O Jogo do Rato e Gato

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Guilherme sentiu um nó na garganta.

E perguntou a pequena Helena,

- Sua mãe desapareceu há quanto tempo exatamente?

- Duas semanas e dois dias... Helena respondeu imediatamente, como se contasse cada hora desde então.

- Ela saiu para uma reunião importante e disse que voltaria para o jantar. Deixou dinheiro para a pizza e me disse para não abrir a porta para ninguém.

- Esperei dois dias antes de sair para procurá-la.

- Você tentou ir à polícia? Helena balançou a cabeça vigorosamente.

- Minha mãe sempre dizia que há pessoas más, até nos lugares que deveriam ser seguros. Ela me ensinou a confiar apenas no meu instinto, e nas pessoas que mostram verdadeira bondade, não apenas palavras bonitas.

Ela continuou conversando e Guilherme ficou impressionado com sua articulação e maturidade.

- Senhor Guilherme, posso fazer uma pergunta pessoal?

- Claro!

- Por que você me ajudou? A maioria dos adultos ricos que vejo na rua fingem que crianças como eu não existimos.

A pergunta o pegou desprevenido. Guilherme lutou para encontrar uma resposta honesta.

- Eu... Não sei explicar completamente. Quando vi o medo em seus olhos e aquele homem se aproximando, algo dentro de mim reagiu instintivamente.

Helena o estudou com aqueles olhos perspicazes.

- Você também já se sentiu sozinho e assustado, não é?

A observação da menina foi como um raio iluminando cantos escuros de sua alma, que Alexandre havia selado há décadas.

Ele havia construído sua identidade em torno do controle e da autossuficiência, mas Helena havia identificado a solidão profunda que ele escondia por trás do sucesso material.

- Sim, admitiu finalmente.

- Já me senti assim!

Helena assentiu com sabedoria, além de seus 07 anos.

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Lá fora, a tempestade continuava rugindo, mas dentro daquela casa de campo, duas almas solitárias haviam encontrado um refúgio temporário uma na outra.

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Guilherme acordou antes do amanhecer, um hábito desenvolvido ao longo de décadas, construindo seu império empresarial.

Encontrou Helena ainda dormindo no sofá, envolvida no cobertor de cashmere que ele havia oferecido na noite anterior.

Ela parecia tão pequena e vulnerável que ele sentiu uma onda protetora varrer seu peito, um sentimento estranho e poderoso que o desestabilizava.

Enquanto preparava café, Guilherme refletiu sobre as opções disponíveis.

Sua mente estratégica, acostumada a resolver problemas complexos, trabalhava para encontrar a melhor solução para Helena.

A resposta mais óbvia parecia ser encontrar um abrigo adequado onde ela pudesse ficar segura enquanto as autoridades investigavam o desaparecimento de sua mãe.

- Bom dia, Helena disse suavemente, aparecendo na cozinha com os cabelos bagunçados e os olhos ainda sonolentos.

- Bom dia... Dormiu bem?

- Melhor do que nas últimas semanas, admitiu ela, aceitando o copo de leite morno que Guilherme ofereceu.

- Obrigada por me deixar ficar aqui. Guilherme sentou-se à mesa de jantar, observando Helena beber o leite com pequenos goles cuidadosos.

— Helena, precisamos conversar sobre o que fazer a seguir. Não posso deixar você nas ruas, mas também não posso ignorar que você precisa de cuidados adequados e proteção oficial.

O rosto de Helena se fechou imediatamente e Guilherme viu o medo retornar aos seus olhos.

- Você vai me levar para um abrigo?

- Existe um lugar muito bom na cidade, com profissionais treinados e...

- Não! Helena interrompeu, levantando-se tão rapidamente que derrubou a cadeira.

- Por favor, senhor Guilherme, você não entende... Não ouviu o que te falei ontem a noite?? Eles sempre me encontram nos lugares oficiais.

Guilherme ficou perplexo com a reação intensa da menina.

- Como assim eles te encontram? Helena começou a andar de um lado para o outro, suas pequenas mãos gesticulando nervosamente.

- Na primeira semana depois que minha mãe desapareceu, eu tentei ir a dois abrigos diferentes. Toda vez, no dia seguinte, o homem de terno preto aparecia nas proximidades... Uma vez, ele até conversou com uma das assistentes sociais, dizendo que era meu tio e que estava me procurando.

A revelação foi como um balde de água fria. Guilherme percebeu que a rede que perseguia Helena era muito mais sofisticada do que havia imaginado.

Eles tinham informantes ou acesso a sistemas que lhes permitiam rastrear movimentos através de canais oficiais.

- Isso significa que há alguém dentro do sistema trabalhando com eles, murmurou Alexandre, mais para si mesmo do que para Helena.

- Exatamente! confirmou ela, demonstrando novamente sua capacidade perturbadora de compreender situações complexas.

- Minha mãe sempre dizia que quando você não pode confiar no sistema, precisa ser mais inteligente que ele.

Guilherme passou a mão pelos cabelos, sentindo o peso da responsabilidade que havia assumido. Sua vida meticulosamente organizada não incluía planos para proteger uma criança de uma conspiração que se estendia até instituições supostamente seguras.

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E a notícia do desaparecimento da jornalista Júlia finalmente chegou às manchetes, embora de forma discreta.

Era um sinal de que os criminosos queriam abafar o caso, mas a história de Guilherme e a fuga de Helena já era uma outra trama.

Eles sabiam que não podiam confiar nas autoridades comuns, pois a corrupção havia se infiltrado em todos os níveis. A única esperança era encontrar alguém acima do sistema.

Guilherme ligou para um velho amigo da família, um promotor federal conhecido por sua integridade e por ser implacável com criminosos de colarinho branco.

O nome dele era Dr. Miguel Almeida. Guilherme sabia que ele era o único que poderia ajudar.

O encontro foi marcado em um lugar público e discreto, longe de qualquer escuta.

Guilherme explicou a situação, mostrando a foto de Helena e a de Marcos, o homem que a perseguia.

Ele omitiu os detalhes mais perigosos para proteger Dr. Miguel, mas o promotor entendeu a gravidade da situação.

- Guilherme, você está se metendo em um ninho de vespas, alertou Dr. Miguel.

- Essa gente não tem limites. Mas se a história de Júlia for verdade, o que me parece ser, então temos que fazer algo. Eu farei minha própria investigação, mas sem envolver as autoridades locais. Vamos agir nas sombras. Você e seu amigo, o ex-policial, têm que agir como meus olhos e ouvidos.

Enquanto isso, na casa de campo, Helena estava entediada.

Sua mente brilhante não podia ficar parada.

Ela pediu a Guilherme acesso à internet, usando a desculpa de fazer a lição de casa. Na verdade, ela estava buscando informações sobre a mãe.

Ela conseguiu acessar o computador de sua mãe remotamente e encontrou arquivos criptografados.

Helena passou a noite decifrando os códigos.

Ela era um gênio e, para sua surpresa, o código era uma homenagem a um antigo jogo de tabuleiro que ela e sua mãe amavam.

Ao decifrar a última parte, ela encontrou o que parecia ser a chave para todo o mistério: uma lista de nomes de empresas, todas pertencentes a figuras públicas de grande poder, e um nome em especial que se destacava: o Senador Lázaro.

A lista era acompanhada de uma coordenada de GPS e um arquivo de vídeo. Helena abriu o vídeo e viu sua mãe, Júlia, gravando um depoimento para caso algo acontecesse.

A gravação era curta, mas assustadora.

- 📽🎞 Se você está vendo isso, significa que estou em perigo. Ou pior. A rede de corrupção atinge o topo do poder.

- 📽🎞 O principal nome é o do Senador Lázaro. Ele está por trás de tudo. A coordenada é o local onde guardei as provas. Cuidado, Helena. Eles sabem de tudo, mas não sabem onde estão as provas.

A pequena garota sentiu o coração bater mais forte. Sua mãe estava viva e havia deixado uma pista.

Ela correu para mostrar a Guilherme.

O rosto dele ficou pálido ao ver o vídeo e o nome do Senador Lázaro.

- Helena, você acabou de encontrar o elo que faltava, ele disse, chocado.

- Nós estamos em uma guerra contra o maior político do país.

Guilherme e Ricardo agora tinham um alvo.

Eles sabiam que a vida de Júlia e a de Helena dependiam de encontrar as provas antes que os criminosos as destruíssem. A caçada estava oficialmente aberta.

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