UM CEO! DE PADRASTO?
- Meu nome é Valentina, tenho trinta e dois anos. Sou mãe solteira, tenho uma filha chamada Emma. Ela tem três anos e é a minha adoração.
Sempre tentei dar tudo a ela.
A cubro, deixando um beijo em sua testa, e apago a luz da lâmpada que ilumina o quarto. Saio e vejo minha prima Trini sentada na sala, assistindo às novelas que tanto gosta, "de amor".
— Vale, já vai? — ela me pergunta ao me ver pegar a bolsa e o guarda-chuva.
— Sim. Hoje me pediram para chegar cedo, já que uma colega pediu licença.
— Aquele saco de pancadas?
Ela me diz e eu a vejo irritada.
— Trini, não diga essas coisas.
— É que não entendo que mulher se deixa bater, vamos, Vale, na rua tem muitas pedras, e em casa tem panelas para se defender.
— Qualquer coisa, me ligue, sabe que estou sempre atenta ao celular.
— Sim, galinha choca — ela zomba.
Ela tem apenas 18 anos e, à noite, trabalha como babá da minha filha. Saio de casa e vejo o carro, aquele que comprei com muito esforço.
Cumprimento minha tia, que está tirando o lixo, ela trabalha na limpeza em uma empresa muito importante, sempre está atenta às vagas da empresa, pois quer que eu deixe esse trabalho.
Entro no meu carro e dirijo para o trabalho. Suspiro e sorrio ao lembrar o quão tola eu costumava ser na idade de Trini. Nunca imaginei que minha vida seria assim. E não me refiro à minha filha, claro que não. Ela é o único motivo pelo qual continuo aqui, lutando. Refiro-me a que, quando era jovem, costumava sonhar com o príncipe das novelas que Trini vê agora.
Olho para a enorme fila de carros e nego, por mais que tenha saído cedo, não consigo chegar a tempo por causa do trânsito. Enquanto espero, os pensamentos me chegam em cascata.
Vejo-me estudando para ser alguém na vida. Nunca fui conformista. Sempre quis mais, nunca ficar estagnada. Terminei minha faculdade em Finanças, mas de nada adiantou se não consegui encontrar trabalho nisso... Depois fiquei grávida, e olhem para mim agora, aqui, trabalhando como dançarina de shows temáticos. Há garotas que fazem nudez, mas eu só dou espetáculo.
Foi o único trabalho que pude pegar quando cheguei há três anos com minha filha nos braços.
Cheguei à casa da minha tia, pois é a única família que tenho, ela sempre me pediu para vir morar com ela aqui. Depois do ocorrido, não hesitei e cheguei a este país para começar uma vida diferente do zero com minha filha.
Na semana seguinte, me tornei independente, pois queria ter meu espaço e, com meu passado, só queria ficar sozinha com minha filha, consegui alugar ao lado da casa da minha tia e é lá que vivo, e é que este trabalho me dá o dinheiro de que preciso. Sempre tentei dar tudo à minha filha. Nunca lhe faltou nada, e quero que continue assim.
Emma requer muita atenção, pois sofre de convulsões. Só de lembrar o motivo, me faz cerrar os punhos de impotência enquanto caminho pelos corredores do clube noturno.
"Causado por trauma pré-natal".
Lembro com clareza do diagnóstico do médico.
Chego aos camarins e minhas colegas me cumprimentam. Vejo-as se arrumando em frente aos espelhos e me tranco em um cubículo onde me troco. Saio vestida com peruca e máscara. Minha roupa costuma ser a mesma todos os dias, só varia a cor: saia curta e blusa de umbigo de fora. Sempre uso meias e mangas compridas, como se o tecido pudesse cobrir mais do que realmente cobre.
Lembro das primeiras semanas... me sentia suja, apesar de só dançar. Mas com o tempo me acostumei. Percebi que se não fizesse algo, minha filha morreria, ela é a minha maior motivação.
Como todas as noites, saio para dar o show. As aulas extras que fiz quando estudava me serviram muito, sempre gostei de dança, e o balé foi algo que soube unir com meu estilo para um mesmo fim.
Minha noite termina e as pessoas aplaudem Arabeska, meu nome artístico.
Me despeço e volto para o camarim. Tiro a máscara e sinto que volto a respirar.
— Arabeska, um cliente quer te ver — me diz meu chefe.
Sem vê-lo, nego com a cabeça.
— Sabe qual é a resposta.
— Tenho entendido que sua filha precisa de um estudo muito caro... você precisa. É só acompanhá-lo na mesa.
— E sentar no colo dele?
— Só isso. Te daria milhares. Você é a mais solicitada.
— Obrigada, Lobo, mas não.
Ele assente e vai embora. Volto a entrar. Se continuo aqui, é porque Lobo sempre respeitou a decisão de nós.
— Ouvi dizer que o namorado a espancou — diz uma das minhas colegas, falando da que não veio hoje.
E eu acredito. Várias vezes a vimos chegar espancada ao trabalho. Sempre maquia os hematomas, mas o pior que pode existir é uma mulher espancada que não pede ajuda. E quando alguém oferece ajuda, ela não quer ser ajudada. Quantas vezes minhas colegas não tentaram tirá-la dali... e sempre volta com aquele que a deixou em uma poça de sangue.
Me afasto, pois para mim será um tema que sempre me traz más lembranças e só de imaginar me dá vontade de obrigá-la a ir embora antes que esse animal a mate.
No restante da noite só me dedico a servir as bebidas em uma ou outra mesa, até que chega minha hora de saída.
Me troco deixando a peruca e a máscara. Saio pela porta onde só os trabalhadores têm acesso, dirijo para minha casa e Trini está vendo filmes.
A cumprimento subindo ao quarto da minha filha e da porta a vejo dormir, chegar em casa e vê-la dormir tão placidamente vale cada segundo nesse trabalho.
Com um sorriso no rosto, desço onde Trini está.
— Minha mãe tem grandes notícias para você.
— Sério?
Pergunto tirando os sapatos.
— Abriu uma nova vaga, nada mais nada menos que na empresa onde ela trabalha, é para um cargo onde se deve estar perto do bombom do chefe dela.
— Quem?
Pergunto e ela se senta para me explicar e me dá risada porque sempre diz as coisas com muita empolgação.
— Ou seja, não esse chefe o banana, gordo, careca amargurado, não, eu falo do chefe dos chefes, o dono da empresa. O bombom das revistas.
Assinto, pois sei de quem fala, é um arrogante e prepotente e amargurado que se acha a última garrafa de água do deserto, o vi uma vez de longe e mesmo assim pude sentir sua aura de um homem insuportável e com isso me bastou para saber que tipo de pessoa ele é.
— Te vi chegar.
Diz minha tia deixando um beijo na minha testa e se senta na minha frente.
— Já tem uma vaga, então mãos à obra.......
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Atualizado até capítulo 80
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