Lobão 🐺
O sol já tava se pondo no alto do Jacarezinho quando Lobão encostou na boca principal. Era dia de resolver B.O: cobrança de dívida, acerto de plantão, bronca em soldado folgado. Ele vestia uma camisa preta justa no corpo forte, a Glock na cintura e o olhar de sempre: gelado, atento, mandando sem precisar abrir a boca.
— E aquele otário que tava devendo o movimento? — ele perguntou pro Soldado novo, que tremia com medo de errar as palavras.
— Já foi resolvido, chefia… a gente pegou o mano na saída da viela e…
— Só quero saber se pagou. — Lobão interrompeu, sem paciência.
— Pagou sim, tudo certinho. Tava com dinheiro contado.
Lobão assentiu, tragando fundo o cigarro que acendeu ali mesmo, enquanto dois dos seus olheiros vinham passando as informações do dia. Era muita coisa na cabeça. Guerra se aproximando, polícia rondando, e o morro fervendo como sempre.
Mas aí, no meio daquela tensão, ela apareceu.
— Lobão!
A voz aguda ecoou na laje. Lobão nem precisou olhar pra saber quem era. Reconheceu na hora. Carol. A tal que se achava algo mais na vida dele. Que confundia foda com sentimento. Que se iludia achando que ele ia dar moral de "namorado".
Ele virou o rosto devagar, já com a testa franzida de raiva.
— Que porra cê tá fazendo aqui, Carol?
Ela se aproximou com o andar firme, cheia de marra.
— Cansei, Lobão! Tu me trata como se eu fosse qualquer uma. A gente fica há seis anos, seis anos, e tu nunca me assumiu! Nunca me postou! Nunca me levou num restaurante, num rolê! Nem no teu AP tu me deixa subir direito!
Os soldados que estavam por perto desviaram o olhar. Ninguém tinha coragem de encarar a cena. Quando mulher começava a dar show perto do Lobão, todo mundo sabia o que vinha depois.
Ele soltou a fumaça devagar, os olhos fuzilando.
— Tu tá achando que isso aqui é o quê? Reality show, caralho? Tu veio dar showzinho aqui na boca? Lugar de operação? Tu é doida, porra?
— Eu sou mulher, poxa! Eu quero respeito! Tu acha que eu sou uma puta? — ela falou alterada
Pronto.
Foi nesse momento que ele perdeu o controle.
Num impulso bruto, Lobão largou o cigarro e partiu pra cima dela. A mão pesada estalou no rosto de Carol com tanta força que ela caiu de lado na laje, gemendo. Os soldados não se mexeram. Era o chefe. E ali, ninguém interferia.
— TU É UMA PIRANHA! — ele berrou, com os olhos em chamas. — E piranha comigo só vem quando EU mando! Ninguém me cobra nada, porra! Tu quer respeito? Vai procurar em outro lugar! Aqui tu é só mais uma! RALA DAQUI AGORA!
Carol chorava, segurando o rosto, mas tentou rebater:
— Tu é um monstro, Lobão!
Ele só cuspiu no chão.
— E tu é otária. Porque só uma otária acha que ia ser a mulher de um cara igual a mim. some daqui antes que eu te deixe careca vagabund@
Ela saiu correndo, soluçando, enquanto Lobão virava de costas com o sangue fervendo.
— E se aparecer aqui de novo sem ser chamada, vai sair em saco preto piranha! — gritou por fim.
Silêncio total. ninguém falou nada e nem devia
Lobão ajeitou a cintura, puxou outro cigarro e voltou a resolver os B.O como se nada tivesse acontecido. Porque pra ele, mulher não dava ordem. E no mundo dele, quem mandava… era só ele.
Bruna
O ventilador girava preguiçoso no teto do salão, espalhando o cheiro de esmalte, creme e cabelo queimado. Bruna tava concentrada fazendo uma extensão de cílios, o olhar atento, os dedos leves como pena. O salão tava cheio, como sempre às sextas, quando as clientes queriam ficar bonitas pro fim de semana. Lari, do lado, lixava uma unha com a maior calma do mundo, até que a porta do salão se abriu com força demais pro gosto de Bruna.
Carol entrou toda espalhafatosa, com uma amiga atrás dela. A cara inchada, olho vermelho, e aquele ar de quem tinha chorado mais do que dormido. Bruna levantou os olhos só por reflexo, e já entendeu que o clima tava estranho.
— "Mano, ele me bateu na frente dos outros! Me chamou de piranha e mandou eu ralar da boca..." — Carol desabafou, jogando a bolsa na cadeira como se fosse um peso morto.
A amiga dela arregalou os olhos.
— "Cê tem que parar de peitar o Lobão, Carol... tá maluca? Tu vai acabar careca, mulher. Ele não tem pena nem da própria sombra."
Bruna trocou um olhar com Lari, que já fazia uma careta de desgosto. Era sempre assim. Toda semana uma história nova com essas mulheres que insistiam em se enfiar com homem de fuzil nas costas achando que ia sair final feliz.
— "Eu só queria que ele me assumisse como fiel, só isso, porra..." — Carol disse, tentando limpar as lágrimas com a manga da blusa. — "Seis anos que eu tô com ele... seis! E ele me trata como se eu fosse nada."
— "Mas tu é nada pra ele, Carol", a amiga respondeu fria, como quem já cansou de repetir a mesma coisa.
Quando as duas saíram do salão, Bruna soltou o ar que nem sabia que tava prendendo. Lari logo emendou, debochada:
— "Elas se humilham, depois choram... e depois voltam correndo se ele assobiar. É muita falta de amor próprio, mermã."
Bruna assentiu com a cabeça, puxando a cadeira pra outra cliente sentar.
— "Tem mulher que gosta de apanhar, de sofrer... e acha bonito. Vive falando mal de bandido, mas não larga. Acha que vai ser a exceção. Vai nada."
Lari deu uma risada curta.
— "O pior é que quando uma dessas some, ninguém nem pergunta. Sumiu, morreu, foi embora… só serve enquanto agrada."
Bruna ficou em silêncio por um instante, pensando na própria história. Sabia muito bem o que era perder alguém pro crime. Sabia o quanto essas relações com homem de fuzil eram perigosas — e ilusórias.
E, no fundo, sentia pena da Carol. Porque por trás daquela maquiagem borrada e da raiva que ela despejava, só tinha uma mulher carente, perdida… achando que amor era isso.
Mas ali, no salão, Bruna e Lari sabiam: respeito mesmo, não se implora. Muito menos pra homem que vive da guerra.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Marineide
Tá ficando boa a istoria
2025-08-15
0
Beatriz Silva
tem mulher q gosta de se rebaixar
2025-08-14
2