O salão de reuniões estava impregnado de vozes monótonas, gráficos projetados e copos de água intocados. Andrew Donovan sentava-se à cabeceira da mesa de carvalho polido, o semblante impecável, a gravata ajustada com precisão, mas o olhar distante. Os homens e mulheres à sua frente falavam de números, estratégias de expansão, riscos de mercado. Ele respondia com acenos ocasionais, como se cada palavra fosse analisada com frieza, mas a verdade é que sua mente estava em outro lugar.
Era assim havia anos. Andrew crescera dentro daquele universo de exigências, herdeiro de uma das famílias mais influentes do país. Desde jovem, aprendera que não havia espaço para falhas, nem para hesitação. Sua postura precisava ser firme, sua presença, imponente. O nome Donovan era mais que um sobrenome: era um peso que ele carregava como corrente invisível.
Quando a reunião terminou, fechou a pasta de couro com um estalo e levantou-se, despedindo-se com a mesma elegância automática de sempre. Caminhou até o elevador de mármore, onde os espelhos refletiam sua imagem: trinta e dois anos, traços fortes, pele clara levemente marcada pelo estresse, cabelos escuros e enrolados que insistiam em cair sobre a testa. Ele se via como um homem feito de concreto — sólido, calculado —, mas ao mesmo tempo sentia-se cada vez mais oco por dentro.
No térreo, o motorista já o aguardava com o carro preto brilhante. Andrew entrou sem dizer palavra. O couro macio do banco deveria transmitir conforto, mas apenas reforçava a sensação de estar enclausurado.
— Para casa, senhor Donovan? — perguntou o motorista, um homem acostumado ao silêncio do patrão.
Andrew hesitou. A ideia de voltar para o apartamento luxuoso, amplo e vazio, lhe deu um gosto amargo na boca.
— Não. Dê a volta pela parte antiga da cidade — ordenou.
O carro deslizou pelas ruas movimentadas. Andrew observava pela janela as pessoas comuns: mães apressadas com crianças, jovens carregando mochilas, vendedores abrindo suas lojas. Havia algo na simplicidade daquilo que o fascinava e ao mesmo tempo o entristecia. Ele, rodeado por luxo e abundância, nunca tivera de correr atrás de um ônibus, de negociar o preço de um pão ou de se preocupar com a conta de luz. Mas talvez fosse justamente por isso que sua vida lhe parecia tão sem sabor.
Foi então que a viu.
Ela atravessava a rua com uma pilha de livros nos braços, o casaco cinza solto balançando ao vento. Os cabelos negros caíam sobre os ombros, e quando ergueu a cabeça, o sol da manhã refletiu em seus olhos escuros. Andrew sentiu o peito apertar de repente, como se algo dentro dele despertasse após anos de silêncio.
— Pare aqui. — Sua voz soou mais firme do que pretendia.
O motorista encostou o carro ao lado da calçada. Andrew não desceu; apenas observou. A moça colocou os livros sobre uma pequena mesa na entrada da livraria e, com um gesto delicado, ajeitou uma mecha rebelde atrás da orelha. Não parecia notar ninguém ao redor.
Era diferente de todas as mulheres que Andrew conhecera. Não havia maquiagem pesada, nem joias chamativas, nem roupas caras. Ainda assim, havia nela uma presença que o desarmava. Talvez fosse a serenidade com que se movia, ou a expressão suave do rosto que parecia esconder histórias não contadas.
Ele permaneceu ali por alguns minutos, imóvel, como se temesse que qualquer movimento pudesse quebrar aquele feitiço silencioso.
— Senhor Donovan? — a voz do motorista quebrou o transe. — Deseja que eu estacione?
Andrew respirou fundo, recostando-se no banco. — Não. Continue.
O carro voltou a se mover, e a livraria desapareceu no retrovisor. Mas a imagem da moça permanecia gravada na mente dele com clareza inquietante. Por que aquilo o abalava tanto? Não era um homem de se impressionar facilmente. Mulheres belas sempre circularam ao seu redor, atraídas pelo poder, pela riqueza, pelo mistério que ele cultivava. Mas aquela… aquela era diferente.
O coração ainda batia acelerado quando chegaram ao edifício luxuoso onde morava. Andrew subiu para o apartamento e, ao abrir as cortinas da sala ampla, deixou que a luz inundasse o espaço frio e silencioso. Largou a pasta sobre a mesa, retirou o paletó e caminhou até a estante repleta de livros que nunca lera.
Sentou-se em uma das poltronas de couro e apoiou a cabeça nas mãos. Tentou retomar a concentração nos negócios, nos compromissos do dia seguinte, mas era inútil.
O rosto dela voltava à sua mente como se tivesse sido desenhado a fogo. Os cabelos negros, o olhar profundo, o jeito angelical de quem parecia pertencer a um mundo completamente diferente do dele.
Pela primeira vez em muito tempo, Andrew sentiu que havia algo fora de seu controle. E, no fundo, teve certeza: não seria a última vez que a veria.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Yoh Asakura
Vamos lá, autora! Não nos deixe na mão!🤞
2025-08-19
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