...A manhã passou e chegou a hora de ir almoçar, denovo com todos a mesa, Don Antônio, Lara, Vitório, Lúcio, Lídia e Polyanna e rezar para sair da mesa sem morrer ou se deixar enredar em algum plano macabro....
O almoço na mansão estava quase no fim. Francesca, de pé ao lado da mesa, ajudava as meninas a terminarem a refeição. Lídia e Pollyanna brincavam baixinho, mas cada gesto era medido, cada olhar carregado de significados invisíveis. Lara e Don Antônio conversavam baixo, mas era claro que trocavam mais olhares do que palavras, e Francesca sentia-se observada, avaliada a cada movimento. O peso daquela presença era quase tangível, e ela sabia que ali nada era apenas casual: tudo era estratégia, teste e julgamento.
De repente, Don Antônio pousou o garfo, limpou a boca com o guardanapo e olhou direto para Francesca. O silêncio da sala tornou o momento quase sufocante.
— Francesca… — a voz dele era grave, mas serena, carregando uma autoridade natural que fazia com que o coração de Francesca batesse mais rápido. — Preciso que me traga o estojo preto que está no meu escritório.
O pedido soou simples, mas Francesca sentiu um arrepio. Sabia que, naquele lugar, nada era simples. Cada comando carregava intenções escondidas, testes ocultos. Ela hesitou, sentindo o olhar de Lara perfurar sua postura.
— O senhor quer que eu…? — começou, a voz levemente trêmula sem saber ao certo como reagir.
— Isso mesmo. — ele interrompeu, firme, mas sem levantar o tom. — Gaveta de baixo, lado direito da minha mesa. Pode ir.
Ela assentiu, respirando fundo antes de atravessar o corredor. Cada passo parecia ecoar, amplificando o peso da expectativa. As paredes da mansão, repletas de quadros antigos e móveis de valor inestimável, pareciam observá-la. O som de seus próprios passos se misturava com a tensão no ar.
Entrou no escritório e parece que o ambiente sombrio a sufocou mais ainda.
Respirou fundo e falou para si mesma.
"Para Francesca é só uma sala'
Ao abrir a gaveta indicada, seus olhos se depararam com o estojo preto. Ao lado dele, um maço de dinheiro e uma pistola que ela reconheceu de imediato descansavam sob a luz suave que entrava pela janela. O coração de Francesca disparou. A tentação de olhar mais, de entender cada detalhe, queimava como fogo, mas ela se conteve. Sabia que qualquer erro poderia ser interpretado como falta de confiança ou curiosidade perigosa.
— Vai pegar ou vai ficar aí parada? — a voz de Lúcio Lucchesi ecoou na porta, suave e venenosa. Ele estava encostado no batente da porta, observando cada movimento. O simples tom de reprovação fez o sangue gelar. Como ele abriu a porta e eu não reparei.
— Só estou verificando se é o estojo certo. — respondeu Francesca, controlando a respiração e mantendo a postura.
Lúcio sorriu de forma quase imperceptível.
— Inteligente. Aqui, um segundo de distração pode custar caro.
Ela pegou o estojo e fechou a gaveta com cuidado, passou por Lúcio, sentindo a tensão diminuir levemente à medida que retornava pelo corredor. Cada passo de volta ao salão de jantar parecia medido, como se estivesse marchando em um campo minado de olhares e julgamentos silenciosos.
Ao chegar à sala, entregou o estojo a Don Antônio. Seus dedos tremiam levemente, mas o rosto permanecia neutro. Ele abriu o estojo com destreza, revelando apenas papéis importantes e um anel de sinete. Um símbolo discreto de poder, tradição e responsabilidade.
— Não faltou nada? — perguntou, mantendo o olhar fixo nela.
— Apenas o que o senhor pediu. — Francesca respondeu, segurando o olhar.
Don Antônio assentiu, e um leve sorriso surgiu em seus lábios, quase imperceptível, mas carregado de aprovação.
Lara, ao lado dele, cruzou os braços, trocando um olhar rápido com o marido. Ambos sabiam que Francesca havia passado no segundo teste, mas também entendiam que a verdadeira prova ainda estava por vir. A matriarca sentiu a pontada de ansiedade típica de quem sabe que confiar é preciso, mas que cada passo adiante carrega riscos imensuráveis.
Francesca sentiu uma breve sensação de alívio, mas logo a consciência de que isso era apenas o começo voltou a apertar seu peito. A pistola de Lara e o dinheiro não eram apenas objetos — eram símbolos de poder, confiança e, ao mesmo tempo, perigo. Cada detalhe da mansão, cada olhar de Lara ou de Lúcio continha mensagens ocultas que Francesca precisava aprender a decifrar.
Enquanto guardava os pratos com as meninas, sentiu o olhar atento de Vitório. Ele se aproximou, apoiando a mão em seu ombro.
— Você se saiu muito bem — disse em tom baixo, mas firme. — Mas lembre-se: este é só o começo, eles vão continuar te testando.
Ela assentiu, sentindo-se fortalecida pelo apoio dele, embora soubesse que ele não poderia protegê-la de todos os perigos que a cercavam. No fundo, Francesca percebeu que a força que precisava desenvolver seria tão interna quanto externa: a capacidade de ler as pessoas, antever movimentos e manter a calma mesmo quando tudo ao redor parecia conspirar contra ela.
Mais tarde, ao revisitar cada detalhe em sua mente, Francesca percebeu que aquele teste do Don não era apenas sobre confiança ou dever — era sobre percepção, estratégia e coragem. Ela precisava aprender a agir sob pressão, sem demonstrar fraqueza, e ainda manter a postura adequada diante de olhares calculistas que buscavam qualquer sinal de vulnerabilidade.
Lúcio permaneceu em silêncio, mas o sorriso discreto nos cantos de sua boca indicava que ele estava satisfeito com a tensão que conseguira gerar. Ainda assim, ele não sabia que Francesca estava aprendendo rapidamente, e que cada desafio enfrentado apenas aumentava sua determinação e confiança.
O dia terminou com um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som distante do vento batendo nas janelas e pelo farfalhar das cortinas. Francesca se sentiu exausta, mas fortalecida. Ela sabia que, na mansão Maori, cada gesto contava, cada decisão tinha consequências, e cada erro podia ser fatal.
No final, uma certeza permaneceu clara em sua mente: sobreviver ali exigia muito mais do que obediência. Exigia inteligência, coragem e a capacidade de manter a serenidade em meio à tensão. E Francesca, naquele primeiro teste do Don, começava a perceber que estava pronta para encarar os desafios
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 79
Comments
Marcia Emerich
É aperto de todo lado.
2025-08-25
2