Eu achei fácil manter a casa organizada; cada objeto em seu lugar, cada canto limpo, tudo sob meu controle. Caminhando pelo corredor que ligava o anexo à casa, eu me sentia satisfeita com a rotina tranquila. Mas parei na porta da cozinha. Meus olhos caíram sobre Andrew, distraído, fazendo carinho em Emma.
Era um gesto simples, quase imperceptível, mas senti uma pontada de algo que não era exatamente ciúme — aquele sentimento que surge quando você observa alguém… uma mistura de curiosidade e uma faísca de desejo que eu não podia ignorar. Observá-los assim, tão íntimos sem saber que eu via, me fez perceber como cada movimento deles carregava uma tensão própria, quase palpável.
Respirei fundo, tentando manter a calma, mas meu coração acelerado me denunciava. Ali, sozinha com meus pensamentos, me permiti observar mais um instante, cada toque, cada sorriso contido, cada gesto sutil… e era deliciosamente prazeroso vê-los assim.
Respirei fundo e decidi entrar na cozinha. Cada passo parecia consciente, calculado, mesmo que meu coração ainda batesse mais rápido.
— Bom dia! — disse, com um sorriso leve, tentando soar natural.
Andrew se virou, surpreso, e um sorriso se formou em seu rosto ao me ver. Emma também olhou, ligeiramente corada, e retribuiu o cumprimento com um aceno tímido.
— Bom dia, Carolina! — disse Emma, a voz suave, ainda com o calor do toque que compartilhara com Andrew.
A senhora Tiz, que aparecera discretamente atrás deles, sorriu de canto de boca, claramente divertida com a cena, e acenou:
— Bom dia, minha querida.
Depois que Emma e Andrew terminaram o café, eu e a senhora Tiz nos organizamos nas arrumações até que ela parou no meio da cozinha.
Ajeitou a barra do avental e bateu levemente as mãos, como quem concluía um pensamento.
— Ah, minha querida, hoje teremos que preparar um jantar mais caprichado. Mas vou precisar sair um pouco mais cedo… você acha que consegue fazer tudo sozinha? Preciso passar no médico esta tarde.
— Claro, eu sei cozinhar muito bem, pode deixar comigo — respondi sem hesitar.
Assenti com entusiasmo. Eu queria, de algum jeito, me ocupar… e, ao mesmo tempo, agradar. Passei a tarde inteira dedicada à cozinha com afinco. Cada prato, cada tempero, cada detalhe parecia carregar mais do que apenas a intenção de servir uma boa refeição. Era como se eu estivesse deixando um pedaço de mim em cada toque.
Quando Andrew chegou, o aroma já tomava conta da casa. Ele parou no batente da porta, surpreso, os olhos arregalados diante da mesa posta.
— Carolina… você fez tudo isso? — perguntou, com uma mistura de espanto e admiração.
Sorri, tentando soar leve, mesmo que por dentro estivesse vibrando com a reação dele.
— Quis dar uma folga para vocês. Assim, o jantar já está pronto.
Vi a surpresa dar lugar a um sorriso lento em seu rosto, e confesso que gostei do jeito como ele ficou ao me olhar.
— Agora, menina, pode descansar… você merece — disse ele.
Despedi-me com um sorriso e segui para o anexo. Ainda era cedo, então meus olhos vagaram pela estante até pousarem em um livro de capa discreta. Peguei-o ao acaso e li o título: Dominação Kitten.
Sorri de canto, surpresa. Abri-o no meio, curiosa, e descobri que a história era sobre uma dominatrix que se apaixonava por um submisso.
Me sentei, ajeitando o corpo na poltrona, e comecei a ler. A cada página, a sensação era de estar descobrindo um universo escondido, íntimo e proibido.
Eu ouvia ao fundo a conversa deles, mas não quis levantar. O livro estava bom demais para largar. Três horas se passaram até que as vozes cessaram, e logo depois escutei o som da louça sendo lavada.
Resolvi levantar da poltrona, já que ainda estava acordada, e fui até o corredor decidida a ajudar. Mas, ao me aproximar da cozinha, algo me fez parar no meio do caminho.
Andrew estava de costas, lavando a louça. A cena em si era banal… não fosse pelo detalhe em seu pescoço: uma coleira. Não era uma gargantilha ou adorno qualquer, era claramente uma coleira, daquelas que se usam em cachorros.
Mordi o lábio para segurar o riso e tentei não fazer barulho. Mas, como se tivesse pressentido, ele levou a mão até o pescoço e olhou rápido na direção da porta. Gelei. Me escondi instintivamente e dei alguns passos para trás, voltando pelo corredor sem chamar atenção.
De novo sentada na poltrona, fiquei com o coração disparado. O que aquilo significava? Olhei para o livro em meu colo e me lembrei de um trecho em que o submisso era punido por não usar a coleira.
Minha curiosidade explodiu. Peguei o celular e comecei a pesquisar acessórios de BDSM. Uma infinidade de coleiras apareceu na tela, de todos os tipos: couro, metal, com argolas, com fechos delicados ou pesados.
Será que Andrew e Emma eram… como os personagens do livro?
Mordi o canto do dedo, indecisa. Se alguém podia saber, era a senhora Tiz. Ela trabalhava ali há mais tempo, sempre parecia notar mais do que dizia. Talvez ela tivesse respostas.
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Atualizado até capítulo 30
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