NARRADO POR NAYLA.
O frio de Moscou me atingiu como uma lâmina afiada assim que desci do avião. Não era o tipo de frio que se enfrentava apenas com casacos e luvas — era um frio que parecia atravessar a pele, se alojar nos ossos e tentar sufocar a alma.
Apertei minha jaqueta surrada contra o corpo e respirei fundo. O ar parecia cortar minha garganta.
Meus olhos varreram o saguão em busca de um rosto conhecido. No meio da multidão, vi Camila. Ela abriu um sorriso caloroso e correu até mim. Abracei-a com força, sentindo o conforto de ter um pedaço da minha terra ali, tão longe de casa.
— Bem-vinda à Rússia, Nayla! — disse ela, animada.
— Obrigada, Cami. — Sorri, mas minha voz saiu trêmula, e não era só por causa do frio.
Ao lado dela, estava Viktor, seu marido. Alto, imponente, com traços sérios. Ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e um breve sorriso. Percebi que ele não falava português — apenas algumas palavras em inglês. E o meu inglês... era básico o suficiente para sobreviver, mas longe de me deixar confortável.
O caminho até a casa deles foi silencioso. Camila falava animada sobre a cidade, apontando prédios e contando histórias. Eu tentava prestar atenção, mas minha mente estava longe. Não conseguia parar de pensar no motivo que me trouxe até ali: dar uma vida melhor para minha mãe e meus dois irmãos pequenos.
Minha vida em Campina Grande nunca foi fácil. Meu pai nos abandonou quando eu tinha apenas dez anos. Minha mãe, sozinha, lavava roupas para famílias do bairro, ganhando o suficiente para colocar comida na mesa — e nada além disso.
Quando fiz quinze, comecei a trabalhar também. Primeiro como ajudante em uma pequena padaria, depois como babá, e, por último, como empregada doméstica. Cada real que eu ganhava era para ajudar a pagar as contas e comprar o que meus irmãos precisavam.
Nunca namorei. Não por falta de oportunidade, mas porque meu tempo era engolido pelo trabalho e pelas responsabilidades. Além disso, sempre carreguei um sonho que parecia bobo para alguns: me entregar apenas ao homem que seria meu marido. Guardar o que havia de mais íntimo em mim para alguém que realmente me amasse.
Era uma promessa que fiz a mim mesma. E que pretendia cumprir.
Na manhã seguinte à minha chegada, Camila me acordou cedo.
— Vamos, Nayla, hoje é seu primeiro dia. Quero que chegue cedo, para causar boa impressão.
Enquanto ela me ajudava a escolher uma roupa simples, mas apresentável, explicou:
— Você vai trabalhar na mansão Orlov. É uma das famílias mais influentes de Moscou. Lá, tudo é diferente. Tem que ter cuidado com o que fala, com o que ouve... e nunca comentar nada fora de lá.
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça enquanto atravessávamos a cidade. Quando chegamos, fiquei sem fôlego.
O portão de ferro imponente, os jardins cobertos de neve, a arquitetura grandiosa que parecia saída de um filme. Tudo gritava riqueza e poder.
Uma senhora elegante nos recebeu. Seu olhar era avaliador, como se pudesse medir meu valor apenas com um relance.
— Você é Nayla? — perguntou em inglês.
— Sim. — Respondi, nervosa, tentando não deixar transparecer meu sotaque pesado.
— Siga-me. — Ela se apresentou como Galina, a governanta.
Caminhei pelos corredores luxuosos, tentando absorver cada detalhe. Tapetes impecáveis, paredes decoradas com quadros antigos, móveis que pareciam relíquias. Finalmente, ela me levou a um escritório, onde uma mulher aguardava.
— Seja bem-vinda, Nayla — disse, em inglês, com um leve sorriso. — Sou Elena Orlov, mãe de Nikolai.
O nome me soou familiar. Camila havia comentado sobre ele algumas vezes, sempre com respeito e um certo receio.
A conversa foi breve. Elena explicou as regras básicas e, antes que eu começasse, colocou um contrato sobre a mesa.
— É um acordo de confidencialidade. Tudo o que acontecer aqui dentro deve permanecer aqui.
Assinei com as mãos trêmulas. Ela então me lançou um olhar que me fez prender a respiração.
— Algumas áreas da casa não são para curiosos. E nossa família está envolvida em... círculos que não são exatamente comuns.
Senti um arrepio. Mas apenas assenti.
Passei as primeiras horas do dia aprendendo minha rotina. As outras funcionárias falavam entre si em russo, e eu me sentia deslocada. Entendia apenas algumas instruções simples em inglês, e o resto eu tentava adivinhar pelos gestos.
Foi quase no final do dia que aconteceu. Eu estava no corredor principal, levando uma bandeja para a sala de estar, quando ouvi passos pesados atrás de mim. Me virei — e vi.
Um homem alto, imponente, usando um terno perfeitamente ajustado. Ombros largos, expressão fria, olhar que parecia atravessar a pele. Seus olhos... eram azuis, tão claros que pareciam feitos de gelo.
Ele parou a poucos metros de mim. Não disse nada. Apenas me observou, como se estivesse avaliando cada detalhe. Meu coração disparou.
Eu não sabia quem ele era — mas tinha certeza de que ele sabia quem eu era.
O silêncio dele era quase opressor. Senti vontade de abaixar a cabeça, mas não consegui. Era como se estivesse presa àquele olhar.
Por fim, ele deu um leve aceno e seguiu adiante. Só depois que ele sumiu no corredor percebi que estava sem ar.
Descobri depois, pelas outras funcionárias, que aquele homem era Nikolai Orlov. O chefe. O Pakhan. O dono daquele império.
E, de alguma forma, eu tinha chamado sua atenção.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Karla Barbosa Marinho
uau que olhar , mais gente galina foi a melhor que nome
2025-08-20
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