O café da manhã na mansão Maori era mais silencioso do que qualquer biblioteca. Cada movimento, cada gesto parecia medido, como se os corredores observassem cada um que por ali passasse. Francesca entrou carregando uma das bandejas, ajeitando os pratos com cuidado, enquanto as meninas — Lídia e Pollyanna — disputavam baixinho um pão.
— Meninas… — murmurou, com um sorriso calmo, separando a disputa. — Tem o suficiente para as duas.
Elas se entreolharam, envergonhadas, e voltaram a mastigar em silêncio. Francesca respirou fundo, sentindo uma pontada de alívio por conseguir amenizar aquele primeiro conflito do dia. Mas podia sentir a tensão do ambiente, será que ia se acostumar com esse clima pesado?
Don Antônio entrou ao lado da esposa, imponente, poderoso e Lara nem precisa olhar para impor seu domínio.
— Bom dia. — A voz grave de Don Antônio cortou o ar. Ele sentou à cabeceira, ao lado de Lara, que lhe servia o café como se fosse um ritual íntimo e solene, cada gesto carregado de reverência e controle.
— Bom dia, senhor… senhora. — Francesca respondeu, mantendo a postura ereta e a voz firme.
Lara ergueu o olhar lentamente, estudando-a da cabeça aos pés, avaliando não só sua postura, mas sua coragem silenciosa.
— Dormiu bem, Francesca? Ou ficou pensando no teste que não conseguiu fazer? — perguntou com um meio sorriso, que não chegava aos olhos.
Francesca engoliu a tensão que subiu pela garganta.
— Dormi o suficiente para estar pronta para o dia, senhora. E prometo tentar não levar um tiro no primeiro dia.
Don Antônio pousou a xícara, os olhos percorrendo ora Lara, ora Francesca, como quem mede forças invisíveis.
— O que importa é que todos aqui saibam o próprio lugar… e se mantenham nele. — disse, num tom calmo, mas carregado de aviso.
Francesca apenas assentiu, voltando a servir o suco das meninas, mas sentiu o peso do olhar de Lara cravado em suas costas, como se cada passo pudesse ser julgado. Ela se obrigou a respirar lentamente, concentrando-se no aroma do café recém-passado e no som dos pequenos talheres sobre os pratos, tentando manter a compostura.
Do lado oposto da mesa, Lúcio Lucchesi mexia o café com movimentos lentos, observando Francesca de soslaio. Seu sorriso discreto, mas calculado, transmitia uma mensagem clara: ele via tudo, sabia mais do que mostrava e esperava que ela cometesse qualquer deslize.
— Saber o próprio lugar é fundamental… mas às vezes é útil mudar de posição para ter a melhor vista. — comentou, como se lançasse um enigma que só ele entendia.
Antes que Francesca pudesse responder, Lara levantou a mão, encerrando o assunto.
— Lúcio, guarde seus enigmas para outra hora. Você sabe que Don Antônio presa a tranquilidade a mesa.
O restante da refeição transcorreu entre silêncios pesados, quebrados apenas pelas vozes das meninas e o tilintar ocasional de uma colher na porcelana. Francesca sentia cada detalhe: o jeito que Lara inclinava a cabeça, o leve franzir de sobrancelhas de Don Antônio, o sutil movimento dos lábios de Lúcio, que parecia sempre saber mais do que revelava.
Mais tarde, enquanto acompanhava Lídia e Pollyanna ao jardim, Francesca cruzou com Melinda, que arrumava flores em um vaso. A mulher sorriu, mas o olhar afiado revelava intenções ocultas.
— Aqui, quem fala demais perde rápido a voz. — disse baixinho, como se cada palavra fosse uma arma. Tome muito cuidado menina, senão você pode perder a cabeça rápido.
Francesca segurou a mão de Lídia, olhando diretamente para Melinda, mantendo o tom sereno e firme:
— E quem fala pouco… às vezes é esquecido. E fique tranquila que sei me cuidar.
Melinda inclinou a cabeça, sorrindo de canto, como se estivesse avaliando cada gesto da jovem.
— Vamos ver quanto tempo a senhorita aguenta antes de tropeçar e se não fizer aliados ficará no chão.
Francesca percebeu a ameaça velada, mas não se intimidou. Cada palavra de Melinda era uma provocação, um teste silencioso que indicava que nada na casa era casual. Ela se manteve calma, respirando fundo, sentindo o vento no rosto e o cheiro de terra molhada do jardim, como se fossem âncoras para sua mente.
Vitório apareceu nesse momento, aproximando-se com passos silenciosos.
— Gosto de ver você com elas. — disse, observando-a interagir com as meninas. — Mas não gosto de ver como alguns olham para você aqui dentro se precisar de ajuda não existe em me chamar.
— Eu sei me virar, Vitório. — respondeu Francesca, olhando de relance para a mansão. — Só preciso aprender rápido… porque esse jogo já começou.
Vitório sorriu levemente, segurando a mão dela por um instante. O gesto era de proteção, mas também de lembrança de que ali dentro, a qualquer descuido, podia haver armadilhas.
Enquanto o casal conversava, Leonardo surgiu discretamente ao lado da porta do jardim. Observava tudo com atenção, o semblante sereno, mas o olhar carregado de astúcia. Cada troca de palavras, cada gesto de Francesca, cada movimento de Melinda e Vitório era registrado mentalmente. Ele sorriu levemente para si mesmo, como se tivesse feito uma jogada de mestre silenciosa, e se afastou sem ser notado, deixando no ar a sensação de que nada acontecia por acaso.
Francesca respirou fundo, percebendo que a mansão era um tabuleiro de xadrez gigante. Cada pessoa ali tinha suas intenções, suas peças em movimento, e cada passo dela seria observado, avaliado e usado de acordo com o objetivo de cada um.
Mas ela não pretendia se tornar apenas um peão usado pelos outros, queria fazer suas próprias jogadas e quem sabe aprender a sobreviver neste mundo sem perder a cabeça.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Marina Alves Santos
então somos 2 até agora nada entendi 🤷🏽♀️🤷🏽♀️🤷🏽♀️🤷🏽♀️
2025-09-12
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Fernanda Aparecida
até agora não entendi nada
2025-09-12
0
Claudia
Úall quantos enigmas 🧿♾
2025-09-10
0