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📖 Capítulo 3 – A Entrevista

— Pode entrar, senhorita Luna.

Ela respirou fundo, ajeitou discretamente a saia simples que usava e bateu de leve na porta.

Do outro lado, uma voz firme, grave e sem paciência respondeu:

— Entre.

Luna empurrou a porta devagar. O ambiente era luxuoso, com janelas enormes que deixavam a luz da manhã iluminar a mesa de mogno impecavelmente organizada. Atrás dela, estava ele: Henrique Azevedo, o homem que carregava o peso de uma fortuna e de uma reputação.

Ele ergueu os olhos do documento que lia e, por um segundo, seus olhares se cruzaram.

Luna engoliu em seco. Henrique tinha um olhar penetrante, sério, que parecia ler sua alma. Ele, por sua vez, notou imediatamente a simplicidade da moça. Diferente das outras candidatas, que chegavam com roupas caras e perfume forte, Luna vestia uma blusa limpa, mas modesta, e segurava o currículo dobrado com as duas mãos, como se fosse um tesouro.

Henrique apoiou o queixo na mão, observando-a com calma, mas dentro dele algo despertou. Ela é diferente... tão simples... tão... verdadeira. Mas logo se recompôs. Não poderia deixar transparecer nada.

— Sente-se. — ordenou, apontando para a cadeira diante dele.

— Obrigada, senhor. — a voz dela saiu baixa, quase um sussurro, enquanto se sentava com cuidado, mantendo os joelhos juntos.

Henrique esticou a mão. — O seu currículo.

Luna se apressou em entregar, mas suas mãos tremiam levemente. Ele percebeu. Seus dedos roçaram os dela por um instante, e aquilo foi suficiente para lhe causar uma estranha sensação. Rápido demais, Henrique puxou o papel, fingindo que não sentira nada.

— Vejo aqui que a senhorita tem experiência em serviços domésticos e atendimento. — ele falava em tom frio, analisando o papel, mas seus olhos, de vez em quando, se desviavam para o rosto dela. — Mora com quem?

— Moro com meu pai, meu irmão e minha tia, senhor. — respondeu, com um fio de voz. — Depois que perdi minha mãe, precisei aprender a cuidar da minha família.

Henrique levantou os olhos do papel e a encarou diretamente. O tom humilde dela mexeu com algo dentro dele. Mas não deixou que sua expressão mudasse.

— E por que deseja este emprego?

Luna respirou fundo. — Porque preciso de uma oportunidade. Trabalho duro, não tenho medo de serviço pesado. Quero apenas um lugar estável, onde possa dar o meu melhor.

Henrique arqueou uma sobrancelha. O discurso era simples, mas verdadeiro. Nada ensaiado, nada forçado. Ele apoiou as costas na cadeira, cruzando os braços.

— Você sabe que não será apenas um serviço de faxina comum. — disse, sério. — Trata-se de morar na residência, cuidar do espaço, estar disponível a qualquer hora. Não é uma função fácil.

Luna apertou as mãos no colo. — Entendo, senhor. E estou disposta.

Um breve silêncio se instalou. Henrique a observava, intrigado. As outras candidatas falavam demais, se exibiam, tentavam impressioná-lo. Mas aquela jovem... apenas dizia a verdade, sem floreios.

Ele pigarreou, tentando afastar os pensamentos.

— Vejo que não tem referências recentes. Isso me preocupa. Como sei que posso confiar em você?

Luna ergueu o olhar, com uma firmeza inesperada. — Não tenho como provar com papéis, senhor. Mas posso provar com trabalho. Se me der uma chance, não vai se arrepender.

Henrique sentiu um leve impacto. Corajosa... e ainda assim doce. Ele tamborilou os dedos sobre a mesa, mantendo a pose.

— Muito bem. — disse, seco. — Diga-me, está preparada para lidar com regras rígidas? Eu não tolero atrasos, descuidos ou desobediência. Na minha casa, cada detalhe importa.

Luna assentiu rapidamente. — Sim, senhor. Estou preparada.

— Veremos. — Henrique se levantou, caminhando até a janela. Suas mãos estavam atrás das costas, o corpo imponente. Ele falava sem olhá-la. — Morar na minha casa significa abrir mão da sua privacidade. Está ciente disso?

Ela hesitou por um instante, mas respondeu com sinceridade:

— Sim. Se for para garantir o trabalho, estou disposta.

Henrique se virou, e por um instante seus olhos revelaram algo além da dureza. Um lampejo de curiosidade... talvez até desejo. Mas ele logo retomou o tom impassível.

— Muito bem, senhorita Luna. A decisão final ainda será tomada, mas confesso que sua postura me surpreendeu.

O coração dela disparou. — Obrigada, senhor.

Ele caminhou até a mesa novamente, recolheu o currículo e deixou-o sobre a pilha de documentos. Ao se aproximar dela para entregar uma pasta com instruções sobre as próximas etapas, sua mão roçou novamente a dela. O contato foi breve, mas suficiente para fazer com que Luna desviasse o olhar, corada.

Henrique percebeu. Por dentro, sorriu satisfeito, mas por fora manteve o semblante frio.

— Pode ir. A secretária entrará em contato.

Luna se levantou, ajeitando-se. — Agradeço a oportunidade.

Ela caminhou até a porta, mas antes de sair, não resistiu a olhá-lo mais uma vez. Henrique estava de pé, olhando-a com uma intensidade que a fez estremecer.

Quando a porta se fechou, ele soltou um suspiro baixo e murmurou para si mesmo:

— Inusitado... muito inusitado.

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