VOYEUR
Saí de casa com passos lentos, a cabeça baixa e o coração apertado. A manhã clara parecia zombar do peso no meu peito; a dor na costela latejava a cada respiração, lembrança cruel da noite anterior. Meu pai, embriagado e furioso, havia descarregado em mim toda a raiva que guardava por me achar um estorvo. Toquei a região machucada com cuidado, sentindo a pontada insistente que se recusava a passar.
O ar frio cortava minha pele, mas eu precisava continuar. Precisava de um emprego, qualquer emprego, e a urgência me empurrava pelas ruas da cidade. Segurava os currículos amassados com força, alguns já marcados por lágrimas discretas, enquanto entrava em pequenas lojas oferecendo meu nome e minhas qualificações, tentando soar confiante mesmo quando meu corpo tremia.
Cheguei à agência de empregos com o coração disparado. O corredor parecia interminável, cada passo carregando o peso da noite anterior e a necessidade de recomeçar. Entreguei o último currículo com mãos trêmulas, mas ainda sentia uma determinação firme nos olhos — mesmo com a dor insistente na costela.
— Acho que tenho um trabalho para você, querida — disse a mulher, aparentando ter uns sessenta anos, sorrindo de forma calorosa. — É em uma casa, e você precisaria pernoitar. O que acha?
Engoli em seco, sentindo a pontada na costela me lembrar da minha fragilidade, mas uma curiosidade inesperada me atravessou.
— Está bem… eu aceito — disse, a voz firme apesar do nervosismo. — Quando podemos começar a entrevista?
A mulher sorriu mais abertamente e inclinou-se levemente:
— Perfeito, querida. Podemos começar agora mesmo, se você estiver pronta.
Respirei fundo, tentando afastar o frio que percorria meus braços e pernas. Cada passo para dentro da sala de entrevistas fazia meu coração disparar, a dor na costela misturando-se com uma tensão estranha, quase elétrica. Mas havia determinação em mim; precisava desse emprego, desse recomeço… e, talvez, algo me dizia que aquele momento poderia ser muito mais do que apenas trabalho.
— Perfeito, querida. Podemos começar agora mesmo, se você estiver pronta — disse Elizabete, o sorriso caloroso não deixando transparecer nada além de confiança.
Balancei a cabeça, tentando controlar a pontada na costela e a ansiedade que queimava no meu peito.
— Estou pronta — respondi, a voz firme, mesmo que minhas mãos ainda estivessem trêmulas.
Elizabete inclinou-se levemente, apoiando as mãos sobre a mesa. — Esse é apenas o primeiro passo, Carolina Lucy Fernandes. — A forma como disse meu nome fez um arrepio percorrer minha espinha. — Para a vaga, você precisará ir a uma empresa, fazer a entrevista diretamente com a pessoa que disponibilizou a oportunidade.
Engoli em seco, sentindo meu coração disparar. — Entendo… — disse, tentando parecer calma, mas havia um nervosismo que não conseguia esconder.
Ela sorriu de forma quase maternal, mas havia algo mais, algo que não conseguia definir. — Não se preocupe, querida. Eu vou te orientar sobre tudo que precisa saber. Mas quero que se prepare: essa segunda entrevista é muito importante.
Assenti, sentindo uma mistura estranha de medo e excitação. Cada palavra de Elizabete carregava um peso que eu não sabia explicar. Algo dentro de mim sabia que aquele trabalho, aquela chance… poderia ser muito mais do que parecia.
— Eu vou me preparar, senhora Elizabete — disse, tentando manter a voz firme, sentindo a tensão crescer por todo o corpo.
Ela sorriu novamente, como se tivesse visto além do meu esforço para parecer controlada. — Ótimo, querida. Tenho certeza de que você vai se sair bem.
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Atualizado até capítulo 30
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