O preço da proximidade

A sala ainda parecia pulsar em silêncio depois que Adrian pronunciou aquelas palavras: Essa foi a primeira porta. Existem outras.

Eu não conseguia desviar os olhos dele. Seus traços estavam mais sombrios à luz fraca das velas, como se o fogo que iluminava seu rosto também revelasse suas fissuras, suas dores, seus segredos. Não era apenas um homem — era um abismo. E eu já havia dado o primeiro passo para dentro dele.

— Se existem outras portas — arrisquei, minha voz baixa, quase trêmula —, então quero atravessá-las.

Um silêncio pesado se instalou. Os olhos dele se estreitaram, analisando-me como se tentasse prever até onde eu aguentaria ir.

— Você não entende o que está pedindo, Elena. — Sua voz soou grave, carregada de uma tensão quase dolorosa. — Cada porta revela algo que não pode ser esquecido. E o que é visto, não pode ser desfeito.

— Então me mostre. — Eu mesma me surpreendi com a firmeza das minhas palavras. — Prefiro carregar a verdade do que viver na ignorância.

O músculo em sua mandíbula se contraiu. Ele se aproximou lentamente, e a intensidade em seu olhar fez minha respiração falhar.

— A verdade tem um preço. — Sua mão subiu até meu rosto, roçando a linha da minha mandíbula. — E não sei se estou disposto a deixá-la pagá-lo.

Meu corpo inteiro queimava sob aquele toque contido, como se uma tempestade prestes a explodir estivesse presa dentro dele. Eu poderia jurar que ele lutava contra algo muito maior que nós dois — uma força que o consumia por dentro.

— Então me esconda — sussurrei, repetindo as palavras que eu mesma havia dito na noite anterior. — Mas não de você.

Por um instante, o mundo pareceu parar. Ele fechou os olhos e respirou fundo, como se minhas palavras fossem ao mesmo tempo sua condenação e sua salvação. Quando os abriu novamente, havia fogo em seu olhar.

— Você não sabe o que está dizendo — murmurou, a voz rouca, carregada de desejo e raiva. — Mas maldita seja… eu não consigo afastar você.

E, antes que eu pudesse reagir, seus lábios finalmente tomaram os meus.

O beijo foi tudo menos delicado. Era fome, desespero, raiva e entrega misturados em uma explosão. Segurei-o pelo casaco, puxando-o para mais perto, como se o simples contato de sua boca não fosse suficiente para apagar o fogo que consumia meu corpo. Ele me prensou contra a parede, e cada movimento, cada toque, era marcado por uma urgência que eu nunca havia sentido antes.

Por um instante, não havia maldição, não havia perigo, não havia medo. Havia apenas nós dois, queimando na mesma chama.

Quando o beijo se quebrou, minha respiração estava descompassada. O rosto de Adrian estava próximo, seus olhos cinzentos incandescentes como ferro em brasa.

— É isso o que acontece quando se brinca com monstros — ele sussurrou.

— Então me deixe brincar até o fim — respondi, sem hesitar.

Ele riu baixo, mas o som era amargo. Sua mão percorreu meu braço até segurar meus dedos. Por um momento, parecia que ele queria me afastar, mas ao invés disso, puxou-me para o centro da sala.

— Há pessoas que matariam por estar no seu lugar — disse ele, fitando os papéis e símbolos sobre a mesa. — Mas nenhuma delas entenderia o peso.

— E eu entendo? — perguntei, desafiando-o.

— Ainda não. — Seu olhar voltou para mim, mais sombrio do que nunca. — Mas vai.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Eu queria perguntar mais, queria arrancar dele cada segredo, mas algo na expressão dele me fez parar. Era como olhar para uma fera enjaulada — qualquer movimento errado, e ela despedaçaria tudo ao redor.

— Não tente me salvar, Elena. — Sua voz saiu baixa, rouca. — Eu não quero ser salvo.

Meu coração apertou. Eu deveria ter medo, deveria recuar, mas não consegui. Em vez disso, apenas aproximei meus lábios do dele mais uma vez, num gesto silencioso de desafio e entrega.

Adrian me olhou como se eu fosse sua maior tentação e sua maior maldição. E, pela primeira vez, não tentou resistir.

Quando ele apagou as velas da sala, mergulhando-nos na penumbra, compreendi: eu já não era apenas uma intrusa nos segredos dos Blackthorne. Eu era parte deles.

E o preço por atravessar a primeira porta já começava a se cobrar.

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LaConstieConsti

LaConstieConsti

Só amor até agora.

2025-08-22

1

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