Isabela narrando
Eu juro que nunca pensei que acordar cedo poderia doer tanto. O despertador mal tocou e eu já estava com a sensação de que tinha levado uma surra. Talvez fosse a ansiedade da noite anterior, talvez fosse só o peso de saber que meu destino agora estava oficialmente nas mãos do homem mais arrogante que eu já conheci. Enzo Valentin, o CEO, o chefe, o carrasco, o dono do meu novo inferno particular.
Isa: Bom dia, Isa, você consegue.
Eu disse para o espelho, tentando dar a mim mesma um discurso motivacional enquanto fazia um coque meio torto no cabelo. Se tinha uma coisa que minha mãe me ensinou era que tudo podia ser resolvido com fé, coragem e uma boa maquiagem. Eu só estava no lucro com a parte da coragem e da maquiagem.
Cheguei à empresa respirando fundo, determinada a não tropeçar logo na entrada, como da última vez. Olhei para o prédio enorme, brilhante, que parecia gritar riqueza e sucesso, e pensei em como eu definitivamente era um pontinho perdido naquele universo. Mas eu estava ali, pronta para provar que conseguia.
O problema era ele.
Eu já tinha sentido o peso daquele olhar atravessando meu corpo, como se ele fosse capaz de descobrir cada insegurança minha só de levantar a sobrancelha. Enzo era alto, elegante, e tinha aquele ar de superioridade que dava vontade de jogar café quente na gravata dele. O homem não precisava nem abrir a boca para parecer insuportável, mas quando abria, conseguia ser dez vezes pior.
Quando entrei no elevador e finalmente subi até o andar dele, minhas pernas já estavam meio bambas. Mas eu estava decidida, não ia deixar esse homem me destruir no primeiro dia.
Assim que cheguei, fui recebida por uma mulher sorridente, baixinha e com óculos grandes. Ela parecia animada demais para alguém que trabalhava naquele lugar.
Desconhecida: Você deve ser a nova, né?
Isa: Sim, sou eu mesma, a nova vítima.
Ela caiu na gargalhada e imediatamente senti que tinha encontrado uma aliada.
Desconhecida: Eu sou a Júlia, trabalho aqui há três anos. Já sobrevivi a um milhão de broncas, então se precisar de conselhos sobre como não ser engolida viva pelo chefe, é só falar comigo.
Isa: Pode me passar agora, por favor? Eu aceito qualquer ajuda.
Júlia: Fácil, regra número um, não respire perto dele quando ele estiver irritado. Regra número dois, não sorria demais, ele detesta gente feliz. Regra número três, corra quando puder.
Eu quase soltei uma gargalhada tão alta que teria ecoado pelos corredores. A Júlia definitivamente tinha um senso de humor parecido com o meu, e eu já sabia que seria minha primeira amiga ali.
Mas a paz não durou muito.
Enzo apareceu no corredor, com aquela postura ereta, passos firmes e expressão de quem tinha acabado de comprar metade do planeta. Ele não olhou para ninguém, mas parecia que todos olhavam para ele, como se o ar ficasse mais pesado só com a presença dele.
Enzo: Isabela, na minha sala agora.
Minha alma quase saiu do corpo. Olhei para Júlia como quem pede um abraço antes da execução, mas ela só sussurrou.
Júlia: Boa sorte.
Entrei na sala dele tentando manter a compostura. Era enorme, moderna, com janelas de vidro que mostravam a cidade inteira. O tipo de lugar que fazia a gente se sentir insignificante só de estar ali.
Enzo estava atrás da mesa, com uma pilha de papéis e um notebook à frente. Ele não me olhou imediatamente, apenas folheou algumas páginas como se eu fosse invisível. Quando finalmente ergueu os olhos, foi como um soco.
Enzo: Espero que você não me faça perder tempo, Isabela.
Isa: Claro que não, senhor, eu, eu vim para ajudar, para somar, para
Enzo levantou uma sobrancelha.
Enzo: Você costuma se enrolar assim sempre que fala?
Isa: Só quando estou nervosa.
Enzo: Ótimo, então parece que vou ter uma secretária nervosa todos os dias.
Eu quase engasguei tentando rir, mas percebi que não era hora.
Ele começou a me explicar algumas tarefas, como organizar a agenda dele, atender ligações importantes e preparar relatórios. Eu acenei com a cabeça, tentando parecer profissional, até que tropecei nas próprias palavras de novo.
Isa: Então eu preciso, eu preciso organizar os relatórios e agendar as reuniões sem, sem, sem…
Enzo: Sem gaguejar, de preferência.
Meu rosto queimou. Mas, por alguma razão, eu soltei uma risada.
Isa: Desculpa, eu não deveria rir, é que, é que, eu fico nervosa.
Ele me olhou como se estivesse tentando decifrar se eu era uma piada ou apenas incompetente.
Enzo: Você tem ideia de quantas pessoas já ocuparam essa cadeira antes de você?
Isa: Algumas?
Enzo: Mais de vinte. Nenhuma durou.
Engoli seco. Eu podia jurar que ele dizia aquilo só para me assustar, e talvez estivesse funcionando.
Isa: Bom, então talvez eu seja a vigésima primeira a provar que consigo.
Ele ergueu as sobrancelhas de novo, mas dessa vez com uma sombra de surpresa.
Enzo: Isso ainda veremos.
O resto da manhã foi um desastre disfarçado de tentativa de sucesso. Eu errei ao anotar os horários de uma reunião, quase deixei o telefone cair enquanto atendia uma ligação importante e, no meio de tudo, acabei rindo sem querer quando Enzo estava falando sério.
Enzo: Isso é engraçado para você, Isabela?
Isa: Não, senhor, não é, eu só tenho, eu tenho esse problema de rir em momentos errados.
Ele fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo e voltou ao trabalho, como se estivesse contando até dez para não me demitir ali mesmo.
A parte boa do dia foi a hora do almoço. Júlia me levou até o refeitório da empresa e passamos o tempo inteiro rindo das minhas trapalhadas.
Júlia: Você vai ver, Isa, ele parece um monstro, mas tem gente que diz que ele já foi até legal, antes de… bom, antes de alguma coisa que ninguém comenta.
Isa: Ele deve ter engolido a própria paciência em algum momento da vida.
Rimos tanto que quase nos atrasamos para voltar.
A tarde foi um pouco menos caótica, talvez porque eu já tivesse tomado três cafés e porque comecei a pegar o jeito. Mas, claro, não terminou sem uma bronca final.
Enzo: Isabela, se continuar assim, vai me dar dor de cabeça antes da semana acabar.
Isa: Mas dor de cabeça é sinal de que você ainda está vivo, senhor.
Ele me encarou, incrédulo, e por um momento eu pensei que ele fosse rir. Mas, claro, Enzo Valentin não ri.
No fim do dia, saí do prédio cansada, mas estranhamente feliz. Eu tinha sobrevivido ao meu primeiro dia no inferno, tinha feito uma amiga, levado umas broncas, mas também tinha mostrado que não ia desistir.
Isa: Um a zero para mim, Enzo Valentin.
Saí sorrindo, pronta para enfrentar o que viesse a seguir.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Leitora compulsiva
vamos ver quem sobreviverá a esse desastre ambulante em formato de mulher, literalmente me vejo nela hahahhahha sou igualzinha, tô me identificando mto com ela e rindo mto
2025-08-22
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