… não quero ser incomodado com detalhes banais. Se essa garota der trabalho, me poupe da novela. Corte pela raiz.

Ela assentiu outra vez e saiu, fechando a porta atrás de si.

Fiquei sozinho, olhando para minha mesa lotada de processos. Sorri de canto. A vida me ensinou a desconfiar de todo mundo, principalmente de novatos. Essa moça, seja lá quem for, vai aprender rápido que no mundo dos Andrades, ou você nada… ou afunda.

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Comments

Andreza Lelis

Andreza Lelis

Maximiliano tem tudo na vida, mas sente um vazio, penso que falta para ele o amor e esse amor está chegando para preencher tudo que está faltando na vida dele!

2025-09-07

0

Simone Freitas

Simone Freitas

Vida com dinheiro , família estruturada mas vazio na alma que do …,
Mas penso que quem vai preencher o vazio está chegando hihi

2025-08-23

0

iracilda damasceno

iracilda damasceno

Esse Maximiliano é pressão das boas mais essa muralha vai desabar quando encontrar alguém pra bater de frente com ele.

2025-08-22

0

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