A marca do perigo

O silêncio depois das palavras dele me engoliu inteira. Não deveria brincar com monstros.

O mundo parecia ter parado naquele instante. O vento cessara, o som distante da cidade havia desaparecido, e tudo o que restava era o bater do meu coração, tão rápido e alto que eu tinha certeza de que ele também podia ouvir.

Adrian não desviava os olhos de mim. Sua presença era sufocante, como se enchesse cada espaço ao meu redor, me impedindo de respirar direito. Havia algo em seu olhar que não era apenas desejo — era domínio, era ameaça, era a promessa de um perigo do qual eu jamais conseguiria escapar se desse um único passo em falso.

Mas, apesar disso, eu não conseguia me mover.

— Você me conhece? — consegui perguntar, minha voz trêmula, mas mais firme do que eu esperava.

Um sorriso lento curvou os lábios dele. Não era um sorriso amigável; havia crueldade ali, um divertimento sombrio diante da minha ousadia.

— Eu conheço mais sobre você do que gostaria.

Arrepios percorreram minha espinha. Como ele podia saber meu nome, a minha presença ali, como se tivesse antecipado cada decisão que eu tomaria até aquele momento?

— Isso é impossível — sussurrei, quase para mim mesma.

Ele inclinou a cabeça, os olhos cinzentos faiscando sob a pouca luz.

— Nada é impossível quando se trata de você, Elena.

Minha respiração falhou. Ele não disse de pessoas como você. Disse de você. Como se eu fosse diferente, marcada, escolhida de alguma forma que eu ainda não compreendia.

Adrian deu um passo à frente, e, instintivamente, recuei. O choque da parede fria em minhas costas me lembrou que eu estava encurralada. Ele sabia disso. Estava me prendendo ali de propósito, e não fazia questão de disfarçar.

Sua mão se ergueu devagar, pousando na parede, ao lado do meu rosto. Não me tocou, mas a proximidade era devastadora. Sua presença queimava como fogo, e, ao mesmo tempo, era gelada como gelo cortando a pele.

— Você devia ter ficado longe — disse, a voz baixa, como um rugido contido. — Mas procurou a escuridão… e a escuridão sempre responde.

O timbre dele tinha algo de hipnótico, algo que entrava fundo nos meus ossos e fazia meu corpo esquecer de lutar.

Quis perguntar por que eu?, mas não consegui. Em vez disso, as palavras que escaparam dos meus lábios foram ainda mais perigosas:

— Talvez eu nunca tenha pertencido à luz.

Por um instante, os olhos dele se estreitaram, como se eu tivesse revelado uma verdade que ele já conhecia. Então, Adrian se aproximou ainda mais, o rosto a centímetros do meu. Sua respiração se misturou à minha, e meu corpo inteiro pareceu implorar por um toque que ele não dava.

— Diga que vai embora — ordenou em um tom rouco, quase suplicante, mas firme. — Agora.

Eu deveria ter dito. Eu deveria ter corrido. Mas havia algo dentro de mim que queimava, que pedia para ficar, para mergulhar cada vez mais fundo no abismo que ele representava.

— E se eu não quiser? — retruquei, a voz mais ousada do que o medo que me corroía por dentro.

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que quase pude tocá-lo.

Os olhos dele se fecharam por um instante, como se travasse uma guerra contra si mesmo. Quando os abriu novamente, havia neles um brilho partido, uma vulnerabilidade escondida sob camadas de frieza e arrogância.

Ele me encarou como se eu fosse a maior tentação e a pior maldição de sua vida.

— Então você vai se perder em mim. — A voz dele saiu baixa, grave, carregada de um peso que parecia uma sentença.

E, pela primeira vez, percebi que talvez fosse exatamente isso que eu queria: me perder em Adrian Blackthorne.

Porque, no fundo, algo dentro de mim já sabia. Aquele não era apenas o início de uma história. Era o começo do meu fim.

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Comments

Felipa Bravo

Felipa Bravo

Inesquecível

2025-08-22

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