📖 Capítulo 4 – A Espera
O silêncio da manhã parecia mais pesado do que nunca. Luna sentou-se à mesa da cozinha, observando o pão levemente queimado na frigideira. O café esfriava lentamente ao lado, mas ela não tinha coragem de tocá-lo. Faziam três dias desde a entrevista na mansão de Henrique Azevedo, e a espera pela resposta a consumia. Cada toque do telefone fazia o coração dela disparar. Talvez fosse a secretária ligando. Talvez fosse a notícia que poderia mudar sua vida.
Ela suspirou profundamente, olhando para o pai, que dormia no sofá da sala com o jornal amassado no colo, e para o irmão mais novo, que brincava distraído com um carrinho de brinquedo. Sua tia, ocupada na limpeza, murmurava para si mesma enquanto varria o chão. A rotina na casa não era fácil, mas era a vida que Luna conhecia desde que perdera a mãe.
— Luna, você já foi olhar no telefone de novo? — perguntou a tia, percebendo a inquietação da jovem.
— Ainda não… — respondeu Luna, tentando disfarçar a ansiedade. — Só estou esperando a ligação deles.
— Três dias já… — murmurou a tia, preocupada. — Você não acha que é um pouco demorado?
Luna baixou os olhos, apertando as mãos. — Eu sei… mas talvez eles estejam ocupados. O senhor Henrique… ele deve receber muitas candidatas.
A verdade era que Luna não conseguia parar de pensar em Henrique. Cada detalhe do escritório, a maneira como ele a analisara, a postura firme, o tom sério — tudo permanecia gravado em sua mente. Ela se lembrava de como ele havia se inclinado na cadeira, do modo como a observava sem disfarçar o interesse, mas sem jamais revelar emoções. Era confuso e, ao mesmo tempo, intrigante.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Henrique estava em seu escritório particular, revisando relatórios da empresa. Mas sua mente não estava nos números. Ele se lembrava de Luna, da firmeza e da honestidade dela. A simplicidade daquela moça havia despertado algo inesperado nele. Não podia admitir, mas havia algo na forma como ela encarara cada pergunta, sem tentar impressioná-lo com mentiras ou exageros, que o incomodava e fascinava ao mesmo tempo.
— Três dias se passaram… — murmurou Henrique, fechando o relatório. Ele se levantou, caminhando lentamente pelo escritório. — Preciso decidir. Não posso simplesmente contratá-la porque me impressionou. Preciso avaliar se ela realmente vai se adaptar à casa, se consegue suportar a pressão.
Ele respirou fundo, lembrando-se do toque breve das mãos dela ao entregar o currículo, do tremor sutil que não conseguiu disfarçar. Por fora, Henrique precisava manter a postura fria e impassível; por dentro, seu coração acelerava de uma forma que ele não admitiria a ninguém.
Enquanto isso, Luna tentava ocupar a mente com tarefas domésticas, mas a ansiedade a fazia se distrair a cada minuto. Cada som do telefone, cada toque de campainha, era motivo de esperança e desespero. Seu pai, alheio à tensão da filha, reclamava do calor da manhã. O irmãozinho pedia para brincar, e a tia tentava manter a calma. Mas Luna sabia que aquele emprego não era apenas uma oportunidade de trabalho: era a chance de dar estabilidade à família, de finalmente ter um salário que permitisse cuidar de todos sem depender de favores ou pequenos trabalhos temporários.
No terceiro dia, o telefone finalmente tocou. O coração de Luna parecia querer sair do peito. Ela correu para atender, mãos suando, respiração acelerada.
— Alô? — disse, a voz trêmula.
— Senhorita Luna, aqui é a secretária do senhor Henrique Azevedo. — a voz do outro lado era firme, mas educada. — O senhor decidiu contratá-la. Por favor, compareça à mansão amanhã cedo. Ele dará todas as instruções.
Luna ficou em silêncio por um instante, tentando processar a notícia. — Eu… eu fui aprovada? — perguntou, quase sem acreditar.
— Sim, senhorita. Aguardo você amanhã. — a secretária desligou.
As mãos de Luna tremiam. Ela segurou o telefone com força e começou a pular de alegria, mas logo se conteve, lembrando-se do pai e do irmão. Correu até a cozinha, abraçando a tia.
— Conseguimos! Eu consegui o emprego! — disse, com lágrimas nos olhos.
A tia sorriu, emocionada, e passou a mão pelos cabelos de Luna. — Eu sabia que você conseguiria. Agora tudo vai melhorar para todos nós.
Naquele momento, Luna sentiu uma mistura de felicidade, medo e responsabilidade. Morar na mansão de Henrique significava estar longe da família em tempo integral, estar sob regras rígidas e, possivelmente, enfrentar a frieza do chefe. Mas ela estava disposta a tudo para garantir uma vida melhor para os seus.
Enquanto isso, Henrique revisava mentalmente os detalhes da decisão. Ele sabia que a casa exigiria disciplina, paciência e dedicação total. Mas Luna… Luna era diferente. Algo nele dizia que ela não seria apenas uma funcionária: poderia se tornar alguém que marcaria a sua vida de maneira profunda. Ele apenas não sabia ainda como admitir isso, nem para si mesmo.
No dia seguinte, Luna se preparou com cuidado. Escolheu roupas simples, limpas e discretas, e arrumou o cabelo de forma modesta. Sentia a responsabilidade de representar sua família e sua própria dignidade. Antes de sair, abraçou o pai, o irmão e a tia, prometendo a eles que faria o seu melhor.
— Prometo que vou dar tudo de mim — disse, a voz embargada. — E vou cuidar da casa como se fosse a nossa própria.
O pai apenas acenou, orgulhoso e silencioso. O irmãozinho segurou sua mão e sorriu, sem precisar dizer nada. A tia lhe deu um abraço apertado e murmurou:
— Vá e mostre do que é capaz, minha menina.
Ao chegar à mansão, Luna sentiu novamente o impacto do luxo e da imponência do lugar. O portão se abriu e os funcionários a cumprimentaram com um misto de curiosidade e formalidade. Ela respirou fundo e caminhou até a porta do escritório, lembrando-se das palavras de Henrique e de como ele a havia testado na entrevista.
Henrique, do outro lado, observava pela janela quando a viu chegando. Ele ajustou o paletó, mantendo a postura dura e impassível. Mas, por dentro, uma expectativa ansiosa o dominava.
— Que seja… — murmurou para si mesmo. — Veremos se ela consegue realmente lidar com tudo isso.
Quando Luna bateu à porta, ele respirou fundo e disse, com a voz firme:
— Pode entrar.
E naquele instante, ambos sabiam que aquela decisão mudaria a vida de ambos para sempre.
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Atualizado até capítulo 48
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